Qualquer brasileiro(a) de bom senso lastima o inferno astral que acometeu o jogador Neymar, envolvido num rumoroso caso de alegado estupro e de suposta agressão contra uma modelo que ele mandou buscar no Brasil para uma noitada em hotel de Paris. O golpe mais profundo veio ontem, quando o atleta foi cortado de participação na Copa América, depois de ter se sentido lesionado em campo nos primeiros minutos da partida amistosa contra o Qatar, em Brasília. O jogador recebeu solidariedade do presidente Jair Bolsonaro, que, inclusive, declarou acreditar na sua inocência diante das acusações feitas pela modelo, o que foi interpretado por alguns juristas como postura inconcebível para um chefe de Estado.
Bolsonaro, na verdade, nesse episódio, foi autêntico e deu vazão ao estilo “sem filtro”, na definição do ex-senador paraibano Ney Suassuna, amigo do presidente há décadas, vizinho de residência na Barra da Tijuca. Abstraindo essa parte, há o “drama Neymar”, que divide opiniões em todo o território nacional. Como já foi dito por alguns analistas, antes que a Justiça se pronuncie sobre o que realmente aconteceu em Paris, o “tribunal da internet” já deu seu veredicto, com amplas opiniões contra e a favor do ex-artilheiro da Seleção Canarinho. Algumas verdades foram ditas, como a que versa sobre o deslumbramento de Neymar com o status de celebridade a que foi alçado, sendo disputado como troféu, em altos valores financeiros, pelas melhores equipes de futebol da Europa. Também procede o ponto de vista de que Neymar age como “menino mimado”, o que é incentivado pelas atitudes gananciosas do seu pai, que age simultaneamente como agente financeiro do filho, porta-voz dele nas emissoras de rádio e TV e nas redes sociais e, ultimamente, advogado de defesa no caso das denúncias de estupro e agressão contra a modelo, reagindo com a tese de que ele (Neymar) é que foi agredido e, agora, está sendo vítima de um processo de extorsão.
Todos esses fatos são negativos, decididamente não repercutem bem (nem poderiam) para a história do futebol, consagrado como esporte-alegria das massas, muito menos para o histórico do jovem atleta que teve origens humildes e, como um foguete, tornou-se celebridade. Desde Copas de futebol anteriores sabe-se que Neymar nunca esteve preparado psicologicamente para a fama. Foi incentivado nesse script ou enredo não só por colegas, que ele chamava de “parças”, mas, igualmente, por técnicos e dirigentes da Seleção Brasileira que sempre “passaram a mão” na cabeça do jogador, relevando comportamentos inaceitáveis praticados por ele fora de campo e que afetavam, em última análise, o próprio rendimento profissional, tanto no aspecto psicológico como no condicionamento físico, que é imprescindível para jogadores de futebol.
Neymar contou com a cumplicidade leniente, em algumas de suas peripécias, de expoentes da própria crônica esportiva que faz a mídia, especialmente na televisão – ainda ontem, no calor dos acontecimentos, a TV Globo puniu um comentarista esportivo da sua equipe por ter se envolvido além da conta no “affair” que tem como protagonista o jogador da Seleção Brasileira. Quem resistiria a tanto aconchego, a tanta badalação, a tanta bajulação? Os mortais comuns são muito vulneráveis a demonstrações de agrado, de elogios, de puxa-saquismo mesmo. Neymar não seria diferente, até porque trilhou um caminho muito rápido, fulminante, em direção ao sucesso, ao equivocado paraíso que confere a fama por 24 horas, a que aludiu Woody Allen, verta vez, com bastante propriedade, não fosse o artista íntimo e profundo conhecedor do vai-e-vem do universo das futilidades, que é devastador para quem não tem estrutura psicológica mínima ou estofo moral e ético razoável para fazer frente às investidas, à paparicagem, a toda sorte de homenagens, de coisas compráveis com dinheiro fácil e ilusoriamente infinito.
Numa das inúmeras entrevistas que tem concedido, o pai de Neymar acusou setores da mídia de ignorarem, de má-fé, preocupações sociais e humanitárias do jogador filho, mencionando como parâmetro um Instituto que ele mantém para atender a pessoas carentes, especialmente crianças, além de estimular vocações para o esporte bretão. É uma avaliação equivocada do Neymar-pai. Esse lado solidário de Neymar-filho nunca foi omitido na publicidade geral que cerca o filho mito, muito menos foi olvidado pelos beneficiários dos projetos desenvolvidos sob seu estímulo ou talante. Para além de tudo isso, teria que haver coerência no exemplo do cidadão. Nesse capítulo, Neymar falhou fragorosamente, e este é o grande xis da questão que poucos querem encarar.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Polêmica Paraíba
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes