Imagine que você está dirigindo por uma estrada. O limite é de 80 km/h, mas quando passa por um detector de velocidade, o sinal registra que você está a 90 km/h. E logo depois da mensagem, surge a seguinte imagem: ☹
Aconteceu com a psicóloga Yasmine Kalkstein durante uma viagem. Dirigindo por Israel, ela sabia – e contou no blog do Decision Lab, um centro canadense de estudos sobre o comportamento – que estava acima do limite de velocidade, mas não resistiu a continuar correndo até ver a carinha de tristeza.
Kalkstein diz que a reação imediata foi tirar o pé do acelerador. Mais tarde, refletiu: será que os outros motoristas reagem igual e usar mais emojis diminuiria os acidentes nas estradas?
O trânsito é um problema no Brasil e em outros lugares. Os dados são desalentadores. Foram 1,35 milhão de mortes no mundo em 2018, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As campanhas de trânsito pregam a direção mais responsável, mas 2,3 milhões de brasileiros foram multados em 2017 porque estavam acima da velocidade.
Muitos países, inclusive o Brasil, além de fazer campanhas, usam detectores de velocidade para indicar aos motoristas que estão acima do permitido. Um estudo do Serviço de Pesquisas sobre o Trânsito de Londres em 2008 indica que funcionam.
Mesmo que a mesma informação já estivesse no painel do carro, quando observava a velocidade nas placas eletrônicas, a maioria dos motoristas reduzia a velocidade logo depois do aviso. Mas alguns lugares acham que mensagens mais criativas sensibilizam ainda mais.
Em Danville, nos Estados Unidos, que há um ano passou a ter emojis nos medidores de velocidade, o Departamento de Polícia Metropolitana diz que adotou a linguagem do momento para falar aos motoristas em vez de simplesmente dizer “vá mais devagar”.
Mas por que iria funcionar? Kalkstein, que também é professora de psicologia na Saint Mary College, lembra que ninguém quer passar vergonha em público. Temos mais facilidade para interpretar e reagir a rostos e expressões humanas, o que depõe a favor da carinha triste.
É o mesmo raciocínio da RTA, a entidade que cuida dos transportes e estradas de Dubai, onde os emojis são usados há quase dois anos. Para as autoridades, os emoticons, tanto tristes como felizes – que aparecem para os motoristas dentro da velocidade permitida – facilitam a comunicação, já que são conhecidos de todo mundo por causa do Whatsapp.
Além disso a RTA diz que as mensagens também foram inspiradas por estudos comportamentais. A ideia é que a mensagem personalizada chame mais atenção de cada motorista, produzindo um impacto mais direto.
É natural e esperado que novas ideias, surgidas de novas tecnologias, sejam incorporadas ao cotidiano. Entre os especialistas no trânsito, essas intervenções são comparadas a tratamentos médicos experimentais. Mas alguns resultados sugerem cautela no longo prazo.
No caso do estudo de Londres, por exemplo, o impacto mais forte durou duas semanas. Muitas pessoas passam todos os dias pelos locais dos avisos. Acabaram se acostumando com o alerta de que estão acima do limite. E então seguiram correndo.
Fonte: G1
Créditos: G1