Com os menores índices de chuva no País, vegetação típica da caatinga e clima Tropical semiárido, Cabaceiras, no Cariri paraibano, vem superando essas adversidades geográficas e potencializando suas riquezas naturais e econômicas. A valorização do artesanato em couro, a produção do leite, carne e derivados do bode e da cabra e o turismo são algumas benesses para a população que chega a pouco mais de 5 mil. Da próxima sexta-feira (31) até o domingo (2) acontece a 21ª Festa do Bode Rei, e para a gestão municipal o evento é uma coroação (ponto alto) da cadeia produtiva instituída no município. São esperadas 60 mil visitantes em três dias de festa.
Também conhecida como “Roliúde Nordestina”, por ter sido palco de mais de 30 filmes e séries, Cabaceiras fica a 202 quilômetros de distância da Capital. Além disso, está situada a 300 metros acima do nível do mar, na área mais baixa do Planalto da Borborema, na região dos “Cariris Velhos”. No local viveram os índios da etnia Cariri. No Centro da cidade estão localizados os casarios e igreja como a de Nossa Senhora da Conceição e São Bento, que tem mais de 300 anos de fundação e onde foram gravadas cenas do filme “O Auto da Compadecida”, de 2000, baseado na peça teatral de mesmo nome do dramaturgo, romancista e escritor paraibano Ariano Suassuna, falecido em 2014.
Na parte central ainda é possível encontrar a estátua do bode, que é o principal protagonista de Cabaceiras (quem visita geralmente faz três pedidos) e o Parque do Bode onde ocorre a Festa do Bode Rei, segundo conta Rosilene Nunes, uma das coordenadoras do evento. Os turistas que visitarão o município durante a programação da festa, que se inicia no turno da manhã, encontrará expofeira, gastronomia bodística, feira de artesanato, forró pé de serra, competições, seminários e show. Nesse período há geração de emprego e renda, o que ajuda bastante a economia local. “O que se fatura em três dias de festa, é o que vale para seis meses de trabalho no ano”, afirma.
Diferente do que ocorre em algumas festividades do Estado, a Festa do Bode Rei não contará com grandes atrações. De acordo com o vice-prefeito de Cabaceiras, Ricardo Aires, trata-se de um evento que consagra uma cadeia produtiva que está instituída no município. “O evento ele tem que coroar alguma coisa. Você não faz uma festa, coloca uma banda na rua e por nada. Então esse evento coroa essa cadeia produtiva que vem dando resultado. Mostra que o Nordeste tem solução, que mostra com dedicação e com esforço de todos, conseguimos o sucesso”, frisa.
Ainda de acordo com o vice-prefeito, é possível superar as dificuldades. “Nós costumamos dizer que Cabaceiras tinha tudo para dar errado. Nós estamos no semiárido nordestino, uma das regiões mais secas do mundo, nós tínhamos índices de mortalidade infantil muito grande, doenças que assolavam nossas comunidades, e Cabaceiras, em cima de uma dedicação, de um esforço de governo e de população consegue se sobressair e servir de exemplo para vários outros municípios”, frisa, destacando que contará com o apoio dos serviços de saúde e segurança.
Destaque em produtos de origem caprina
O município de Cabaceiras também tem se destacado pela produção de queijos e iogurtes feitos a partir do leite de cabra. “Nosso laticínio hoje trabalha com uma média de 3,5 mil litros de leite por dia. Atendemos 10 municípios. Em torno de quase 130 produtores entregam leite nesses municípios que têm um estande de recepção. Fazemos a coleta duas vezes por semana. Desses 3,5 mil litros de leite nós estamos transformando 5% em queijo e iogurte”, explica o gerente administrativo da Cooperativa dos Capribovinocultores de Cabaceiras e Região (Capribov), Henry Daniel Sousa Pombo, que destacou ainda que o iogurte começou a ser comercializado para as prefeituras de Cabaceiras, Santo André e Parari. No entanto, já há negociações com outras gestões municipais.
Ainda de acordo com o gerente administrativo, em 2008, a Capribov foi a maior produtora de leite de cabra da América Latina. “Chegamos a produzir 20 mil litros de leite por dia. Tivemos alguns altos e baixos e hoje estamos numa escala de 13 a 15 mil por ano”, frisa. Os principais compradores desse tipo de leite são os governos Estadual da Paraíba e Federal. “Eles compram em torno de 93% a 95% da nossa produção. Esses restantes nós estamos sonhando e transformando em queijos finos”, disse, acrescentando que a Prefeitura de Cabeceiras substituiu o leite de vaca por leite de cabra na merenda escolar. “Com esse leite ele faz a vitamina de banana ou abacate, o cuscuz com leite, o arroz de leite. Tudo isso estamos conseguindo e as crianças estão ficando super satisfeitas, nutridas e com saúde”, afirma.
Dentre os queijos produzidos estão o tradicional, tipo reino, defumado, banhado a vinho, com orégano, com chimichurri e com pimenta de aroeira. O queijo do reino tem sido um dos mais aprovados. Há mercados da Capital que recebem esses tipos de queijos, mas já mandou para os Estados do Pará e Alagoas. Já em relação ao odor que é típico da carne e do leite caprino, Henry Daniel comentou que é uma luta diária, mas é possível sim tirar esse cheiro peculiar. Com parcerias, informou que a Cooperativa implementou medidas simples e baratas como higienização diária do curral, instalação de plataforma de madeira para retirada do leite ao invés de acocorado (no ‘chão’) como antigamente e separação do bode das cabras. “Hoje o bode só vai para perto das cabras no período da monta ou da reprodução. Quanto mais o bode é bom, mas ele fede. Se ele fede é porque fica o tempo inteiro se urinando e a catinga fica no corpo dele”, disse.
Couro movimenta mais de R$ 1,2 milhão por mês
A produção do couro de origem caprina e bovina movimenta mais de R$ 1,2 milhão por mês na cidade de Cabaceiras. Organizados na Cooperativa de Curtidores e Artesãos em Couro de Ribeira (Arteza), curtidores, pouco mais de 70 associados, movimentam a economia local. José Carlos de Castro, mais conhecido por Carlinhos, é um dos fundadores do Curtume Coletivo Miguel de Sousa Meira, que foi criado em 1998. Ele conta as etapas necessárias para deixar o couro ideal, com ou sem pelos, para a confecção de roupas, calçados e bolsas. Além disso, o local está inovando, pois daqui a poucos dias as máquinas estarão funcionando por meio da energia solar. Mais uma alternativa sustentável aplicada em uma região que é ensolarada o ano inteiro.
O Pôr do Sol no Lajedo do Pai Mateus
Além do letreiro “Roliúde Nordestina”, que é um dos cartões postais da cidade e ponto de visitação de turistas, quem visita Cabaceiras também busca tranquilidade e contemplação da natureza. No fim de tarde, é possível assistir o Pôr do Sol no Lajedo do Pai Mateus. O local, que pertence ao grupo dos Sítios Geológicos e Paleontólogicos do Brasil (Sigep), há guias de turismo que apresentam as possíveis origens das formações geológicas dos blocos rochosos (matacões em formato arredondados). No Lajedo existem algumas rochas que se destacam como, por exemplo, a que tem a forma de um capacete e a que viveu Mateus – a lenda de um eremita que teria vivido no local no século XVIII e que atuava como curandeiro. Em alguns deles há pinturas rupestres – uma das formas de comunicação dos povos antigos. No final do passeio, os turistas assistem a um dos belos espetáculos da natureza – o Pôr do Sol.
Visita de jornalistas a Cabaceiras
No último sábado, um grupo de jornalistas de João Pessoa e de Campina Grande visitou Cabaceiras para acompanhar de perto os preparativos da festa. A equipe passou pelo letreiro cartão postal, pela estátua do bode onde as pessoas fazem três pedidos, igreja de Nossa Senhora da Conceição e São Bento, Parque do Bode, casarios, Arraial Popular onde tem a maior concentração de turistas durante a Festa do Bode Rei dançando forró, museu onde há objetos históricos, usina Capribov, Rancho da Ema – restaurante, Curtume Coletivo Miguel de Sousa Meira, Cooperativa Arteza e o Lajedo do Pai Mateus. A visitação foi organizada pela Associação Paraibana de Imprensa (API) com a Prefeitura de Cabaceiras.
Fonte: Portal Correio
Créditos: Aline Martins