Rubens Nóbrega

Hoje não tem história nem historinha. Lamento, mas não resisti em aproveitar o clímax dos conchavos políticos e convenções partidárias para provocar candidatos e candidatas. Provocar no melhor dos sentidos, claro.

Começo manifestando o quanto fico impressionado por constatar que nenhum dos candidatos a prefeito ou prefeita da minha cidade faz a menor referência a temas como o combate à corrupção e transparência de gestão do dinheiro e bens públicos.

Ajude-me aí, você, e mande dizer, por favor, se já ouviu, leu ou viu Maranhão, Cícero, Cartaxo, Estelizabel, Renan, Radical ou Lourdes tocando no assunto. Se aparecer alguma menção honrosa, consignarei.

Incrível, mas é como se todo mundo estivesse conformado ou essa história de corrupção estivesse tão banalizada quanto os crimes contra a vida e o patrimônio das pessoas.
Será que chegamos a um estágio no qual ninguém liga mais e este colunista, feito um imbecil, insiste em escrever sobre coisas às quais ninguém daria mais a menor importância?

Se for, ainda assim vou continuar malhando nesse ferro frio, dando murros na ponta dessa faca, enxugando esse gelo, fazendo por onde essa água mole pingar sobre essa pedra dura. Um dia…

Faço isso porque acredito de verdade que entre a maioria alheia e uma minoria interessada na safadeza tem muita gente boa trabalhando 24 horas por dia pra botar ordem nessa zona e este país nos eixos.

De qualquer modo, não deixa de ser preocupante e curioso atestar o silêncio ou omissão dos candidatos em torno de um troço dessa magnitude quando temos no páreo eleitoral deste ano propostas ou projetos pra todos os gostos e vontades.

Da extrema esquerda à extrema direita (ou o que nos parece ser isso) não sei de qualquer candidato interessado em levantar essa bandeira, de declarar guerra à roubalheira que corrói sem pena o que resta da moralidade pública.

Vez em quando ouço chavões e clichês tipo “planejar” ou “preparar” a cidade para o futuro próximo, mas nenhum disposto ou disposta a enfrentar e acabar com a corrupção. Pelo visto, até aqui não tem mesmo ninguém disposto a assumir o velho compromisso de tolerância zero diante das falcatruas e maracutaias que nos escandalizam quase diariamente.

Será que é porque eles ou elas teriam medo de repetir o retumbante fracasso (ou a estrondosa enganação) da promessa que oito anos atrás um candidato então com grande credibilidade fazia de resgatar o caráter público da administração municipal e deu no que deu?


Seria constrangedor

Compreendo que em alguns casos é muito complicado tratar o assunto. É como falar de corda em casa de enforcado. O candidato ou candidata teria dificuldade quase intransponível de incluir uma faxina na corrupção entre seus planos de governo.

Seja porque o próprio passado recente não deixa, o entorno não ajuda ou a realidade presente de apoiadores descredibiliza a intenção. Entendo que soaria falso, muito falso, esse tipo de discurso na boca desse(a) ou daquele(a) candidato(a).

Mesmo assim, não imagino uma campanha neste país, atualmente, sem um mínimo de abordagem sobre o problema que muitos especialistas apontam hoje como o principal da administração pública.

Da corrupção – eles e elas sabem muito bem disso – deriva boa parte dos outros problemas mais presentes ou mais perceptíveis ao senso comum, principalmente aqueles que dizem respeito ao cotidiano das pessoas que mais precisam do poder público.

Refiro-me, lógico, às questões que dizem respeito aos serviços públicos de saúde, educação, segurança pública, fomento ao emprego e empregabilidade etc.

Saúde, educação, segurança pública etc. são péssimos, ruins, meia boca etc. porque boa parte do dinheiro destinado a essas atividades é desviada pelos ‘esquemas’ e desse modo o público não tem esses serviços em quantidade e com qualidade.

Apesar de tudo, espero e torço, sinceramente, que a corrupção e a transparência de gestão façam parte do debate político nas eleições deste ano.

E rezo com todo o fervor que me falta para que o eleito ou eleita incorpore o tema como primado da nova gestão, reeditando a boa governança que esta cidade teve no século passado em umas poucas gestões. Se teve, pode ter de novo. Por que não?
Só pra lembrar

Na última pesquisa IpespeJP, perguntados quais seriam os maiores problemas da Capital, os moradores da Filipeia agoniada listaram os seguintes, por ordem de relevância:
– saúde, segurança pública, educação, calçamento, emprego, drogas, esgoto, transporte coletivo, trânsito, lixo, habitação, iluminação, meio ambiente e menor abandonado.
Viram? Ninguém falou em corrupção. É realmente impressionante.