DOIS TIROS E NENHUM CULPADO

RESGATE DA HISTÓRIA - Crime da Bambu volta a pauta paraibana quase cinco décadas depois: 'Quem matou o taxista?'

Após haver chocado a população paraibana há quase 50 anos, um crime até os dias atuais, sem solução, começa a ser trazido de volta à cena pública para lembrar que a justiça pode ter sido cega, até demais, quando julgou e absolveu cinco jovens de classe média/alta da João Pessoa na bem distante década de 1970.

Quem nos traz de volta o caso é o advogado aposentado, historiador, escritor e maçom, cajazeirense, José Caitano de Oliveira. Com importantes livros já publicados, dentre estes: A Saga de 1930 e o Doido da Parahyba e O Diário Secreto de Osias Gomes – A Morte Anunciada de João Pessoa, o agora teatrólogo estreante, chama a atenção de quem acompanhou à época o rumoroso caso e até hoje espera por um desfecho, bem como dos que sequer tem conhecimento do que realmente aconteceu!

Só para lembrar o caso

Em 21 de novembro de 1971 o Brasil vivia – conforme o próprio escritor acentua – o período das trevas! Vivíamos em plena ditadura militar, onde se sobrepunha o poder econômico, onde os mais abastados eram quem praticamente mandavam (ou achavam que podiam mandar) e onde tudo era possível. Foi naquele ano que cinco jovens da chamada classe alta de João Pessoa, assassinaram por motivo fútil, o taxista Francisco Delfino Sobrinho, que naquela madrugada aguardava passageiros frequentadores da então badalada Churrascaria Bambu, localizada no anel da Lagoa e ponto de encontro de boêmios, intelectuais, alcoólatras, advogados, políticos, escritores, jornalistas, um ponto cultural. Os cinco jovens: Luciano Bernardo, Fernando Milanês (Fernandinho – filho do dep. Fernando Milanês), Aristóteles, Tibério e Ronaldo Aragão, chegaram a churrascaria já por altas horas e começaram a beber. Bastante embriagados, resolveram sair dali e solicitaram o já reservado táxi que levaria outros frequentadores, – um pessoal de Natal-RN. Inconformados os matadores de Delfino, passaram a chutar o táxi, amassando bastante o veículo. Eles ainda tentaram retirar a força os passageiros, mas o taxista seguiu viagem, retornando mais tarde para cobrar uma reparação pelos danos causados, pois o veículo era alugado.

Segundo conta o autor da obra e, ainda, segundo os jornais da época, Fernando Milanês não aceitou as reclamações. Foi o mais agressivo, inclusive. Após espancamento, mataram o taxista, que estava casado a apenas cinco meses, ali mesmo dentro do carro com dois tiros – um na cabeça e outro do lado direito, no tórax. Três dos cinco envolvidos acabaram presos e dois fugiram (Ronaldo Aragão e Luciano Bernardo). O crime causou grande comoção e as ruas ficaram lotadas pelas pessoas que clamavam por justiça. Mais de cem taxistas foram as ruas exigindo a punição dos assassinos! Por fim, dos três presos, apenas um foi a júri – Luciano, com muitos advogados. Como resultado o réu foi absolvido por cinco votos a dois. A tese da defesa: Negativa de autoria e, por tanto, um crime sem autoria, um crime sem réu. Dessa forma ficou bastante difícil. A população indagava nas ruas: afinal, quem matou Delfino?

Dois anos depois, o então prefeito da Capital, Dorgival Terceiro Neto mandou demolir a Bambu por conta do sentimento de revolta e a cidade perdia um prédio histórico e cultural.

Perguntado qual o propósito de trazer à tona o caso da Bambu, José Caitano diz que não há nenhum interesse em denunciar ou denegrir imagem de quem quer que seja e que apenas recebeu uma proposta de um contratante (ao qual se reservou a não divulgar o nome) para que escrevesse um livro e montasse um espetáculo sobre o caso e que aceitou de pronto o desafio, por ser (ele) um escritor e por entender estar prestando um serviço à sociedade ao denunciar a impunidade na época e para que a sociedade de hoje tome conhecimento e, principalmente, para que outros casos não venham a se registrar (apesar de se saber que tantos outros ainda são registrados em pleno século XXI).

O Espetáculo

O espetáculo “O Crime da Bambu – Quem matou o taxista?” não tem pretensões, em momento algum, de ser um documentário e para tanto, o autor criou uma história cheia de elementos fantásticos, através da ficção para facilitar a narrativa abordando o tema com total leveza e até muito humor. Na peça, ele traz de volta o morto que retorna a sua Paraíba. O taxista aparece através de Caronte – o clássico barqueiro dos mortos na mitologia grega – personagem do clássico de Dante Aliguieri. Só que, nesse caso, Delfino vem do cosmos e cai na Lagoa. Ele quer saber quem o matou? A trama se desenrola entre diálogos travados por exemplo com um outro personagem fantástico, – o Espectro, um fantasma que também rodeia à lagoa. Surgem, ainda, a figura do diabo, representado pelo conhecido pirata da famosa bebida Rum Montilla e que diz não ser ele o culpado pela prática daquele ou de qualquer outro crime! O duelo final deverá acontecer entre justiça x diabo – quem ou o que causou o crime afinal? Não há até hoje nenhum assassino, afirma.

O trabalho está praticamente pronto. Quanto a sua montagem e estreia, isso dependerá das definições de quem irá dirigir o espetáculo, – que Caitano afirma já ter o nome, mas que até o momento em que escrevíamos esse texto, ele não havia confirmado – e só a esse diretor caberá a escolha de elenco. No final da nossa entrevista, Caitano afirma que ao escrever sobre o crime da Bambu está apenas resgatando a história.

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton