Não sei como alguém consegue perpetuar-se por 28 longos anos como político, sem sequer ter o chamado “jogo de cintura” para driblar opositores e amealhar mais adeptos aos seus projetos (se é que apresentou algum para tal) e se eleger e reeleger-se tantas vezes, alcançando o ápice das pretensões de qualquer homem público nesse país! Mas, o que parecia um feito impossível, acabou se concretizando, e agora temos um presidente eleito usando como discurso o culto a discriminação de minorias, a violência como solução ao medo que se instalou no Brasil, o racismo, o preconceito contra negros, mulheres, gays, além de outras práticas com as quais a maioria da população brasileira (votante e não votante) não concorda!
Estranhamente um político que trouxe na sua luta pela conquista do cargo mais alto, uma bandeira inflamada pelo ódio – que até para ele mesmo, parecia impossível uma vitória – surpreendentemente o levou a subir a tão cobiçada “rampa”!
Parece até que, uma população diferenciada e adormecida, aguardava tão somente alguém que a representasse em todos os ideais aqui acima já citados, e não deu outra! Aquele país dos desejos dessa fatia bastante raivosa da população, tornou-se realmente possível! Mas o grande líder e seus assessores mais diretos acabaram por cometer deslizes. Foram com muita sede ao pote e acabou provocando reações das mais diversas de esquerda, direita e centro e de até mesmo daqueles que não eram tão raivosos, mas que queriam mudar e acreditaram, também, num projeto que seria acima de todos e Deus acima de tudo!
O pacote de maldades que parece não ter fim, atacou de forma inclemente, a educação – até parece de forma propositada – com a indicação de dois ministros da Educação que parecem muito mais odiar o conhecimento e a formação, relegando qualquer possível avanço! O propósito será o de manter cidadãos cada vez mais ignorantes e fáceis de manipular! Pelo menos é isso que o governo deixa ficar mais claro a cada investida nas chamadas reformas que está propondo. No entanto, sinto que novamente começo a assistir ao mesmo filme em que por ventura um dia fui coadjuvante, ao lado de tantos outros jovens que pintaram suas caras para ir as ruas dizer não ao autoritarismo.
O diferente é que desta vez um governo que dita normas e não houve a voz do povo, sente que também viu o mesmo filme – mas apenas como alguém da plateia – e sabe que não é amado e que aqueles, antes apoiadores, já não concordam tanto assim com as suas ações de desmonte!
Dois movimentos executado pelo Capitão presidente nas peças do enorme tabuleiro de xadrez, nesta semana que está terminando, ameaçam colocar em xeque o governo, e isso assusta a todos os moradores e frequentadores das salas palacianas! Numa viagem forçada aos EUA, que segundo boatos, não foi fruto de convite de qualquer autoridade local e sim de uma autoconvocação, quando perguntado sobre os protestos realizados por alunos, professores, diretores de escolas e universidades além de outros segmentos representados, Bolsonaro – primeiro disse que era um direito – mas em seguida chamou a todos de “idiotas úteis” deixando claro que cientistas e pesquisadores, responsáveis pelo conhecimento e pela formação de novos profissionais, não têm a menor importância em sua concepção, pois se foram as ruas protestar, não podem ser cidadãos de bem!
A propósito do que estou falando, a antropóloga e professora universitária Débora Diniz criticou os cortes promovidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro – PSL na educação pública. Ela disse que os cortes podem promover uma “fuga de cérebros” do país. Na entrevista concedida ao jornalista William De Luca, do 247, a antropóloga disse, ainda, que os retrocessos na educação impacta todos os níveis de ensino. Ainda, segundo ela, o ministro da Educação, Abraham Weintraub não valoriza a pesquisa e a extensão.
Isso só reforça o que já está posto. Falta ao governante o jogo de cintura que falei lá no começo desse nosso comentário! Agora com as atitudes cada vez mais truculentas, amealha opositores, atrai a ira dos seus eleitores decepcionados que, de certa forma se consideram traídos e faz engrossar assim o cordão para os movimentos que só crescem a todo momento.
Em sua última pérola (pelo menos até o momento em que escrevo esse artigo) o chefe do Planalto distribuiu em grupos do WhatsApp um texto sinalizando uma renúncia ou um golpe de Estado. Ele usa a expressão “corporações” sem no entanto nomeá-las, quase num sinônimo das “forças ocultas” a que se referia Jânio Quadros ao renunciar, meses após tomar posse.
O Capitão, também, distribuiu um texto entre os seus aliados – no mínimo incendiário – sob o título “O rei está nú” que foi lido por dirigentes de partidos como um sinal de que o presidente acenou à radicalização para voltar a comandar a cena política, de acordo com a jornalista Daniela Lima da Folha de São Paulo. Seria como uma tentativa de reforçar a convocatória para o movimento que aliados organizam via internet para o próximo dia 26.
Há, no entanto, quem afirme que ao dizer “quero contar com a sociedade” o presidente esteja convocando apoiadores para engrossar o movimento, mas que tal pedido pode surtir um efeito contrário como o que – embora em outras palavras – foi feito pelo então presidente Collor de Melo, quando o seu irmão Pedro Collor denunciou o esquema de corrupção no Palácio. Fernando Collor convocou seus defensores para que fossem as ruas em sua defesa vestidos de verde e amarelo. O povo vestiu luto e pediu o impedimento do presidente!
As postagens chamaram a atenção da imprensa que, ao não ter uma explicação plausível de Bolsonaro sobre o que falou ou replicou nas redes, acabou tirando algumas conclusões e alguns jornalistas já chegam a afirmar que o presidente começa a dar sinais de que fantasmas já começam a assombrá-lo vindos dos porões do palácio e que para ele, é preciso atirar para todos os lados tentando, assim, frear os possíveis fortes ventos de mudança!
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton