Não sei porque ainda me surpreendo com as decisões de autoridades – políticas, judiciárias ou militares – sempre que tentam dar uma resposta a sociedade de algo de muito ruim que possa tê-la indignado. Pois então! A pouco mais de 20 dias, a notícia de que homens do exército haviam matado dois homens ao dispararem mais de 80 tiros contra o carro de uma família no Rio de Janeiro deixava o país indignado e pedindo punição para os criminosos!
Foi como se não tivesse acontecido nada de extraordinário! Nem o exército, nem tampouco o Governo se deram ao trabalho de se penitenciarem junto a família destruída! Sequer um pedido de desculpas foi ouvido! “Foi um lamentável incidente”! “Os homens estavam no pleno exercício do dever”! Pois é. Apenas confundiram o veículo, que sem revide, foi alvo de uma chuva ensurdecedora de balas, apesar dos gritos desesperados de esposa e da população que afirmavam estar ali apenas uma família de bem! Nove dos doze homens envolvidos, foram presos e indiciados, mas nem foi preciso passar muito tempo para que o crime fosse esquecido, e os homens foram libertados! “Tem que matar uns 30 mil! Vão morrer inocentes? Não tem problema”! E eu pergunto: Alguma surpresa? Tudo já estava escrito e até gravado!
“Infeliz do poder que não pode”! Quem não já ouviu essa frase tantas vezes dita? É uma frase tão forte e autoritária que – apesar de acharmos que vivemos hoje os tempos modernos – tem ecoado resistentemente na boca e nas mentes de alguns maus prefeitos, governadores, líderes de bairros e de partidos políticos e principalmente presidentes! Apesar de tentar outras autoridades, afirmar que a Justiça é para todos, não é bem isso o que temos vivido nos últimos tempos no Brasil!
Bolsonaro reagiu com viés autoritário a uma contestação de um dos assessores. “Quem indica e nomeia presidente do Banco do Brasil? Sou eu? Não preciso falar mais nada, então”, afirmou. “A linha mudou. A massa quer o quê? Respeito à família. E nós não queremos que dinheiro público seja usado dessa maneira”. Ele foi claro ao afirmar que seus ministros devem seguir sua linha de pensamento ou ficar “em silêncio”, se discordarem das orientações. Foi uma resposta ao general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, que afirmou que o veto a campanhas publicitárias do Banco do Brasil fere a lei das estatais.
A coisa é tão forte que, o sujeito mal se elege vereador, já se arvora a ser dono do seu bairro e da vida dos demais pobres mortais da sua vizinhança como se fosse o proprietário de tudo ali! E o cidadão que o elegeu, simplesmente abaixa a cabeça porque, também, acredita nisso! Pois é assim que parece pensar o presidente da república quando impõe a sua vontade a todo momento como se o Brasil fosse seu, após haver conquistado esse lugar no voto de uma minoria. Repito aqui pela enésima vez, que somos 208 milhões de pessoas vivendo nesse país e, apenas 57 milhões o escolheram para governar os outros 151 milhões que definitivamente não pediram! Que absurdo isso!
Mas não adianta agora ficar aqui comentando o mal que já está posto. É preciso seguir em frente e tentando evitar que o mundo acabe depois de amanhã, não é mesmo? Para tanto é preciso que se mostre que a função de presidente jamais significará “dono do lugar”! Mas é como donos do lugar que “os escolhidos” agem a todo momento diminuindo pessoas, selecionando classes, promovendo apoiadores e espalhando o medo, sempre com o polegar e o indicador em riste, numa verdadeira afronta aos mais elementares direitos de um povo!
A mais recente (pois não posso dizer a última) do Capitão vem reforçar a tese de que mais do que nunca, a ordem de matar vem legitimar os crimes que são, a toda hora praticados impunemente por todo o território! Será que ninguém atenta para o alarmante crescimento da violência nos últimos tempos? E, coincidentemente, atingindo pessoas mais humildes, negros, moradores da periferia – filhos, pais, com ou sem farda – a cada pronunciamento infame que venha a ser feito nas chamadas comemorações oficiais! É como se o elemento de má índole – que já por si só – vem praticando as atrocidades, recebesse um salvo-conduto para justificar e legalizar os seus crimes! Todos os dias mortes de cidadãos (gente comum e policiais) vem engrossar ainda mais as estatísticas. Ninguém está imune!
Como se já não bastassem a grilagem, desmatamentos, e invasões com tomadas de terras de pequenos proprietários e de territórios indígenas, com a matança desenfreada de pessoas indefesas por parte de fazendeiros inescrupulosos, eis que o Capitão está irredutível no seu desejo de enviar ao Congresso uma lei para isentar fazendeiros que atirarem em sem-terra. Pelo menos foi o que afirmou o presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira (29) em Ribeirão Preto (SP), na abertura da 26ª edição da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, a Agrishow. A fórmula para isso, segundo Bolsonaro, será o “excludente de ilicitude” para ruralistas, um segmento importante de sua base de apoio político-parlamentar. Ou seja, ele responde, mas não tem punição. Quem atirar em sem-terra, que a extrema-direita qualifica de “invasor”, não será mais punido. Além disso, Bolsonaro prometeu que a posse de armas será liberada nas propriedades rurais para seus proprietários e contratados.
“É a forma que nós temos que proceder para que o outro lado que desrespeita a lei tema o cidadão de bem”, disse. Mas a pergunta que salta, é: será que a compra das armas será autorizada somente para os fazendeiros ricos? Não irá prevalecer, assim, a máxima que diz que “o risco que corre o pau, corre o machado”? Será mais um banho de sangue no campo, e com o aval governamental!
E ai voltamos ao começo desse artigo! É cada vez mais patente a certeza de que sempre que somos alçados a qualquer tipo de cargo mais elevado ou poder, nos sentimos mais senhores e nos tornamos imunes a tudo e a todos! Pelo menos pensavam assim os grandes líderes mundiais, Muammar al-Gaddafi, da Líbia, Saddam Hussein, do Iraque, Hosni Mubarak, do Egito, dentre outros que jamais acreditaram na Primavera dos Povos! E o inevitável é que a primavera sempre vem!
Mas enquanto por aqui for outono, tudo será possível! Como assessor que fui de alguns prefeitos e outros políticos pelos quais passei, ouvi de um, uma vez, – pois queria a todo custo, um resultado que só a ele e aos seus agradaria – que o resultado seria o seu, pois do contrário, do que adianta um poder que não pode?
No entanto é assim que continuam a pensar, até os dias atuais, aqueles que se sentem os verdadeiros “escolhidos”! Prova de que passam-se os anos, morrem os velhos caciques, mas as práticas serão sempre as mesmas!
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton