Na última semana de março de 1983, na condição de governador eleito de Minas Gerais pelo PMDB, partido de oposição ao regime militar (que vivia seus estertores) o ex-senador Tancredo Neves participou, no Recife, de uma reunião periódica do Conselho Deliberativo da Sudene, presentes os outros governadores recém-empossados e o ministro Mário Andreazza, que disputou a convenção do PDS para eleição indireta a presidente da República e perdeu para Paulo Maluf. O PDS havia ganho as eleições nos Estados do Nordeste, o que levou Tancredo a comparar que se tratava de “um partido nordestino”. Isto mereceu reação do pedessista paraibano Wilson Braga, que propôs a retirada de Minas do Conselho da Sudene, alegando que “Minas é gigolô da economia nordestina; suga as riquezas da região e não dá nada em troca”. Na reunião da última semana de março, Tancredo – cuja morte completa 34 anos no próximo domingo, dia 21 – arrancou aplausos e surpreendeu a plateia ao dizer que estava ali para falar de Juscelino Kubitscheck e Celso Furtado. Alguém na plateia diz que pela primeira vez desde 1964 uma reunião do Conselho da Sudene ouvia o nome de seus dois criadores – Juscelino e Celso, este, economista paraibano, ambos cassados pela ditadura militar. Aplaudido por governadores do próprio PDS, o discurso de Tancredo marcou o início da dissidência de gestores do PDS, que possibilitará a eleição de Tancredo, mais tarde, no colégio eleitoral, em 1985, contra Paulo Maluf.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes