Uma professora de sociologia foi presa na manhã desta segunda-feira (15), no campus do Instituto Federal de Goiás (IFG), em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF. Camila Marques afirma que foi detida porque filmou uma abordagem “truculenta” de policiais civis conta alunos no local. O delegado que comandou a operação, porém, nega as acusações e alega que a docente foi detida por desobediência.
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa do campus do IFG na cidade por email, às 14h20 desta segunda-feira e aguarda retorno.
Camila contou que estava dando aula quando ouviu um “burburinho” vindo da área externa. Ela saiu para ver e disse que presenciou uma ação da polícia. A professora afirmou que começou a filmar depois de ver a forma como os agentes abordavam os alunos.
“Os policiais abordavam os alunos de um jeito truculento, ofensivo. Ai eu comecei a filmar. Um policial disse que eu não podia e que eu ia ser detida. Perguntei por que e ele afirmou que era um procedimento sigiloso”, disse ao G1.
Ela disse que um dos policiais a chamou para conversar e afirmou que eles estavam investigando uma ameaça de um ataque na escola. Por conta das filmagens, ela disse que foi informada que teria de ser levada para a delegacia como testemunha, e seu celular seria apreendido.
Camila afirma que, ao ser levada até o portão, três de seus alunos também estavam lá e iriam para a delegacia. Ela declara que pediu para que os responsáveis dos alunos – que são menores e cursam o 1º ano do ensino médio -, o que foi negado.
“Quando fomos para o estacionamento, as viaturas eram carros descaracterizados. Falei que não queria entrar e ia ligar para o advogado para saber se eu precisava ir. Eles falaram que eu ia ser presa, que estava detida e não ia ligar para o advogado”, salienta.
Nesse momento, ela disse que foi agredida e teve o celular tomado a força. Em seguida, foi algemada e levada no carro da polícia junto com os alunos.
A todo momento, segue o relato, ela diz que tentou ligar para um advogado, o que era negado. Somente após o exame de corpo de delito e o retorno à delegacia é que ela conseguiu falar com o defensor.
Caso foi registrado na Delegacia de Águas Lindas de Goiás — Foto: Reprodução/ TV Anhanguera
Após o procedimento, ela foi atuada por desobediência, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e em seguida, foi liberada.
Ela afirmou que nunca viu nenhuma atitude dos três alunos que a fizesse desconfiar de que eles planejavam qualquer atitude violenta.
“Inclusive, eu tenho a dizer que são excelentes alunos, participam das aulas. As famílias [deles] atuam bastante. Participam dos movimentos lá do campus, organizam batalhas de rap. Nada que me desse a entender que esses alunos poderiam estar envolvidos em alguma ação do tipo”, elogia.
Delegado nega
O delegado Danilo Victor Nunes Souza, responsável pela ação, negou todas as acusações da professora. Ele afirma que no domingo (14), a diretoria do IFG procurou a polícia para denunciar o planejamento de um suposto ataque na instituição, informação obtida após acesso a conversas em redes sociais.
“No mesmo dia, eu separei duas equipes policiais para que hoje [segunda-feira], quando o fato iria ocorrer, para fossem até o local e procurasse informações e identificassem os envolvidos”, conta.
Souza afirma que foi feita uma varredura nas salas de aula e nos vestiários. Os pertences de alguns alunos também foram verificados durante a abordagem. Ele afirma que, neste momento, a professora começou a filmar a diligência, momento em que foi advertida e presa logo em seguida.
“Estava sendo capturada as imagens dos alunos. A equipe policial advertiu ela que não poderia filmar, não em relação à diligência policial, mas por envolver adolescente. Isso o Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] é bem criterioso enquanto isso, não pode filmar. Ela foi advertida uma, duas, três vezes. Não obedeceu e foi dado voz de prisão por desobediência”, relata.
O delegado explicou que o celular dela, que continha as imagens captadas da operação policial, foi apreendido e será encaminhado ao Poder Judiciário para as devidas operações.
O responsável pelo caso disse que foi liberado “sem problema nenhum” que o advogado de Camila participasse da lavratura do flagrante.
Os adolescentes também foram ouvidos na presença dos pais e liberados em seguida. Segundo o delegado, eles disseram que se tratava de uma “brincadeira”.
O delegado disse que com os estudantes não foi encontrado nenhum objeto que pudesse ser usado em um possível ataque.
Em nota, a assessoria da Polícia Civil informou que a professora não foi agredida e que ela foi acompanhada por advogado durante o registro do flagrante.
Fonte: G1
Créditos: G1