O domínio da inteligência artificial (IA) é plano estratégico de muitos governos ao redor do globo. A China, por exemplo, pretende criar uma indústria local avaliada em US$ 150 bilhões para tornar o país a principal potência do setor, até 2030. Agora, pesquisadores de algumas das principais universidades brasileiras se uniram para evitar que o País não perca essa nova onda tecnológica.
Capitaneados por Sergio Novaes, diretor do núcleo de computação científica da Unesp, eles criaram o Advanced Institute for Artificial Intelligence (AI2), instituição que pretende aproximar os principais nomes de IA no mundo acadêmico brasileiro de empresas privadas, para a execução de grandes projetos na área.
“Queremos empregar técnicas modernas de tecnologia digital para desenvolver projetos que tenham impactos na vida do cidadão e na economia do País”, disse Novaes ao Estado.
Objetivo é maior do que formar startups, diz Sergio Novaes
Fazem parte da instituição 34 pesquisadores de 12 universidades, entre elas Unesp, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O esquema de funcionamento lembra muito os espaços de inovação dedicados a startups: o setor privado apresenta problemas e desafios ao AI2. Os interessados, então, poderão assumir o projeto. Se especialistas de diferentes universidades se interessarem pelo desafio, não serão obrigados a competir pelo projeto, e sim trabalharão juntos.
Novo mundo. O espaço físico também se inspirou no mundo das startups. Sem sede física, o AI2 funcionará em espaços de coworking de universidades, empresas e espaços de inovação que fizerem parte do projeto. Neles, os especialistas de diferentes universidades trabalharão lado a lado dos profissionais das empresas – o AI2 também prevê que todos tenham estrutura de teleconferência. Essa reunião da academia e iniciativa privada faz parte dos objetivos do instituto. Novaes diz que a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) já demonstrou interesse em criar um espaço.
Todos os projetos serão bancados integralmente pelas empresas – a maior parte da verba será direcionada para a contratação dos profissionais que trabalharão na pesquisa, sejam eles estagiários, técnicos ou pós-doutores. Eventualmente, o dinheiro será também utilizado na compra de software e hardware ou para custear deslocamentos dos profissionais.
O instituto também vai abrir uma modalidade de patrocínio para empresas que queiram apoiar a iniciativa mesmo sem ter interesse direto nos projetos – o site da instituição já lista como parceiros nomes como Intel, IBM e grupo Fleury.
Com várias áreas de interesse, os projetos desenvolvidos pelo AI2 envolvem robótica e energia. O primeiro deles deverá começar a ser desenvolvido em maio , com a Serasa Experian DataLab. A pesquisa tentará identificar, por meio da análise de imagens de satélites, fraudes na rede elétrica. A prática ilegal representou perdas de R$ 8 bilhões ao setor em 2015, segundo pesquisa do Instituto Acende Brasil. Serão investidos R$ 800 mil no projeto, que terá um pesquisador da USP e um da Unesp trabalhando com um profissional do DataLab.
“Não queremos um modelo engessado para as áreas de atuação”, diz Novaes. “Nossos limites serão os das questões éticas que a tecnologia levanta.” Quando se fala em inteligência artificial, alguns dos temores ligados à área dizem respeito à substituição do emprego, à quebra de privacidade e ao uso indevido de dados.
Pioneiros inspiram. A inspiração para o AI2 vem de três pioneiros da inteligência artificial: Geoffrey Hinton, Yann LeCun e Joshua Bengio. No dia 27 de março, eles dividiram o Prêmio Turing, considerada o Nobel da computação. Além do trabalho inovador com redes neurais, o que inspira o AI2, eles influenciam os pesquisadores – especialmente Hinton – junto à política de pesquisa pública no Canadá. Foi esse trabalho que acabou dando origem ao Canadian Institute for Advanced Research (Cifar).
Fundada em 1982, a instituição mantém uma rede de pesquisadores em áreas que vão de genética a energia solar. “Percebemos que temos um modelo parecido com o canadense, que gerou 650 startups voltadas à IA”, diz Novaes.
Segundo ele, o objetivo do IA2 não é a formação de startups. O objetivo é oferecer uma estrutura legal para que pesquisadores de universidades públicas possam trabalhar ao lado do setor privado e evoluir em pesquisas de maneira conjunta.
Carência. Desde o anúncio de seu lançamento, no fim de fevereiro, o AI2 já foi procurado por mais de 50 empresas para implementação de projetos, entre eles estão grandes nomes dos setores de saúde e seguros, bem como do mercado financeiro. Novaes não revela os nomes até que a estrutura jurídica esteja concluído.
Empresas e pesquisadores, porém, já podem procurar o instituto. “O distanciamento entre o mundo acadêmico e o setor privado é grande no Brasil”, ele afirma. “Queremos construir uma ponte.”
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão