Bem lembrado pelo colunista Clóvis Rossi e por outros articulistas da mídia sulista: está de volta à cena o Festival de Besteiras que Assola o País, criação magistral do irreverente Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) para ironizar as “boutades” praticadas na ditadura militar em variadas instâncias, do cabo de polícia de uma cidadezinha do interior que protagonizou uma atitude jocosa, em nome da “otoridade”, ao general-presidente que proferia impropriedades a esmo, por falta absoluta de conteúdo nas ações de governo e nas intenções como gestor. O Febeapá, como ficou conhecido e popularizado, traduz-se com velocidade estonteante no governo do capitão reformado Jair Bolsonaro, a partir dele mesmo, tuiteiro de marca maior, que se compraz em produzir pérolas pelas quais acaba se desculpando ou se retificando quase todo santo dia. Em três meses, o governo Bolsonaro é recordista absoluto de recuos, o que dá uma ideia da barafunda em que se constitui esse governo que está aí.
Bolsonaro puxa o cordão opinando sobre todos os assuntos sem dizer nada até por não entender do que fala. Depois de banhar-se no Muro das Lamentações em Jerusalém, deitou falação sobre ideologias (tema recorrente, obsessivo no seu falar diário) atribuindo ao nazismo a classificação de viés de esquerda, numa formulação abstrata demais para um tema tão complexo cujo fórum adequado para discussões é o ambiente acadêmico. Ambiente que, aliás, diga-se de passagem, a gestão Bolsonaro, na falta do que fazer, tenta contaminar – e vou mais além: luta com denodo para extirpar da gênesis do pensamento ou da “inteligentsia” brasileira. É acompanhado nesse diapasão pelo ministro da Educação, o tal Vélez, caso raro de intelectual fascinado pela ideia de destruir a livre circulação de ideias, de debates, de controvérsias.
Os disparates do governo Bolsonaro são sequenciados, em transmissão direta da Virgínia nos Estados Unidos pelo astrólogo Olavo de Carvalho, erigido em guru dos Bolsonaro (Número Um, Número Dois, Número Três), o que define exatamente a que nível o Brasil chegou em termos de evolução intelectual nas franjas do “pudê”. O astrólogo comanda mesmo uma turba denominada de “olavetes”, discípulos e discípulas da teoria do nada, porque não há consistência, a rigor, nas formulações erráticas desovadas a partir do laboratório de quem pretendeu ganhar visibilidade como demolidor de idiotoces e de idiotas. Enquanto os graves desafios do Brasil não são encarados pela gestão midiática de Bolsonaro, estafetas do governo trabalham para apagar os livros de história sobre o golpe militar de 1964, que instituiu no País a longa noite das trevas.
Tem mais: na economia, o ministro Paulo Guedes, tido como o bamba das reformas, deu um show de má educação, ontem, durante debate com parlamentares não menos educados numa comissão da Câmara dos Deputados a pretexto de discutir temas candentes da conjuntura nacional. Foi um show peripatético, carregado de diatribes de parte à parte, que transformaram o Parlamento num ringue como convém a esses tristes tempos em que o presidente da República tenta se glorificar ensinando crianças a atirar armas de fogo, um fato inédito na história da civilização contemporânea, quiçá das civilizações arcaicas. Nada mais vanguarda do atraso do que o governo Bolsonaro, tão viril nas aparências e tão subserviente e capacho aos Estados Unidos e a Israel, com cenas explícitas que dão asco e enfraquecem a imagem do Brasil na aldeia global.
Anda mal o Brasil e a ausência de uma bola de cristal dificulta os prognósticos sobre o que pode vir por aí, em meio a essa desordem institucionalizada, ao desgoverno que se instalou e que, quanto mais alega estar se corrigindo, mais erros crassos comete. O período emblemático dos cem primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro está chegando e, infelizmente, não há nada a celebrar, nenhum fato relevante de que o brasileiro possa estufar o peito e se orgulhar. Nunca um governo tem infligido tanta baixa estima a uma sociedade como o do capitão reformado. Procura-se com lupa uma ilha de excelência qualquer a ser mencionada para dizer que, pelo menos num ponto, o governo caminha certo. Há quem argumente que a sarabanda patética alimentada por Bolsonaro no campo retórico é, exatamente, uma estratégia para encobrir a falta de resultados da administração. Não é uma exegese distante da realidade. Num governo de brucutus, o que escapa ainda é a imagem da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que não conseguiu, sequer, escapar da facada desferida nos gastos com projetos sociais, de repercussão popular. Quantos meses durará o Bolsonaro? A bolsa de apostas está aberta.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes