Matança de gays e mulheres

Rubens Nóbrega

Se ‘conquistamos’ em 2010 o desonroso terceiro lugar no ranking dos estados mais violentos do Brasil, com o registro de 2.500 mortes violentas, de 2011 pra cá parece que estamos nos especializando na matança de gays e mulheres.

Para maior vergonha dos paraibanos de bem, a violência que mata por ódio ou covardia parece dar preferência aos mais vulneráveis, aos mais fracos e desprotegidos ou, como diria o Professor Cristovam Buarque, aos ‘exilados da cidadania’.

No que se refere especificamente aos ‘homocídios’, em termos proporcionais ninguém toma da gente e de Alagoas o título de campeão. Lá e cá foram cometidos 42 assassinatos que tiveram homossexuais como vítimas, ano passado.

Segundo o Relatório 2011 do Grupo Gay da Bahia (GGB), principal organização não governamental do país de defesa dos homossexuais, em termos absolutos a Paraíba (com 21 assassinatos de gays) só perde para Bahia, Pernambuco e São Paulo.

Proporcionalmente, quando junta com Alagoas, passamos ao primeiro lugar no ranking porque a população somada dos dois estados representa apenas 3,6% dos brasileiros, mas responde por 16% do total de ‘homocídios’ no país em 2011.

Pra vocês terem uma idéia do que isso representa, tirando Alagoas e Paraíba, com suas 42 mortes violentas de gays, todos os outros estados nordestinos somados não passaram de 27 assassinatos de homossexuais, ano passado.

Matamos 60% a mais do que o resto do Nordeste, tomando o morticínio causado pela homofobia, isoladamente.

Apesar desses números, confiáveis porque pertencem ao GGB e, localmente, a entidades como o Movimento do Espírito Lilás (Mel), o extermínio de gays na Paraíba chega nem perto – numericamente falando – da matança de mulheres.


Tendência de recorde em 2012

A própria Secretaria de Segurança Pública do Estado divulgou ontem que até a madrugada dessa quarta-feira (20) nada menos que 72 mulheres foram assassinadas na Paraíba, o que apontaria para um novo recorde até o final do ano.

A continuar do jeito que vai, a tendência de 2012 é superar em muito 2011 no quesito trucidamento de mulheres. Ano passado, 146 mulheres foram assassinadas, onze a mais do que em 2010.

O único problema em relação aos números que referenciam a violência fatal contra a mulher na Paraíba é porque foram disponibilizados por órgão de um governo acusado por fontes da própria Polícia de maquiar estatísticas da criminalidade.

Segundo essas fontes revelaram ao analista Gilvan Freire, a Secretaria da Segurança Pública não estaria computando tentativas de homicídio que não resultam na morte imediata das vítimas.

As chances de tal acusação proceder são enormes, a julgar pelo desempenho do secretário Cláudio Lima na entrevista à TV Máster de João Pessoa na última segunda-feira à noite, em um programa (Conexão) do qual Gilvan participa.
Um número anotado ‘por fora’

Instado a mostrar que as tentativas de homicídio encorpavam as estatísticas propagadas recente e solenemente pelo governador Ricardo Coutinho, Doutor Cláudio acabou verbalizando um número (147, se não me falha a memória fraca) que lhe foi entregue anotado num papel por uma assessora.

Ou seja, o número realmente não constava das planilhas trabalhadas e levadas pelo secretário ao programa Conexão Máster, em tese as mesmas trombeteadas há duas semanas pelo monarca em pessoa.

O episódio nos leva a uma triste conclusão ou a uma bem fundada desconfiança: além da violência que elimina vidas diariamente na Paraíba, temos que enfrentar ou sofrer a violência da falta de uma política pública de defesa social digna desse nome.

Tudo porque, como se fosse pouco, nessa área a política do Ricardus I parece ser a de nos insultar a inteligência com números sobre violência que chegam nem perto da realidade, uma realidade que não se cansa de desmentir a realeza.
Casa Abrigo para as vítimas

Segundo nota distribuída ontem pela Secretaria de Comunicação do Estado (Secom), desde outubro funciona na Capital a Casa Abrigo Aryane Thais, com capacidade para 30 pessoas (vinte mulheres, dez filhos, esses com idade até 16 anos).

A unidade é administrada pela Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH) e atende a mulheres vítimas da violência através de uma equipe multidisciplinar da qual fazem parte, entre outras profissionais, assistente social, psicóloga, advogada, pedagoga e auxiliar de enfermagem.

Um trabalho louvável para uma necessidade tremenda, extrema, de muito sofrimento para quem precisa. Permitam-me sugerir, contudo, a interiorização do serviço, com a instalação de casas abrigos em cidades-pólos da Paraíba, de modo a atender a todo o conjunto da população feminina do Estado.

Uma Casa Abrigo só não resolve, evidentemente, mesmo considerando que as paraibanas de modo geral dispõem de outros órgãos e entidades para recorrer em caso de precisão, a exemplo das Delegacias das Mulheres, Ministério Público, ongs etc.