A capacidade de Bolz-Weber de se conectar a perfis que não são bem recebidos ou bem atendidos pelas religiões tradicionais, além do seu refinado humor e sagacidade, a colocaram em evidência com uma parcela de fiéis que cada vez mais rejeitava as instituições religiosas: o público feminista. Ela conta ter conversado com pessoas que lhe procuravam buscando uma solução para o incômodo que sentiam por querer ensinar a seus filhos ou netos uma oração de que gostavam, ou um rito religioso que professavam, mas que não toleravam os posicionamentos de suas igrejas, como a falta de representatividade feminina entre as lideranças.
De acordo com Bolz-Weber, a falta de mulheres nas instituições cristãs é fruto de más interpretações. “Muitas vezes, se afastar de uma religião ou igreja é um ato de autopreservação”, destaca ela ao confessar que se manteve por ao menos uma década distante das práticas espirituais. Na sua visão, muitas igrejas baseiam suas culturas machistas em teologias mal interpretadas, fazendo uso das passagens bíblicas como uma forma de estabelecer uma dominância sobre outros grupos.
“Se você puder abrir a Bíblia e explicar por que você é dominante, é como se você passasse a ter uma aprovação divina para o que você faz. ‘É a vontade de Deus'”, contextualiza. Diante disso, ela se posiciona como uma teóloga capaz refutar os argumentos usando a mesma base bíblica. “Não existe interpretação definitiva”, completa.
Liturgia sem letargia
Nadia Bolz-Weber acredita que é preciso trazer “você por inteiro” para a igreja. Não é possível deixar o “pecado” e os “maus caminhos” lá fora. Por isso, ela vem como é: com seu passado alcoólatra, com seu humor, com suas tatuagens, e incentiva seu ‘rebanho’ a fazer o mesmo, sem negar o passado. “Podemos pegar o que nos machucou e transforma em outra coisa”, explica.
A frase sintetiza o projeto que a pastora idealizou e apresentou em parceria com a publicação feminista MAKERS. Bolz-Weber convidou mulheres que ainda tinham seus “anéis de pureza” – símbolo que a igreja evangélica norte-americana incentivava suas fiéis a utilizarem até o dia do casamento – a enviarem a jóia a ela para que os metais fossem fundidos e transformados em uma escultura em forma de vagina. “Precisei superar o ‘não’ de seis artistas homens que se recusaram a participar do projeto”, contou Bolz-Weber. Rindo, ela disse que foi uma mulher, no fim, a responsável pelo derretimento dos metais e criação da peça, que foi oferecida a Gloria Steinem, líder do movimento feminista nos EUA.
Para além das instalações artísticas, a parceria com a publicação feminista MAKERS continua a render. Bolz-Weber estreou a segunda temporada de vídeos com sermões bem-humorados, leves e feministas, todos disponíveis no YouTube.
Mas a desconstrução do culto tradicional não afasta o grupo de Bolz-Weber dos conceitos básicos do cristianismo. Ela ajuda a trabalhar a ideia de perdão e a propagar a paz, ainda que o faça com um linguajar, no mínimo, despojado. Para quem sente falta de uma espiritualidade, mas detesta o formalismo e tradições das igrejas convencionais, Bolz-Weber soa como uma benção que, de tão atraente, também parece ser óbvia: dá para ser feminista e ter fé, sem dúvidas.
Fonte: UOL
Créditos: Jacqueline Lafloufa