Jair Bolsonaro desenvolveu um método revolucionário de combate ao que se convencionou chamar de fake news. Assim que o capitão se apropria de uma notícia nas redes sociais, os fatos se perdem —sobretudo quando ele e seus familiares são os protagonistas. O presidente é uma caricatura do político farsesco. E se autoatribuiu a missão de desnudar as farsas, como quem desvenda falsidades cometendo-as.
Neste domingo (10), Bolsonaro trombeteou no Twitter relato adulterado de uma conversa da repórter Constança Rezende, do Estadão. Anexou ao post um áudio que extraiu de site de coloração bolsonarista. Nele, ouve-se uma conversa em inglês sobre o Caso Coaf. O capitão extraiu do diálogo conclusões que não encontram amparo na transcrição das falas da repórter.
Escorando-se na deturpação, Bolsonaro escreveu: “…Querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos”. Nessa versão, a repórter teria afirmado no áudio que deseja “arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro”.
Segundo notícia do Estadão, a repórter Constança, autora de reportagens sobre o Caso Coaf, conversou em 23 de janeiro com pessoa que se apresentou como Alex MacAllister. Era um “suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro”.
Num trecho da conversa ecoada nas redes pelo presidente, a repórter afirma que o caso “pode comprometer, pode arruinar Bolsonaro”. Revela-se preocupada com a hipótese de as investigações não avançarem, pois este poderia ser “um caso de impeachment.” Ela não diz ter a intenção de arruinar o filho ‘Zero Um’ do presidente ou de provocar um impeachment. Fica subentendido que os fatos injetam veneno na conjuntura, não o noticiário. Dito de outro modo: o problema é a chaga da falta de ética, não a radiografia.
Didático, Bolsonaro ensina o país a enxergar a hipocrisia. Onde ele diz haver “chantagens, desinformações e vazamentos”, não há senão investigações do Ministério Público, notícias jamais desmentidas e documentos oficiais do Coaf.
Autossuficiente, Bolsonaro cria crises que antes eram fabricadas pela oposição. Parece cultivar um desejo secreto de ser apanhado. Fala dez vezes antes de pensar. Mas não diz nada em sua defesa. Nada sobre o amigo Queiroz, que ele indicou para assessorar seu primogênito. Nada sobre o laranjal que Queiroz plantou na folha do gabinete de Flávio na Assembleia do Rio. Nada sobre os R$ 24 mil que Queiroz gotejou na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Quem ouve os ataques de Bolsonaro à imprensa e se ressente da falta de uma boa autodefesa do presidente logo decifra o personagem: o capitão não erra e não vacila, só mente um pouco.
Fonte: UOL Notícias
Créditos: UOL Notícias