O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o anúncio da demissão do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, será feito nesta segunda-feira (18) pelo Palácio do Planalto. “Esse anúncio está previsto, de hoje não passa”, afirmou. Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.
Questionado por que a exoneração ainda não foi publicada no “Diário Oficial da União”, Mourão não soube dar detalhes. “Eu acho que o presidente estava aguardando alguma coisa”, afirmou. Mourão esteve nesta manhã em audiência com Bolsonaro, no Palácio do Planalto. A expectativa era de que a exoneração fosse oficializada na manhã desta segunda-feira (18), mas o presidente decidiu segurá-la. Segundo a Folha apurou, interlocutores do presidente ainda tentam convencer Bebianno a aceitar outro cargo no governo, mas ele tem resistido.
A expectativa é de que seja anunciado como seu substituto, em um primeiro momento, o general da reserva Floriano Peixoto secretário-executivo da pasta. No último dia 10, reportagem da Folha revelou que o PSL criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. Ela teve 274 votos e gastou R$ 380 mil em uma gráfica com endereço de fachada, sem máquinas para impressões em massa.
O dinheiro foi liberado por Bebianno, que presidia o partido na ocasião. Naquele mesmo dia, em entrevista à rádio CBN, ele afirmou que a responsabilidade pelo repasse dos recursos foi do deputado federal Luciano Bivar, presidente atual do PSL, cujo reduto eleitoral é Pernambuco. Bivar jogou a decisão para Bebianno: “Quem decidiu foi a [direção] nacional, na época eu não era presidente. Nem da nacional nem no estado”. Ata do PSL divulgada pela Folha entregou a Bebianno a responsabilidade pelos repasses dessa verba a esses candidatos.
Candidata laranja em Pernambuco, Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve uma votação que representa um indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos. Essa candidatura laranja virou alvo da Procuradoria, da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Na quarta (13), a Folha revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. Já na quinta-feira (14), a Folha mostrou que uma gráfica de pequeno porte de um membro do diretório estadual do PSL foi a empresa que mais recebeu verba pública do partido em Pernambuco nas eleições —sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na empresa da cidade de Amaraji, interior de Pernambuco.
A série de reportagens da Folha sobre o tema começou no dia 4 de fevereiro mostrando que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas. Após indicação do PSL de Minas, presidido à época pelo próprio Álvaro Antônio, o comando nacional do partido do presidente Jair Bolsonaro repassou R$ 279 mil a quatro candidatas. O valor representa o percentual mínimo exigido pela Justiça Eleitoral (30%) para destinação do fundo eleitoral a mulheres candidatas. Parte do gasto que elas declararam foram para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara. O ministro nega irregularidades. A Procuradoria de Minas abriu investigação sobre o caso.
Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Gustavo Uribe