Ele estava acompanhado por um amigo, sem seguranças e estava atendendo a imprensa normalmente. Se bem que não havia muitos repórteres interessados em entrevistá-lo, talvez porque os profissionais escalados para a cobertura não o conheçam ainda.
Quando o encontrei estava sendo entrevistado por uma equipe da TV Record. Terminada a conversa chapa branca com a emissora amiga do governo, eu disse ao general que muitos de nós que vivemos na ditadura estamos preocupados com a presença de tantos generais no governo.
“Isso significa que é a volta da ditadura”?
“Claro que não. Estamos vacinados contra ditaduras”, disse ele.
Eu insisti: “Mas o senhor está dando força à Abin, que é a sucessora do SNI do general Golbery.
“A Abin não tem nada a ver com o SNI”, disse ele, “todos os países democráticos têm um serviço de informações à disposição do governo, em qualquer regime democrático”.
“Mas a Abin, segundo comentários, está espionando a CNBB”, eu disse.
“Ninguém está espionando a CNBB” respondeu ele, um pouco irritado “não existe isso”.
“Mas vocês estão trabalhando para impedir a realização do Sínodo da Amazônia”?
“Também não procede”.
“Consta que o governo brasileiro vai pressionar o Papa para cancelar o evento”.
“Nós vamos conversar com o Papa”.
“Quem vai conversar com ele, o senhor”?
“Já temos intermediários conversando com o Vaticano. A questão da Amazônia brasileira diz respeito à nossa soberania, vem daí a preocupação, é um problema que deve ser equacionado no âmbito governamental”.
“Dizem também que o governo está em guerra com a Igreja Católica, é verdade”?
“Não tem nada disso. Não existe”.
“O senhor acha que é importante haver imprensa livre numa democracia”?
“Não é só importante, é fundamental”.
Nesse momento o jornalista Milton Neves aproximou-se para cumprimentar o general, interrompendo a conversa.
Contou que, na juventude, Boechat era da turma de praia de Jair Bolsonaro, no Rio, época em que um chamava o outro de “Jacaré”.
E advertiu o general a meu respeito, fazendo pilhéria:
“Cuidado… ele é vermelho”.
O general me olhou e não riu.
Fonte: Brasil 247
Créditos: Alex Solnik