Se a ideia do Governo Bolsonaro era fazer o Brasil retroceder 50 anos em apenas 4, acho que ele está indo rápido demais! Pois em apenas 40 dias de governo, o estrago apresentado já é suficiente para provar que construir é bem mais difícil. E para quem de bom senso conseguir retomar as rédeas dessa carroça descontrolada muitas dificuldades irá enfrentar. A reconstrução, não há dúvida, deverá ser bastante penosa! Dentre as muitas propostas medonhas postas a mesa, está a que trata do sinal verde por parte do Ministério da Saúde para a compra de aparelhos de eletrochoques para o Sistema Único de Saúde (SUS). A ideia vem como uma carreta desgovernada na contramão dos avanços conquistados a muito custo na história da psiquiatria no Brasil!
Quem tem mais de 40 anos de idade não precisará recorrer aos livros para entender o que eu estou falando. Ainda em 1944 já havia a preocupação em se encontrar um tratamento alternativo e mais suave para pessoas com problemas psiquiátricos graves! A luta por um tratamento mais humanizado para os pacientes com distúrbios tem sido uma conquista lenta mas que tem alcançado importantes avanços.
Em dezembro de 1987, trabalhadores da saúde mental reunidos na cidade de Bauru (SP) redigiram o manifesto que marcava o início da luta antimanicomial no Brasil o que bem representa um marco no combate ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave. As medidas apresentadas no documento, entre outras questões, desconstroem a política de saúde mental e sinalizam a indicação de ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas. O Ministério da Saúde também passa a financiar a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia.
O texto além de outras propostas, reforça a possibilidade da internação de crianças em hospitais psiquiátricos e destrói a redução de danos, adotada há pelo menos 30 anos! O Conselho Federal de Psicologia – CFP repudia a nota técnica do Ministério da Saúde publicada no último dia 04 de fevereiro, que atesta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica de 2001.
O que realmente pretende o governo federal ao estabelecer tais medidas interrompendo todo o sucesso até aqui conquistado? Os motivos não parecem nada nobres! Voltar aos tempos das torturas nos laboratórios sombrios dos manicômios, onde a prática dantesca dos sofrimentos por pacientes em nome de uma cura jamais alcançada soa apenas como pura maldade!
Alguma coisa ai não se encaixa! A luta contra a desumanização dos tratamentos avançaram tanto que passou a ser possível a ressocialização do indivíduo no retorno ao seio da família, no trabalho e, enfim, a uma vida normal!
Dessa forma sobram interrogações! O tratamento através dos “instrumentos mortais” eram mais baratos para o Estado? A obrigação desse mesmo Estado com a saúde do paciente tornou-se assim, mais cara, a ponto de ter de mantê-lo dopado o tempo todo? Ou existe um outro motivo, mais complicado para se justificar a medida?
Me dá arrepios imaginar até onde vai uma mente doentia que chega a ser capaz de sacrificar vidas (usando-as como uma cortina de fumaça) para se obter uma outra conquista!
Me preocupa uma sociedade doente, movida pelo ódio gratuito a minorias, que acredita piamente numa “cura gay”, servindo de apoio a superiores movidos totalmente pelo preconceito. Em um pais onde matar gays e mulheres é quase um esporte, legalizar essa prática necessitará de maiores artifícios! O medo que nos dá é de que qualquer rebeldia por parte de um jovem ou criança possa servir de motivo para um possível internamento.
Não sou um profissional de saúde e, por tanto, posso não ser a pessoa mais indicada para tratar dessas questões, mas mexer em time que está ganhando jamais será uma medida acertada. Se o Brasil avançou tanto na psiquiatria, recuperando cidadãos sem o uso de eletrochoque ou aparelhos de eletroconvulsoterapia, por que retroceder? O Brasil não precisa de correntes nem de equipamentos medievais para tratar pessoas.
Nós precisamos, na verdade, é avançar mais em pesquisas e procurar melhores meios para tratar da saúde do povo sem lhe impor a cultura do medo. Fazer esse cidadão sentir cada vez mais que afinal vivemos num pais livre onde se pode ser o que bem quiser e vestir o que quiser, independentemente da cor!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba