Entregando a ratoeira e o rabo do rato

Gilvan Freire

A vantagem de uma ratoeira armada num lugar onde os ratos proliferam com a mesma intensidade com que são espalhados pedaços de queijo nos esgotos, é a de que tanto pode cair nela uma catita apenas, quanto pode ser capturado um guabiru, também chamado de gabiru, sem o ‘u’ depois do ‘g’. Os dois são ratazanas (rattus norvegicus), que recebem na língua portuguesa, por extensão, as devidas homenagens de Houaiss, o mais completo dicionarista do Brasil, para quem ambas as palavras têm também o significado não muito honroso de: ‘gatuno; que ou quem age com esperteza; patife; bilontra; malandro; larapio’. Elogios animais à parte, é a ratoeira que deve receber as mais merecidas lisonjas, pois ela é, segundo ainda Houaiss, ‘a armadilha para apanhar ratos’, um instrumento absolutamente necessário de que a sociedade precisa para combater os estragos que esses roedores causam ao Erário nessa Paraíba entregue a outros bichos devoradores que atuam nos monturos subterrâneos do poder dominante.

Há horas em que nem catitas e ratazanas caem na armadilha, mas, em alguns casos, deixam uma peça do corpo presa, não raro das vezes o rabo. É que, dada a destreza desses animaizinhos solertes, mesmo agindo veloz e livrando o corpo não conseguem livrar a calda, que com a força da guilhotina fica seccionado do dono. Nada mais do que isso precisam os caçadores de ratos, que entre uma ninhada de gabirus iguais somente têm que procurar o rato que deixou o rabo preso na ratoeira, o rato cotó. É mais fácil achá-lo em meio a multidão.

O KIT E OS RATOS E O KIT DE RATOS

De tanto ver se alastrando em seus porões esse criatório de ratazanas que atacam o Tesouro público como cupins e traças atacam madeira e papeis onde não se põe inseticidas, o governo do Estado, através da Secretaria da Educação, baixou ao final de março a Portaria nº 144/2012, instituindo uma Comissão de Sindicância para apurar desvio de recursos públicos e sobrepreço na aquisição de um Kit escolar, destinado aos alunos mais carentes da rede pública de ensino. Fosse esse Kit denominado de ‘Kit roubalheira’ ou ‘Kit assalto’, não haveria a carência de uma sindicância para apurar o que servidores e professores já comentavam nos quatro cantos da Secretaria desde que essas estripolias foram perpetradas. O governo é que cegou e emudeceu diante das evidências da fraude, detectada nos primeiros momentos pelos órgãos de controle interno, que não foram capazes também de evitar que a dinheirama da escola pública escorresse criminosamente pelo ralo da corrupção.

A Sindicância está sendo concluída. Alguns pontos, já averiguados, causam arrepios em gatos acostumados a enfrentar gabirus grandes. Tá provado: houve assalto à mão desarmada e mentes vadias. É um escândalo de proporções assombrosas, só não maior que os próprios gatunos gigantes. Dois artigos seguidos contarão a história do golpe perverso contra crianças, jovens alunos e professores dessa saqueada Paraíba dormente. Ao final, serão entregues ao Ministério Público Federal a ratoeira, o rabo do rato e o Kit de ratazanas, porque as verbas eram federais. Isso se a Policia Federal não achar antes os ratos cotós que andam por aí soltos sem perceber que em algum lugar deixaram o rabo preso.