Um serviço que surgiu de última hora salvou a vida do soldador Delfonso Geraldo, 39 anos. Ele estava com uma equipe trabalhando na Mina Córrego do Feijão, pouco antes do rompimento da barragem I, da Vale. Funcionário da empresa há 10 anos, ele relata que voltava para almoçar quando se deparou com o mar de lama avançando para a pista. O grupo passava próximo ao pontilhão e à pousada Nova Estância. Ambos foram destruídos.
Desesperado, Delfonso saiu do caminhão e começou a gritar para os carros que vinham atrás. “Tinha muita carreta, caminhão e carros de passeio. Alertei a todos sobre a barragem e implorei para todo mundo sair de lá”, relatou. O soldador, acompanhado de um amigo, procurou abrigo no ponto mais alto, em cima da linha do trem.
No momento em que eles observavam incrédulos a enxurrada levar casas, gado, carretas e parte de uma ponte, uma mulher coberta de lama surgiu gritando por socorro. Segundo o soldador, ela estava em meio aos rejeitos e não tinha forças para sair.
“Desci, peguei uma corda no caminhão e joguei para ela. A moça não conseguiu pegar. Foi então que meu amigo entrou lá, amarrou a corda na cintura dela e eu puxei os dois”, disse. Delfonso detalha que colocou a vítima deitada no chão. Ela disse que sentia muita dor e que estava com o filho e o marido.
“Não conseguimos ver mais ninguém, não escutamos gritos de socorro. Só restou a destruição”, contou. Os amigos conseguiram levá-la para a parte mais alta. Ligaram para uma Upa, ambulância, mas a lama já tinha tampado os acessos a Brumadinho.
“Estávamos ilhados. Vimos um helicóptero da PM e fizemos sinal. Os militares desceram e a levaram para o hospital de BH. Depois disso não tivemos mais notícias”, lamentou.
Após a tragédia, o soldador ficou abalado. Ele não consegue dormir e diz não saber o que será dos próximos dias. “Perdi muitos amigos. Tínhamos um laço familiar muito forte. Não desejo que ninguém veja o que ficou gravado na minha cabeça”, emocionou-se.
Fonte: Metrópoles
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