A pesquisa “Óbitos por suicídio entre adolescentes e jovens negros 2012 a 2016”, realizada pelo Ministério da Saúde e a Universidade de Brasília e publicada em 2018, mostra que pretos e pardos sofrem mais do suicídio, em especial aqueles do sexo masculino entre 10 e 29 anos.
De 2012 a 2016, aumentou o número de negros vítimas do suicídio, passando de 53,3% para 55,4%, na comparação com as demais raças. Entre os brancos, o dado diminuiu de 40,2% para 39%.
Entre os adolescentes, a diferença entre brancos e negros também persiste. Em 2012, a cada 100 suicídios entre adolescentes brancos do sexo masculino, ocorreram 134 suicídios entre os negros. No ano de 2016, essa diferença entre negros e brancos aumentou: a cada 100 suicídios em adolescentes e jovens brancos do sexo masculino, ocorreram 150 suicídios em negros.
Para o sexo feminino, no período de 2012 a 2016, a diferença também persiste. Em 2012, a cada 100 suicídios em adolescentes e jovens brancas do sexo feminino, ocorreram 123 suicídios entre as negras. Em adolescentes e jovens e negras o risco de suicídio foi 20% maior que entre brancas, em 2016.
Entre os adolescentes e jovens negros, a taxa mortalidade por suicídio cresceu no sexo masculino e foi estável no sexo feminino, de 2012 a 2016. Para o sexo masculino, a taxa variou de 8,98 suicídios por 100 mil adolescentes e jovens negros em 2012 para 10,75 em 2016, indicando um aumento de cerca de 20%. Para o sexo feminino, a taxa média de suicídios no período foi de 1,73 mortes por 100 mil adolescentes e jovens negras.
A diferença entre os sexos nas taxas de mortalidade por suicídio para o grupo de adolescentes e jovens negros foi em média 5,5 vezes maior para o sexo masculino em comparação ao sexo feminino. Ou seja, na população negra adolescente e jovem, a cada suicídio no sexo feminino ocorreram, em média, seis no sexo masculino, entre 2012 e 2016.
Em 2016, Roraima foi a unidade da federação com a maior taxa de mortalidade por suicídio: 30 óbitos/100mil adolescentes e jovens negros, seguida do Piauí 13,87 óbitos/100mil. Neste mesmo ano, as menores taxas de mortalidade por suicídio entre adolescentes e jovens negros foram no Rio Grande do Sul (1,90 óbitos/100mil), Santa Catarina (2,10 óbitos/100mil) e Paraná (2,11 óbitos/100mil).
Os motivos
As explicações no documento para a maior incidência em jovens negros são múltiplas e variam da depressão, violência física, sentimento de exclusão, e o racismo.
“A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra reconhece o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde. Um dos grupos vulneráveis mais afetados pelo suicídio são os jovens e sobretudo os jovens negros, devido principalmente ao preconceito e à discriminação racial e ao racismo institucional”, diz o texto.
O documento aponta para a importância de se produzir dados nesse sentido para que seja possível construir políticas públicas, bem como destaca a necessidade do preenchimento do quesito raça/cor nos sistemas de informação do SUS para que levantamentos e pesquisas possam ser desenvolvidos.
O material também ressalta que o racismo e o suicídio são dois temas silenciados em nossa sociedade e que devem ser encarados de maneira responsável e séria.
“Muitas vezes as queixas raciais podem ser subestimadas ou individualizadas, tratadas como algo pontual, de pouca importância e ainda culpabilizando aquele que sofre o preconceito. O estigma em torno do suicídio, aliados a elementos estruturantes como o racismo estão relacionados e contribuem para o silenciamento em torno da questão, além das dificuldades de se falar abertamente sobre o assunto”, explica o documento.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que representa um pessoa a cada 40 segundos. O suicídio ocorre em todos os países do mundo, mas 79% das mortes por suicídio em 2016 foram em países em desenvolvimento. O suicídio é um problema de saúde pública no Brasil, pois é a quarta causa de mortalidade na população brasileira no ano de 2016.
Os dados foram obtidos pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), que está disponível no Departamento de Informática do SUS, no site do Ministério da Saúde. Foram analisados adolescentes entre 10 e 19 anos e jovens, entre 20 e 29 anos.
Fonte: Alma Preta
Créditos: Pedro Borges