A relação entre fé, família e Carnaval, que deram base ao enredo campeão da Mangueira, em 2016, em homenagem a Maria Bethânia, é dissecada no documentário “Fevereiros”, com direção de Marcio Debellian. Depois de circular por 29 festivais no Brasil e no exterior, o filme estreia no próximo dia 31 nos cinemas nacionais.
“Bethânia representa um Brasil autêntico, que respeita suas raízes e tem um amor profundo pela sua família, que sabe conviver com as diferenças e com um Brasil plural”, firma o diretor. Partindo da concepção do samba-enredo “A Menina dos Olhos de Oyá”, o documentário vai do Rio de Janeiro a Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, para mostrar os bastidores do Carnaval da Mangueira, do ambiente familiar, religioso e das festas da família Veloso -incluindo as cerimônias de candomblé e os festejos católicos.
Entre os entrevistados estão Caetano Veloso, Chico Buarque, o carnavalesco da Mangueira Leandro Vieira e a poeta e irmã de Bethânia, Mabel Velloso.
Para Marcio Debellian, “Fevereiros” não retrata apenas o Carnaval, mas se debruça sobre a brasilidade de Maria Bethânia como uma forma de resgate da alegria nacional. “Vendo o filme atualmente, com certa distância, percebo que desde que a gente filmou até agora não passou muito tempo, mas o Brasil mudou. A impressão que tenho é que o país virou as costas para si mesmo. E o filme mostra um olhar para o Brasil que convive bem e é tolerante.”
As questões políticas atravessam o longa em discussões sobre representatividade e tolerância religiosa, temas que têm marcado o trabalho do carnavalesco Leandro Vieira, cuja estreia na Mangueira foi justamente com a homenagem a Maria Bethânia. “Com Leandro, a Mangueira assume um lugar de posicionamento. Acho que faz muito bem à escola. E a Bethânia não é partidária, mas nunca deixou de ser política. Só o fato de ela trabalhar beleza, a palavra, isso para mim é uma postura revolucionária”, explica o diretor.
O filme é guiado por um ponto de vista religioso, segundo Marcio Debellian. “E você indo do Rio para Santo Amaro entende que ali, no recôncavo, convivem muito bem não só as religiões de matriz africana, mas também o catolicismo português, ibérico e a tradição dos índios”, lembra. “Isso fortalece o Brasil.”
“Fevereiros” recebeu o prêmio de Melhor Filme no 10º IN-Edit Brasil e a Menção Honrosa do Júri na competitiva Ibero-americana do 36º Festival Internacional do Uruguai. Para Debellian, o documentário tem sido muito bem recebido internacionalmente também pelo interesse dos estrangeiros em verem um lado mais positivo do país, em meio aos escândalos políticos.
“Eu tinha temor de que com o passar do desfile da Mangueira o filme ficasse datado. Mas com o Brasil tão conservador, o filme parece mais atual”, afirma. “Quando passou em Barcelona, por exemplo, a questão eleitoral no Brasil fez com que as pessoas estivessem muito interessadas. É um filme que não tem angústia; que te emociona.”
Fonte: UOL
Créditos: UOL