Perseguidor implacável

Rubens Nóbrega

Puxando pela memória de tudo que vi, ouvi, li ou escrevi em 38 anos de jornalismo sobre as relações entre governantes e governados na Paraíba, posso garantir que nenhum governador conseguiu ser tão autoritário e rançoso quanto Ricardo Coutinho.

Tanto que estou já perdendo o que me resta de esperança em vê-lo retomar o bom senso e um mínimo de urbanidade no trato com as pessoas, principalmente aquelas que se acham no direito – até por que têm todo o direito – de criticar e de se opor ao governo.

O restinho de esperança de que ele melhore vira quase nada quando sou informado, por exemplo, que o Ricardus I continua prejudicando a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Tudo porque, suspeito, lá encontrou uma reitora que não transigiu na defesa da autonomia universitária.

Em represália, o governo vem agravando a situação financeira da UEPB. Descumprindo ostensivamente a Lei da Autonomia, não repassa o duodécimo a que a Instituição tem direito e o que libera não tem sido suficiente para a Universidade pagar as despesas do mês.

Apesar das retaliações, a Reitoria voltou à mesa de negociações após o Doutor Harrison Targino assumir a Secretaria da Educação do Estado. Mas essa interlocução produziu muito pouco até aqui. O interlocutor deve ter muito boa vontade, mas nenhuma autonomia para solucionar um impasse dessa ordem.

Mas quem paga essa conta, no final das contas, não é a reitora Marlene Alves, como muito provavelmente deve pensar Sua Majestade. O prejuízo é de toda a comunidade universitária, afeta toda uma história de conquistas que em campanha o então candidato a governador do PSB jurou não apenas respeitar como até ampliar.

Lamentavelmente, na sua arrogância e soberba desmedidas o monarca não deve perceber que está empurrando a UEPB para o abismo do retrocesso, matando os avanços e melhorias do fazer acadêmico, da qualificação de seus docentes e técnicos e da crescente qualidade da força de trabalho que vem formando.

Só pelo que vem fazendo contra a UEPB não preciso recorrer a outros exemplos para me convencer de que estou, estamos todos, diante do mais implacável perseguidor que a Paraíba já viu ascender ao Governo do Estado.

Não preciso sequer mencionar o que ele fez contra professores e alunos do ensino público médio e fundamental mantido pelo Estado, do spray de pimenta nos olhos de estudantes adolescentes à destituição de dirigentes eleitos e o absurdo fechamento de escolas.

Bastaria o conjunto da obra na educação para me certificar do seguinte: se esse governo é capaz de cometer atos como aqueles contra educadores e educandos, certamente não vê o menor problema em desrespeitar direitos e conquistas salariais de policiais civis e militares, de médicos e ocupantes das demais carreiras da saúde, de auditores fiscais e de servidores do antigo Ipep, entre outras categorias.

O único alento, por enquanto, é saber que um dia tudo isso vai ter fim. Pois se não cabe mais ilusão de que o governador repense ações, métodos e decisões, deve consolar a todos a certeza de que todo abuso de poder e de autoridade será castigado.

Aí eu quero ver aonde o soberano vai se esconder da enorme euforia, da imensa alegria que inevitavelmente tomará conta de todos os prejudicados e perseguidos por esse descomunal equívoco que as urnas de 2010 impuseram aos paraibanos mais crédulos ou mais dependentes de governo.

O Mac e a UEPB

A mídia chapa-branca tentou diminuir e até esconder o protagonismo da UEPB na construção do novo Museu de Artes Assis Chateaubriand (Mac) e, muito mais, o papel da reitora Marlene Alves nessa história.

Esqueceu, contudo, que não dá para apagar o fato de que logo no seu primeiro ano de reitorado a Professora Marlene cuidou de encaminhar projeto ao Ministério da Cultura com o objetivo de restaurar e recuperar o acervo Assis Chateaubriand.

O projeto não teve sequência no MinC por razões que a reitora prefere não mencionar, mas aí a então primeira-dama Sílvia Cunha Lima ‘entrou no circuito’ e propôs ao governador Cássio Cunha Lima a construção de um prédio próprio e adequado para o Mac, de modo a assegurar guarda e proteção do acervo.

Cássio alocou as verbas necessárias à obra e a entregou aos cuidados da UEPB, que realizou, enfim, o projeto inicial. Quanto à participação do Ricardus I, foi de grande valia. Não ajudou, mas vamos ser justos. Dessa vez, pelo menos não atrapalhou.

Por essa e outras…

“Diante da minha insistência em denunciar o que acho errado, tentam me convencer de que a melhor forma de viver é passar despercebido, ser ‘silenciado’ (…) Ser talvez um merda entre os demais deverá ser a regra número um para garantir às nossas existências o máximo conforto possível”.

É o que diz Robson Amadeu Cordeiro, auditor fiscal do Estado, em mais um candente artigo (‘O silêncio que fala’) em defesa de sua categoria, uma das mais perseguidas pelo Ricardus I.