Por mais que a proximidade de Olavo com a campanha de Bolsonaro fosse conhecida, sua influência ainda causa espanto e certa contrariedade entre colaboradores do presidente na área educacional. O escritor indicou o ministro Ricardo Vélez Rodríguez e ganhou ainda mais força na pasta após uma briga nos bastidores da transição.
Apesar de o cargo de ministro da Educação ser considerado estratégico para o país, o nome do escolhido só foi anunciado no fim de novembro, quando a equipe de Bolsonaro já trabalhava havia semanas na transição com o governo Michel Temer (MDB).
“A mim surpreendeu muito [a influência de Olavo]. Não que eu desmereça o pensamento do Olavo de Carvalho, tenho todo respeito por ele, mas chegou um cara [Vélez] ligado a ele que não participou do grupo da transição. Isso chamou muito a atenção”, diz, reservadamente, o apoiador que trabalhou na equipe de Bolsonaro.
Briga às vésperas da posse e desconvites
Em 28 de dezembro, às vésperas da posse, a ruptura entre Vélez e o cientista político Antônio Flávio Testa consolidou a força dos seguidores de Olavo na nova equipe do MEC. Testa, que foi professor na UnB (Universidade de Brasília) e é vinculado à FGV (Fundação Getúlio Vargas), atuava como consultor de Bolsonaro na área de educação desde abril, na pré-campanha, e estava escalado para ser o secretário-executivo do MEC, cargo abaixo apenas do de ministro.
Naquele dia, Vélez desconvidou Testa e todos os indicados pelo cientista político para trabalhar na secretaria-executiva, órgão considerado o coração do ministério. Com isto, pôde terminar a montagem da equipe que assumiu a pasta, recheada de indicados por Olavo.
Ao se integrar à equipe de transição, Vélez teria deixado de lado ao menos parte dos planos para a educação elaborados por civis e militares das equipes de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e a transição.
“Os planos do Bolsonaro [para a educação] foram muito bem feitos. A partir do momento em que foi nomeado ministro esse cidadão jogou os planos por água abaixo”, afirma o ex-integrante da transição, crítico da forma como Vélez montou a equipe.
Divergências em torno de indicações para o ministério aumentaram o atrito entre Vélez e Testa. O cientista político teria passado por constrangimentos ao ser desautorizado pelo ministro após selar a permanência de ao menos um funcionário do MEC que já trabalhava na gestão Temer.
De acordo com ele, os membros dos grupos da campanha e da transição não eram próximos de Olavo, o que é corroborado pelo consultor em educação Stavros Xanthopoylos, diretor de relações internacionais da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância). Ele também trabalhou no plano de educação durante a campanha eleitoral e chegou a ser cotado para comandar o MEC.
“Nada da nossa planificação foi relacionada com o Olavo. A prioridade era como a gente trataria a educação no amplo sentido. Não sei o quanto [do plano] foi adiante”, declara Xanthopoylos.
A escolha do nome para comandar o MEC virou uma novela no período da transição. Além do próprio Stavros, outros nomes foram cogitados, como o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. A opção por Mozart chegou a ser dada como certa em 21 de novembro, mas foi reprovada por evangélicos ligados a Bolsonaro, o que abriu caminho para a confirmação de Vélez no dia seguinte.
Radicalização ideológica e pouca experiência em gestão
Um dos reflexos da influência de Olavo seria a adoção, por parte do ministro, de um tom mais radical do ponto de vista ideológico.No discurso de posse, Vélez criticou aquilo que seriam marcas do campo da esquerda na política, como o marxismo cultural, que prometeu combater, e o pensamento gramsciano.
Com isto, Vélez não estaria dando a devida importância à multiplicidade de obrigações e necessidades da pasta, o que poderia se agravar com a nomeação de ex-alunos dele e do escritor com pouca experiência em gestão.
“Enquanto não ficar clara a missão [do MEC], se cria uma dúvida grande sobre o projeto, sobre o que vai ser priorizado e como será feito. Cabe ao ministro explicar qual é a sua missão específica. Não é aquilo que ele falou no discurso, que veio para acabar com o marxismo, com Gramsci, com o lulopetismo, porque isso já acabou. São argumentos obsoletos. Precisa saber qual é o próximo passo. Os líderes têm que mostrar ao que vieram e como vão fazer as coisas acontecerem”, analisa o integrante da equipe de transição.
Xanthopoylos é mais otimista, mas com ressalvas. Acredita que pontos dos planos elaborados anteriormente pelas equipes que auxiliaram Bolsonaro apareceram no discurso de posse de Vélez e avalia que o ministro tem sólida formação. Apesar disso, admite não conhecê-lo o suficiente para avaliar a capacidade de Vélez.
“Não o conhecia. Vi o ministro por 20 minutos no dia seguinte à nomeação. Parece uma pessoa extremamente bem informada, tem sólida formação acadêmica, é inteligente e tem uma experiência boa acadêmica. Fora isso, não tenho como comentar e dar opinião.”
Vélez não tem dado entrevistas. O UOL procurou o MEC para que o ministro pudesse informar as ações planejadas pela pasta e dizer se descartou ou aproveitou os planos feitos na campanha eleitoral e na transição. A pasta evitou responder as questões. “O MEC vai informar os programas, projetos e ações à medida que eles forem ocorrendo. Já o plano de ações está em alinhamento com a Presidência da República, que centraliza essas questões de todo o governo”, diz em nota a assessoria de imprensa do ministério.
Fonte: UOL
Créditos: Wellington Ramalhoso