bomba no futebol

FALSIFICAÇÃO, CHANTAGEM E AMEAÇAS: Candidato derrotado na eleição da FPF diz que eleições foram fraudadas e vai acionar justiça

Candidato derrotado na eleição de outubro afirma que novo escândalo aumenta a desconfiança sobre o futuro do futebol paraibano e que não enxerga outra saída a não ser a via jurídica

Uma nova bomba atingiu o futebol paraibano. Nesse domingo, o programa Esporte Espetacular, da TV Globo, exibiu uma reportagem que mostra uma suspeita de fraude na eleição para a presidência da Federação Paraibana de Futebol (FPF), realizada em outubro, que teve a advogada Michelle Ramalho como vencedora. O novo escândalo expõe suspeitas de falsificação documental, compra de votos e até chantagem e ameaça no pleito que colocou a dirigente na cadeira de mandatária após triunfo por 26 a 24 votos. Derrotado no pleito, o advogado Eduardo Araújo sempre se mostrou indignado pela forma como algumas ligas desportivas foram registradas e conseguiram o direito ao voto. Logo após o processo, o dirigente afirmou que não entraria na Justiça. No entanto, a polêmica atual mudou todo o pensamento de Eduardo, que agora considera a situação insustentável.

Novo escandâlo envolve CBF, STJD e eleição de presidente da Federação Paraibana de Futebol

Segundo Eduardo Araújo, a suspeita de fraude na eleição para a escolha do novo presidente amplia a desconfiança do povo paraibano para com o futebol do estado. Além disso, o advogado aponta que o envolvimento de Michelle Ramalho com figuras investigadas pela Operação Cartola – que apurou esquemas de corrupção nos jogos da Paraíba – é a principal causa da grande crise instaurada dois meses após a realização do processo eleitoral.

A partir de agora, para ele, não existe outra saída a não ser preparar uma ação na Justiça.

– Sempre entendi que o futebol paraibano precisa de estabilidade e, mesmo sabendo das inúmeras irregularidades que aconteceram nas eleições, preferi deixar a FPF seguir seu caminho e desejei boa sorte à nova presidente. Entretanto, ela se manteve abraçada com investigados e indiciados na Operação Cartola, além das denúncias agora veiculadas em rede nacional. Infelizmente, vou ter que tomar providências para continuar defendendo o futebol da Paraíba como sempre fiz – declarou o advogado.

Michelle Ramalho e Eduardo Araújo disputaram o pleito em outubro — Foto: Pedro Alves/GloboEsporte.com

Eduardo Araújo informou que está somente aguardando o fim do recesso da Justiça para prosseguir com o caso. Além disso, também contou que já está ciente que tanto o Ministério Público da Paraíba quanto o Federal estão investigando todo o processo eleitoral.

Vale ressaltar que o advogado teve uma curta passagem pela Federação Paraibana de Futebol durante a gestão do presidente banido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Amadeu Rodrigues. Um dia antes da divulgação da Operação Cartola, em abril, o dirigente havia sido anunciado como diretor executivo da entidade.

Interventor da CBF na FPF antes da eleição, João Bosco Luz é acusado de ser cabo eleitoral de Michelle Ramalho — Foto: Lucas Barros/TV Cabo Branco

Os meses turbulentos de operação, com direito a duas intervenções da CBF, e os seus desfechos jurídicos aumentaram a responsabilidade sobre a eleição de outubro. E, se lançando como o candidato que traria um futebol ético e eficiente, Eduardo Araújo registrou a sua chapa, garantido o apoio de vários clubes tradicionais do estado.

O caminho parecia promissor para o advogado; todavia, a disputa se acirrou nas últimas semanas antes do pleito, quando a advogada e então auditora do STJD, Michelle Ramalho, entrou no páreo, equilibrando um processo que parecia bem encaminhado para Eduardo.

A grande questão que rendeu suspeitas de fraude se deve ao fato de que alguns clubes e ligas desportivas, que até então não estavam aptos a participar da eleição, foram registrados dias antes do pleito. Nesse domingo, porém, a incoerência foi exposta pelo depoimento de Ademário Cavalcante, ex-diretor de registro da FPF. Segundo ele, o segundo interventor da CBF na entidade em 2018, João Bosco Luz, pediu para regularizar as agremiações que não poderiam votar, mesmo que o sistema da Confederação Brasileira de Futebol apresentasse essas agremiações como inativas.

Eduardo Araújo conver com Arlan Rodrigues, um dos seus candidatos a vice, durante a eleição — Foto: Pedro Alves/GloboEsporte.com

Eduardo Araújo conver com Arlan Rodrigues, um dos seus candidatos a vice, durante a eleição — Foto: Pedro Alves/GloboEsporte.com

De acordo com o estatuto da entidade, ligas e clubes não poderiam votar em caso de inatividade no sistema da CBF. O documento ainda deixa claro que apenas ligas com competições reconhecidas nos dois anos anteriores e com a documentação em dia poderiam votar. Sobre os clubes, eles precisam ter mais de dois anos de filiação. Ademário afirmou que não aceitou fazer as inclusões e que, por isso, foi afastado de suas funções.

Uma funcionária da CBF foi designada para o cargo de diretor de registro, o dia da eleição chegou e o equilíbrio foi evidente. Tanto é que na primeira bateria de votos, o resultado terminou empatado: 25 a 25. O placar obrigou a Comissão Eleitoral a novamente convocar os representantes de clubes profissionais, amadores, e as ligas a votarem. Na segunda bateria, porém, um dirigente modificou o voto e apoiou Michelle Ramalho, que foi eleita, com 26 a 24 votos, a nova presidenta da FPF.

Apesar de Eduardo ter evitado maiores discussões e acusações, um dos seus canditados a vice, Arlan Rodrigues, já havia questionado o pleito e a participação, para ele, muito ativa do interventor João Bosco Luz. Na ocasião, o dirigente afirmou que entraria na Justiça.

Eduardo Araújo ainda acredita que tudo o que foi veiculado no programa Esporte Espetacular é só um pedaço do que pode ser algo bem pior envolvendo o futebol paraibano, além de lamentar que 2019 comece com uma nova polêmica para a Paraíba.

– Essa matéria, pelas informações e provas que foram recolhidas nos últimos meses e que me foram apresentadas, é só a ponta do iceberg. Uma pena que a FPF não consiga sair das páginas policiais.

Questionado sobre uma suposta conivência da CBF e do STJD na eleição que levou Michelle Ramalho ao cargo máximo do futebol do estado, o advogado disse que não acredita em um direcionamento das instituições, reafirmando a seriedade de ambas. Contudo, deixou claro que considera necessária uma investigação e, em caso de participação de algum representante, que seja punido judicialmente.

– Não acredito que a instituição em si tenha direcionado algo. Se, por ventura, os indivíduos tenham errado, que sejam investigados e punidos. Mas eu tenho convicção de que o STJD e a CBF são instituições sérias – encerrou.

Michelle Ramalho em encontro com Coronel Nunes, atual presidente da CBF — Foto: Divulgação/CBF

Michelle Ramalho em encontro com Coronel Nunes, atual presidente da CBF — Foto: Divulgação/CBF

GloboEsporte.com tentou entrar em contato com a presidenta Michelle Ramalho, mas não obteve um retorno. Anteriormente, a mandatária da FPF se manifestou por nota. Disse que está à disposição para esclarecimentos e que a eleição foi a mais democrática da história do futebol paraibano. Ela afirmou que as denúncias devem ser recebidas com naturalidade porque “as mudanças em curso no futebol paraibano estão causando enormes desconforto àqueles que estão acostumados com as ilegalidades de antes da minha posse”.

Fonte: G1
Créditos: G1