A realidade desmente a realeza

Rubens Nóbrega

O governador Ricardo Coutinho disse ontem que a violência na Paraíba diminuiu. Presumo que discorde de Sua Majestade a família do mecânico Fábio Gomes, 30 anos, assassinado com um tiro no rosto na madrugada de domingo em Uiraúna.

Quatro ou cinco horas antes, José Pereira Ferreira, 61 anos, foi assassinado a tiros em Pombal. O acusado, morador de Paulista, foi preso em flagrante pela PM, ao contrário do que ocorreu com o PM suspeito de ter matado o rapaz de Uiraúna.

“A violência diminuiu, governador?”. Deve estar perguntando quem viu ou soube do trucidamento de Wericles Lopes, 18 anos, morto a tiros no sábado na rua onde a gente pega a balsa da travessia Cabedelo-Costinha.

E o que devem estar dizendo sobre a estatística governamental a mulher e os filhos de Paulo da Silva Lima, 32 anos, motorista de alternativo assassinado a tiros no começo da tarde daquele mesmo dia em Santa Rita?

E o que diria a mãe de Robson da Silva, 17 anos? Ela viu o filho ser fuzilado na sua frente quando voltava com ele de uma lanchonete no Jardim 13 de Maio, Capital, na madrugada de sábado.

É bem possível que os parentes e amigos de Rodrigo Pereira, 31 anos, também não concordem com o soberano. Rodrigo levou três facadas de um desconhecido na noite de sábado, no Cristo, Capital. Estava entre a vida e a morte no Trauma.

Foi também no Cristo que Adeildo dos Santos, 42 anos, entrou no último domingo para as estatísticas das vítimas fatais de motoqueiros assassinos.
Quase na mesma hora, começo de noite, pertinho de onde mataram Adeildo, no Bairro dos Novais foi assassinado outro homem, mas esse a Polícia não conseguiu identificar. A vítima levou quatro tiros e uma facada de misericórdia.

Outro desconhecido, esse aparentando 25 anos, foi morto a facadas no Funcionários I, na mesma noite sangrenta do domingo em João Pessoa. Ninguém apareceu para revelar o nome do finado nem reclamar o corpo até ontem.

Pra fechar, na Torre, por volta das nove da noite do domingo, Janaína Raquel, 33 anos, foi abatida a tiros por outra dupla (ou seria a mesma?) de motoqueiros assassinos. O assassinato, em plena Beira-Rio, foi testemunhado pelo marido da vítima.

Mas a escalada da violência não se deteve quando a segunda começou. Enquanto governador e secretário de Segurança exaltavam-se em Palácio, no centro de Patos a Polícia recolhia o corpo do mototaxista José Amorim, executado a tiros à luz do dia.

Horas antes da solenidade em Palácio, um garoto de 16 anos era assassinado a tiros por ladrões que invadiram uma casa na zona rural de Pocinhos. Já em Lagoa Seca, após o encerramento da trabalhada solenidade palaciana, dois encapuzados invadiram um bar, espancaram o proprietário e mataram um agricultor aposentado com dois tiros.

Por fim, o assalto do dia a um agência dos Correios aconteceu na tarde de ontem em São José da Lagoa Tapada, região de Sousa, cidade onde há quatro dias um grupo de estudantes foi assaltado quando pedalava na BR 230.

Felicidade que ninguém saiu ferido nos assaltos do Sertão. A mesma sorte não teve um PM de Mamanguape. Ele e um bandido saíram gravemente feridos de tiroteio numa loja da cidade que estava sendo assaltada no meio da tarde dessa segunda.

Bem, isso foi o que consegui apurar sem muito esforço nos melhores portais do ramo ‘se espremer sai sangue’, mas que nesse caso prestam inestimável serviço aos leitores e à verdade dos fatos.

Afinal, o noticiário sobre a criminalidade na Paraíba, se outra serventia não tiver, pelo menos nos dá uma boa idéia da grande diferença que existe entre realidade e realeza em nosso Estado.

 

IPESPE: AGRA MELHOR QUE RC
A última pesquisa de opinião realizada pelo Ipespe, finalzinho de maio último, também levantou a opinião dos eleitores de João Pessoa sobre os governos de Luciano Agra e de Ricardo Coutinho e da forma de governar de um e de outro.

Com 41% de aprovação tanto pra ele como para o seu governo, o prefeito da Capital não está com essa bola toda que pensava, não. Mas, se serve de consolo, está um pouquinho melhor do que o governador, que tem aprovação de apenas 37% para o governo e de 38% para a sua forma de governar.
BIRA E O EPISÓDIO DO RECIFE
O vereador Bira dá outra versão à abordagem do prefeito Luciano Agra ao governador Eduardo Campos, semana retrasada no Recife. Confirma o local do encontro (hotel em que foi realizada solenidade da Compesa), mas garante que “o anfitrião pernambucano fez questão de convidar o Prefeito Luciano Agra para outro ambiente reservado, com os cuidados inerentes à função que ambos exercem, mas com a intimidade de correligionários e amigos”.

A coluna publicou que Agra teria interrompido uma conversa de Eduardo com jornalistas ao apelar, alto e bom som, pelo direito de concorrer à reeleição. O governador teria explicado a seus interlocutores quem era aquele homem de chapéu Panamá e em seguida retirou-se para outros compromissos. Esse relato me veio de fonte fidedigna, baseada em testemunha ocular da história.