Uma brincadeira entre crianças na quadra de um condomínio fechado, na Octogonal, virou caso de polícia. Um menino de 6 anos levou um soco no rosto, foi empurrado e caiu no chão. Os suspeitos são os pais de outro garoto da mesma idade.
O casal pensou que a criança tivesse batido no filho deles, depois que o menino subiu no apartamento dos avós com sangramento na região da boca. O pai, então, teria descido até a quadra de esportes para tirar satisfação. O relato é que o homem segurou os braços do menino para trás para que o filho machucado desse um soco no rosto do colega. Em seguida, a mãe também teria ido à quadra e empurrado o garoto no chão.
A confusão aconteceu na tarde de domingo (9/12) na quadra 4 da Octogonal, onde moram os avós da criança que tropeçou na bola. Os pais do menino tinham ido passar o domingo na casa dos patriarcas. Toda a sequência da agressão foi registrada em imagens do circuito interno do condomínio. Elas estão com a Polícia Civil para investigação da Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente (DPCA).
Tia do garoto agredido, Jucinea das Mercês Nascimento, 43 anos, contou que o filho dela, de 9 anos, desceu para brincar no playground com os três primos. “Estavam todos juntos na quadra, brincando com a bola do meu filho, quando a outra criança tropeçou sozinha na própria bola, caiu e bateu a boca no chão. Algumas adolescentes que estavam lá e o ajudaram e o levaram para os pais”, relata.
A servidora pública suspeita que alguém deve ter dito para a família do garoto que feriu a boca que o sobrinho dela havia agredido o outro garoto, o que, conforme as imagens mostram, não aconteceu. “O menino tropeçou sozinho. Mesmo assim, as imagens mostram que o pai desce transtornado, vem puxando o filho pelos braços, entra na quadra de esportes e parte para cima do meu sobrinho”, lamenta.
As imagens do circuito interno mostram que um homem caminha em direção ao grupo. Ele vai até o menino, coloca os braços dele para trás, e o garoto que está com o adulto dá um soco no rosto da vítima. Depois, uma mulher surge na imagem. Seria a mãe do menino que tropeçou. Ela anda em passos apressados, empurra a vítima, que cai no chão, e vai embora.
Quando a agressão acontece, as outras crianças ficam acuadas no alambrado da quadra. Algumas delas aparecem nas imagens chorando. “Pelas imagens, a criança inclusive reluta em bater no meu sobrinho, porque, no fundo, sabia que ele não tinha feito nada. As adolescentes que estavam na quadra contaram que a mãe dele gritava muito. Existe até uma suspeita de que bateram com a cabeça do meu sobrinho no chão, quando ele já estava caído”, diz Jucinea.
Socorro
Jucinea explicou que quando tudo aconteceu ela tinha ido buscar o filho adolescente no local de prova do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB). Quando voltou, um vizinho contou o que tinha acontecido. “Ele estava na piscina e viu todo o momento. Assim que percebeu o que estava acontecendo, pulou a grade e foi ajudar meu sobrinho. Ele ficou revoltado. Inclusive me alertou do crime de se agredir uma criança”, destaca.
Depois de se inteirar sobre o caso, Jucinea foi até o apartamento da família. “A mãe estava na janela e gritava dizendo que eu não dava educação para meu sobrinho. Eu comecei a ficar transtornada, porque, mesmo com tudo o que aconteceu, eles ficaram achando que a ação foi correta. Meu sobrinho não bateu no filho dela, como as próprias imagens mostram. Ele quem tropeçou sozinho na bola”, reforça.
A servidora pública registrou ocorrência na DPCA após ter acesso ao circuito interno de vídeo. Ela conseguiu pegar as imagens na segunda-feira (10/12) no fim do dia e na terça (12/12) procurou o Departamento de Polícia Especializada (DPE).
Férias
O menino agredido mora com os pais na Bahia e está de férias com a irmã na casa de Jucinea para o aniversário do primo de 9 anos. Segundo a tia, a mãe do menino chora ao lembrar do episódio, e as crianças, assustadas, ficam recordando o que aconteceu.
“Só tive coragem para contar à minha irmã tudo que aconteceu na segunda-feira. Agora sou eu chorando de cá e ela, de lá. Os meninos não descem mais sozinhos para brincar e, nos momentos em que estão juntos, os escutamos conversando sobre o que poderiam ter feito para salvar o priminho da agressão”, conta a servidora pública.
Jucinea agora, espera, que o fato possa passar uma mensagem para a luta pelo fim da violência. “A sociedade não pode agir com tanta violência por algo banal. Hoje, as pessoas não têm mais paciência para conversar. Do jeito que os pais desceram, se tivessem uma arma, poderiam atirar. As pessoas banalizaram muito as atitudes”, lamenta.
Ela também almeja que as crianças sejam tratadas com respeito. “Ninguém espera de um adulto uma agressão contra uma criança. Estamos todos estarrecidos, inclusive o condomínio em geral. Haverá uma reunião após esse episódio lamentável. Crianças são inocentes e precisam de proteção”, destaca.
Reunião
Após o ato, o condomínio convocou uma reunião para sexta-feira (14/12), as 9h30. A demanda administrativa dos moradores é que os pais da criança, que não moram no prédio, sejam impedidos de acessar a área até que a situação seja resolvida para que não haja retaliação. “Hoje estão todos indignados. Pedimos o bom senso dos avós para que os pais não venham aqui nesse período. O avô inclusive pediu desculpas, mas o fato causou um trauma nas crianças e nos adolescentes. Estão todos muito assustados”, conta o síndico presidente do condomínio, Mauro Assunção de Camargo.
Ele forneceu as imagens para a tia da criança agredida e todos os dados para registro de ocorrência. No entanto, Mauro reforçou que o condomínio agirá conforme decisão judicial. “Confio na lei e o condomínio anda na lei. O que for determinado nós cumprirmos”, informa.
O Correio tentou falar com o avô da criança, proprietário da unidade, mas a informação dada é que o advogado da família recomendou não conversar com a imprensa neste momento.
Fonte: Correio Brasiliense
Créditos: Correio Brasiliense