O médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, foi acusado de abuso sexual por mulheres que o procuravam para tratamento espiritual. Os relatos foram divulgados no programa ‘Conversa com Bial’, da ‘TV Globo’, na sexta-feira (7).

João de Deus faz atendimentos espirituais na Casa de Abadiânia, localizada no município de Abadiânia, no interior de Goiás, há mais de 40 anos. A cidade tem menos de 19 mil habitantes e recebe até 10 mil pessoas por mês para atendimentos, sendo que a maioria é estrangeiro.

Segundo as vítimas, o medo de uma possível “retaliação espiritual” fazia com que elas permanecessem em silêncio. “Ele dizia: ‘Se você não fizer o que eu estou falando, a sua doença vai voltar'”, disse uma brasileira na condição de anonimato.

“Tinha muito medo deles mandarem espíritos ruins, da minha vida se tornar miserável, de não conseguir dormir”, falou a holandesa Zahira Mous.

No total, o apresentador Pedro Bial e a repórter Camila Appel ouviram 10 pessoas diferentes com o mesmo tipo de relato. Quatro deles foram expostos no programa dessa sexta.

A coreógrafa holandesa Zahira Lienike Mous contou ter ouvido falar do médium pela primeira vez em 2017. Ela diz que procurou por ele quando precisava de ajuda espiritual. Zahira afirmou ter presenciado milagres e curas no local. Ela chegou a atuar como assistente de João de Deus em cirurgias físicas.

A holandesa conta que foi à “Casa” para pedir a “cura” de um abuso sexual sofrido no passado. Após ser atendida por uma entidade, foi orientada a ter uma consulta particular com João em seu escritório: “É um cenário bem bizarro. Você, de certa forma, se sente especial, acha que vai receber a cura”, revela.

A mulher disse que o cômodo conta com um banheiro grande, onde cabe até um sofá. Levada para lá, ainda segundo ela, o médium a colocou de joelhos de frente para ele, “abriu a calça, colocou a minha mão no pênis dele e começou a movimentar a minha mão”.

“Estava em choque. Enquanto isso, ele continuava falando da minha família e disse que eu deveria sorrir. (…) Depois, ele se limpou, me levou ao escritório, abriu um armário de pedras preciosas e mandou escolher a que eu mais gostasse”, contou. “Não sei quantos dias depois, ele me puxou de novo para o banheiro. Um padrão parecido, mas ele deu um passo adiante: me penetrou por trás”, completou.

Zahira guardou a história por quatro anos, até que resolveu fazer o relato em rede social. A possibilidade de ajudar outras mulheres a encorajou a encarar a exposição: “Eu realmente espero poder ajudar outras mulheres a saírem dessa sombra. Porque nós não precisamos sentir vergonha. Ele tem que sentir vergonha. E todas as pessoas que o protegem para que ele continue fazendo o que faz”.