Os pais da criança

Rubens Nóbrega

O senador Vital do Rêgo historiou magistralmente, ontem, a gênese do São João de Campina Grande:

– Enivaldo deu o ponta-pé inicial com o forró dos Coqueiros de Zé Rodrigues, depois veio o prefeito Ronaldo que deu o nome de Maior São João do Mundo ao evento, em seguida seu filho Cássio popularizou os festejos e por fim Veneziano que profissionalizou, qualificou e internacionalizou o evento.

Vital fez justiça a Enivaldo, que sempre reivindicou um lugarzinho no DNA da festa. Merecido. Quando prefeito de Campina, de 1978 a 1982, neste último ano ele montou nas Boninas o Palhoção, legítimo antecessor do Parque do Povo, o forródromo construído por Ronaldo Cunha Lima entre 1984 e 1986, se não me trai a memória ruim.

A grande festa campinense é realmente uma maravilha. Disparado, o maior evento turístico da Paraíba, apesar de Sua Majestade, o nosso atual governador, discordar radicalmente de tal conceito.

Digo isso porque ano passado Ricardo Coutinho cozinhou por dois meses ou mais uma audiência solicitada pelo prefeito Veneziano Vital para acertar a até então tradicional ajuda financeira do Governo do Estado aos festejos. Quando finalmente recebeu o governante campinense, deu um não mais redondo que lua cheia na Serra da Borborema.

Ricardo não apenas negou apoio. Segundo revelaria depois o senador Vital, o governador aproveitou para ironizar o alcaide de Vila Nova da Rainha e diminuir o Maior São João do Mundo. “Não é lá essas coisas que vocês dizem”, teria dito o imperador a um constrangido prefeito, que, além de tudo, levou um chá de cadeira daqueles até ser recebido no interior do Gabinete Real.

Mas isso é passado. O importante é que desde essa sexta-feira, 1º de junho do ano da graça de 2012, Campina celebra os ritmos, as cores e os sabores do que inda resta de mais genuíno de nossas tradições festeiras. Com uma particularidade: nesta edição da festa, a cidade vive, ainda que simbólica e fugazmente, um raro momento de pacificação política na homenagem que o prefeito Veneziano Vital faz a Ronaldo Cunha Lima, a quem por justiça a Paraíba inteira dedica o São João deste ano.

Quem é de Campina ou conhece um pouco a história das pelejas paroquiais pelo poder municipal sabe que gestos como esse têm o seu impacto e motivam mil e uma especulações e apreensões dos fanáticos seguidores de um lado e de outro. Mesmo que a iniciativa não tenha qualquer outro propósito além de uma simples homenagem por reconhecimento devido.

De qualquer sorte, como tudo que acontece por lá, acaba sendo algo grandioso. Tanto que Malfredão mandou-me mensagem ontem, entusiasmado com o que considera o primeiro passo rumo a uma ‘união imbatível’ em futuro próximo. O que estaria por vir, na visão e ardente querência do meu amigo, ele exprime com fé de devoto: “Eita santo forte esse São João! Obra cada milagre…”.

E a nossa Comissão da Verdade?

Pernambuco já instalou a dele. E foi ontem à tarde, em solenidade presidida pelo governador Eduardo Campos no Palácio do Campo das Princesas, no Recife. Foram empossados os nove componentes da Comissão Estadual da Memória e da Verdade, encarregada de “apurar e esclarecer crimes de sequestro, morte, desaparecimento e tortura ocorridos no território de Pernambuco ou contra pernambucanos, ainda que fora do Estado, entre os anos de 1946 e 1988”.

Aqui, segundo o Professor Lúcio Flávio, secretário executivo do Gabinete Civil do Governador, providências estariam em andamento, conforme revelou em contato com a Professora Neiliane Maia, que torce pelas diligências e sentido de urgência em Palácio. Afinal, “são só dois anos para o resultado final da comissão nacional, prazo que obviamente impõe maior celeridade às comissões estaduais”, lembra ela.

RC foi desrespeitoso com Agra

Soube do transe a que teria chegado a platéia que lotava anteontem à noite o auditório do Hotel Ouro Branco, de João Pessoa, quando o governador Ricardo Coutinho lamentou ter passado o tempo em que ‘menino traquinas’ feito o prefeito Luciano Agra levava umas palmadas na bunda pra saber quem manda.

A traquinagem de Agra consiste na sua determinação de não mais abrir “nem pr’um trem” no que tem como seu direito de disputar a reeleição, direito ao qual havia renunciado no início do ano, ato que provocou a sua substituição pela jornalista Estelizabel Bezerra, ex-secretária de Planejamento da Prefeitura da Capital.

Desde então, alegando que Esteliz não decola, Agra ensaia seu retorno ao páreo, mas esbarra no veto do governador Ricardo Coutinho ao nome do prefeito, que, segundo o absoluto, não consegue traduzir em intenções de voto a suposta grande aceitação do eleitorado da Capital ao ‘projeto’ vitorioso em 2004.

Por essa e outras, até hoje ninguém sabe direito o que aconteceu entre Luciano Agra e Ricardo Coutinho para distanciar tanto assim dois velhos camaradas. Mas deve ter sido alguma coisa muito séria. Não fosse, um não trataria publicamente o outro de forma tão desnecessariamente desrespeitosa e grosseira.