Governo do abandono

Rubens Nóbrega

Não faz tempo, governantes da Paraíba costumavam rebatizar programas criados por seus antecessores e faturavam a ‘novidade’, confiantes na proverbial memória curta ou no que eles têm como burrice do povo.

Lembro bem um programa chamado ‘Chegou o Doutor’ que no governo seguinte virou ‘Saúde na Feira’ ou vice-versa. Era um consultório médico-odontológico volante montado numa van.

Aquele serviço funcionou mais ou menos por duas gestões, acredito, mas não sobreviveu a um terceiro mandato. Mas funcionou de qualquer forma e serviu a quem a ele recorreu, por onde apareceu.

Esse tempo acabou. Na Paraíba sob o jugo do Ricardus I, para efeito de publicidade e propaganda o governante prioriza obras, de preferência as concluídas, em conclusão ou iniciadas por governos anteriores.

Já no que diz respeito a programas de governo, a ações efetivas do tipo que faz bem sem olhar a quem, a marca da gestão atual é a descontinuidade, agravada pela paralisação de serviços e benefícios que o Estado vinha fazendo, concedendo.

Muita coisa que esse governo recebeu funcionando foi abandonada, desprezada mesmo. É o caso, por exemplo, de programas criados no governo de Cássio Cunha Lima de apoio aos atletas paraibanos.

Quem me chamou a atenção para mais essa faceta do nosso governo imperial foi o Coronel Francisco, ex-secretário de Esportes do Estado e atual presidente do Conselho Regional de Educação Física da Paraíba.

Interagindo ontem com o colunista no Twitter, @CelFrancisco revelou que após um ano e meio de paralisação de todos os programas pró-esporte na Paraíba, o governador cometeu um ato “decepcionante”.

Referia-se à sanção, terça-feira última, de uma lei que permite ao torcedor contribuir com os times de futebol da Paraíba através de quantia certa que autorize ser acrescida à conta d’água.

A medida é ‘boinha’, porque restrita ao futebol e clubes ditos profissionais. Sequer chega aos times amadores, que são em muito maior número, também merecem e precisam de algum incentivo.

Quanto aos demais esportes, até aqui, ó, zero! Inclusive porque o homem zerou ano passado o orçamento da Secretaria de Esportes.

Além do mais, perguntei ao governador, via Twitter, se a Cagepa poderá reter parte do dinheiro doado, considerando que os ‘grandes’ do futebol paraibano devem uma catarata à Companhia das Águas.

Reparem que não usei o termo cachoeira, que está na moda. Preferi catarata porque é maior, certamente mais adequada à ordem de grandeza do nosso soberano.

Evidente que Sua Majestade, pra variar, não me deu a menor no Twitter, como também não dá retorno aos meus pedidos de informações e esclarecimentos por i-meio, postura seguida fielmente, lógico, pela quase totalidade de seus auxiliares.

Se desse, se dessem, aproveitaria para perguntar o que o governo está fazendo, além de propaganda, para melhorar a vacinação contra a aftosa que foi um fiasco ano passado.

Perguntaria porque o Ricardus I conseguiu atrasar todos os avanços obtidos pelo Estado até então em matéria de defesa agropecuária, ‘proeza’ alcançada mediante economia de palitos com o corte de gratificações miseráveis que eram pagas a fiscais de rebanhos e manejo animal no interior.

Chegou a um ponto que um criador paraibano não consegue levar seu gado pra pastar onde tem pasto em qualquer outro Estado. Em plena seca braba!

Pois é, se o @realrcoutinho respondesse aos meus tuites, perguntaria também se ele já mandou repor as gratificações dos agentes sociais que fiscalizavam o Programa do Leite da Fac, outro que ele enfraqueceu, esvaziou e deu no que deu.

Perguntaria ainda se ele instalou apenas para fazer fita uma comissão de combate a torturas nos presídios, porque a comissão ficou só na instalação, há um ano. De lá pra cá, até onde sei, não atuou, sumiu.

Por conta de tamanha omissão ou inércia, muito provavelmente essa falta explica um pouco o Salve Geral de anteontem nas penitenciárias de João Pessoa.

Gastaria mais duas colunas mencionando situações como essas, porque, como disse, quando se trata de descontinuidade e paralisia de programas governamentais, esse governo parece ser dotado de um talento esférico. Onde bater, rola.

Se alguém aí duvida, pergunte ou responda: conhece, ouviu falar ou pode informar se existe alguma política pública consequente e eficiente que esse governo instituiu e vem desenvolvendo em saúde, educação e segurança?

Além de fechar escolas, destituir diretores eleitos, jogar spray de pimenta nos olhos de alunos pequenos etc., qual outra grande realização desse governo na educação?

Além de terceirizar hospitais e alugar ambulâncias por valores estupendos, qual outra grande realização desse governo na saúde?

Além de brigar com e perseguir entidades dos policiais, qual outra grande realização desse governo na segurança pública (salvo também, é claro, gabar-se das prisões que faz, sem se dar conta que o bom é evitar ter que prender)?

Diga aí, sinceramente, o que esse governo tem feito de bom pras pessoas, sobretudo as mais pobres e vulneráveis. E se, depois de ano e meio de gestão, contribuiu de alguma forma, mínima que seja, para mudar “o nosso belo quadro social”, como diria o poeta Raul Seixas. Eu dou um doce…