Agra X RC. E se for armação?

Rubens Nóbrega

Chico adotou ontem, em definitivo, a tese de que a briga entre Ricardo Coutinho e Luciano Agra não passa de engenhosa armação, alicerçada em ardilosa simulação, tudo para reeleger com alguma facilidade o atual prefeito de João Pessoa. O meu amigo tem bons argumentos e fundamentos para validar a sua tese. Vamos conferir logo mais. Antes, adianto que o que ele diz faz muito sentido e deixa a gente pensando se estamos mesmo diante de fatos ou de uma inteligentíssima farsa.

Primeiro. A primeva carta-renúncia de Luciano Agra tira o foco das principais candidaturas de oposição – Cícero Lucena (PSDB), José Maranhão (PMDB) e Luciano Cartaxo (PT) – e redireciona os holofotes para as candidaturas de Estelizabel Bezerra (PSB), governista, e de Nonato Bandeira (PPS), supostamente independente. Segundo. Livre do carimbo de pré-candidato, Agra fica muito mais à vontade para massificar o seu nome, fazendo campanha e propaganda eleitoral antecipada – disfarçadamente, lógico – com risco quase zero de vir a ser acusado formalmente por se comportar como verdadeiro e aplicado candidato na pré-campanha.

Terceiro. Ainda mais livre do peditório de aliados e vereadores, Agra recruta com a discrição possível o seu exército de cabos eleitorais, reforçando-o com dezenas de nomeações de novos comissionados, centenas de contratações de prestadores de serviço, aumentos salariais generosos para o funcionalismo municipal e uma série de inaugurações festivas, algumas de obras inexpressivas, mas todas embaladas pelos inflamados discursos dos mais notáveis oradores do Movimento Volta Agra.

Quarto. Paralelamente, enquanto a mídia se ocupa do pretenso desembarque de Nonato Bandeira do Coletivo RC ou de Estelizabel Bezerra como fruto de um ato de vontade pessoal de Ricardo, Agra posa de vítima de um líder mão-de-ferro que não admite dissensões nem contestações. Com esse perfil, surge a criatura revoltada com o criador, aliado fiel injustamente preterido por governante em baixíssima popularidade. Convenhamos: parecer distante de Ricardo, atualmente, dá muito ponto e cartaz a qualquer um. Numa eleição, então, pode render um bocado de votos.

Quinto. Na reta final das definições partidárias para as convenções que homologam postulações à Prefeitura e Câmara, o Volta Agra volta com força redobrada. Tanto que o prefeito se sente fortalecido o suficiente para passar por cima da autoridade de Ricardo Coutinho dentro do próprio partido e se dirigir diretamente ao presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, a quem apela através de carta e presencialmente pelo direito de renunciar à renúncia à candidatura.

Sexto. No último ato da tragicomédia, os principais atores encenam a reconciliação, a reaglutinação de todas as forças que dentro e fora do partido digladiaram-se de mentirinha até agora. Ricardo, para não contaminar a candidatura do prefeito com sua impopularidade real, diz que vai agir como ‘magistrado’, mas não deixará de votar nem de pedir voto para Luciano Agra.

Sétimo. Agra sai fortalecido do ‘embate’ com o rei e motiva toda a Girassolândia na defesa do seu nome, que tem inegável baixa rejeição e indiscutível boa aceitação junto ao eleitorado pessoense. Como se fosse pouco, seus principais possíveis contendores, à exceção do xará petista, mesmo sem a campanha ter começado oficialmente, desde já exibem intenções de voto com índices de chegada e não de partida.

Oitavo. Com todo o escrito seguido até o fim, a cena final da representação tanto pode ser um Ricardo Coutinho justificando a derrota do seu candidato com um “eu não disse?” como um Luciano Agra comemorando a vitória, mas aí dizendo que ganhou bonito, sobretudo porque tinha o apoio de Ricardo Coutinho e nem isso o fez perder.

DIA DE DEFINIÇÕES

Reconheço que a tese de Chico é bastante atraente e convincente, mas não acredito, sinceramente, que tudo isso seja encenação. Seria de um maquiavelismo sem tamanho e profundamente desleal para com o público. Seria fazer todo mundo de idiota, confirmando que eles nos têm na conta de rematados imbecis. Prefiro acreditar que esse pessoal não vai tão longe, apesar do slogan do Ricardus I. Ou vai?

Bem, os acontecimentos de hoje devem eliminar todas as dúvidas. Pela manhã tem entrevista coletiva do presidente municipal do PSB, Ronaldo Barbosa, demitido por Agra por dizer publicamente que não daria legenda para o prefeito se candidatar. À noite, reunião de emergência do partido, com as presenças do governador Ricardo Coutinho e de Luciano Agra, possivelmente.

A participação do prefeito vai depender do que Barbosa disser na coletiva e, muito mais, do quanto dura a inusitada coragem que Agra agora exibe, ao ponto de desafiar o seu criador e se dispor a bater chapa, se preciso for, com a criatura nº 2.

O LIVRO DE FÁTIMA

‘Guiadas pela Justiça, movidas pela Fé’ é o título do livro que a desembargadora Fátima Bezerra lança hoje, às quatro da tarde, no Salão Nobre do Palácio da Justiça, Centro da Capital.

Com prefácio de ninguém menos que a imortal Nélida Piñon e apresentação da ministra Eliane Calmon (STJ), a famosíssima e respeitadíssima corregedora do Conselho Nacional de Justiça, o livro da Doutora Fátima é mais uma obra que vem ao público sob o selo e padrão de qualidade da Forma Editorial.