Francisca Motta e o movimento anti-RC

Gilvan Freire

Alastra-se em todo o Estado, a partir dos grandes centros urbanos, o movimento de resistência ao modelo autoritário de governo inaugurado em Janeiro de 2011 pelo governador Ricardo Coutinho. Já são decorridos 35,4% do mandato e as coisas só pioram. E não há sinais de que RC possa mudar os rumos da administração que desconhece o papel de milhares de colaboradores, inclusive mais de 100 mil servidores públicos, além dos contribuintes, alguns transferindo seus negócios para outros estados, especialmente Pernambuco.

Tudo seria obrigatoriamente tolerável se os políticos estaduais não estivessem se entendendo com setores organizados da população na busca de uma resposta eleitoral ao governante, pois como se sabe, 2012 é ano das eleições municipais no país, tempo em que prefeitos, vereadores, deputados estaduais, federais, senadores e grandes líderes estão agindo nos palanques de seus liderados na esfera municipal. É precisamente neste cenário onde a onça vai beber água, e onde pode ser acuada pelos que acham que ela é predadora de suas ovelhas e crias e desassossega demais.

RC criou a figura do Orçamento Democrático, com que pretendia isolar os políticos e estabelecer laços diretos com a população, a fim de passar menos de 5% dos recursos orçamentários e decidir sozinho sobre como aplicar os 95% restantes. Sem contar com o baixo comparecimento da sociedade local, esse mecanismo não considera que nesses eventos RC é um ilustre estranho dos interesses eleitorais da base, e fala, quando comparece, a eleitores vinculados às lideranças municipais provinciais, as mesmas que elegeram o governador e podem destruí-lo, ou primeiramente isolá-lo.

AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS JULGARÃO RC

Não bastasse o que vem ocorrendo em João Pessoa e Campina, onde a gestão de RC sofre gravíssima contestação dos eleitores e da população de um modo generalizado, em Patos, a maior cidade do Sertão e o 5º maior colégio eleitoral da Paraíba, com raio de influência direta sobre mais de 40 municípios próximos, a saúde política de RC está bastante debilitada. Tanto quanto sua musculatura para enfrentar eleições.

Segundo o CORREIO DA PARAÍBA destes sábado e domingo, se as eleições fossem hoje, a deputada Francisca Motta, do PMDB, bateria o candidato do governo por 41% a 36%, sendo que o candidato do PSDB ricardista, apesar de muito jovem, médico e bastante simpático e nunca haver disputado eleição antes, ter a maior rejeição.

É bem verdade que, em Patos, a disputa se dar entre duas forças tradicionais em permanente confronto, que se alternam no poder: o lado liderado pela deputada Chica Motta (que tem seu ex-genro, Nabor Wanderley como atual prefeito), e o lado do ex-deputado Dinaldo Wanderlei, do mesmo ramo familiar de Nabor, pai do pré-candidato Dinaldinho e herdeiro político do tio Rivaldo Medeiros, por cujas mãos ingressou na atividade. Rivaldo e Dinaldo foram prefeitos também, brigaram, nunca se conciliaram e o confronto municipal se fixou entre o grupo por eles comandados e o de Francisca Motta e seus agregados, herança de seu falecido esposo, o ex-deputado Edivaldo Motta, robustecida pelo médico Ivânio Ramalho, que foi deputado estadual e prefeito.

Sabe-se que a deputada Francisca Motta, além de promotora de uma vasta obra de assistência social, que nos últimos anos ofereceu transporte permanente de doentes à capital em veículos custeados pelo seu gabinete, pertence a uma rara classe política imune a ataques morais de qualquer natureza. É a maior liderança do PMDB em terras do Sertão, sem nunca haver mudado de partido. Ela está vivendo o seu melhor momento político, depois de ter visto o ex-genro prefeito por duas vezes e o neto Hugo eleito deputado federal com uma votação consagradora a partir de Patos e adjacências. Todos estão de bem com as populações locais. De modo particular, com a população de Patos.

Enquanto isso, mesmo impressionando bem com sua desenvoltura médica e o charme pessoal, Dinaldinho parece começar a pagar o preço da aliança com RC, não bastasse o preço já muito elevado de herdar do pai um estilo político atingido por muitas críticas de setores mais esclarecidos, por conta do que perdeu o mandato e tornou-se inelegível em face da Lei Ficha Limpa.

Dois candidatos interessantes, mas dois modelos de projetos administrativos inteiramente diferenciados, e uma cidade imensa e próspera que só quer avançar. É só prestar atenção ao que o povo agora está pensando, e não terá como dar errado.