Por questão de justiça, não pode passar em branco o gesto de grandeza do senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), já no apagar das luzes do seu mandato de oito anos, participando da reunião da bancada federal com o governador eleito do Estado, João Azevêdo, que ele não apoiou na campanha eleitoral travada a céu aberto. Cunha Lima foi um dos padrinhos da candidatura de Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do prefeito da Capital, ao Palácio da Redenção, empalmando um projeto pífio e desarticulado que não logrou passar sequer para o segundo turno. Seria ocioso repetir que a falta de união das oposições e a ambição doméstica, familiar, que predominou na composição da chapa de Lucélio, enterraram a candidatura praticamente no nascedouro.
Cássio surpreendeu a Paraíba em 2010 aliando-se a Ricardo Coutinho, que despontava como líder estadual emergente, depois de vitoriosas passagens pela prefeitura de João Pessoa, qualificada pelo jornalista Otinaldo Lourenço como “o tambor” da Paraíba. Antes, como prefeito de Campina Grande, Cunha Lima se aliara ao Partido dos Trabalhadores, adotando como vice a líder sindical Cozete Barbosa, que assumiu a titularidade quando Cássio renunciou a fim de cumprir outras missões. Ficou gravada em alguns jornalistas a reação de espanto do ex-presidente Lula da Silva com a atitude de Cássio compondo-se com o PT na Paraíba, desafiando a cúpula tucana e arrostando ameaça de represálias internas que não se consumaram. Cozete destruiu-se politicamente depois por uma certa incompetência gerencial e pela pressão fisiológica de petistas paraibanos que queriam torná-la marionete para satisfazer seus apetites primitivos por cargos. Mais ou menos o que aconteceu com a paraibana Erundina quando foi eleita prefeita de São Paulo – quem mais lhe atrapalhou na gestão foi o PT que se julgava dono do cargo, como senão fosse necessário o carisma da candidata para se eleger.
A aliança entre Cássio e Ricardo não resistiu por muito tempo, sequer por algum tempo –logo em 2014 eles estavam em caminhos opostos, após uma convivência tumultuada, marcada por recados e indiretas de parte à parte, na demonstração da incompatibilidade de gênios entre o filho de Ronaldo Cunha Lima e o criador de um certo Coletivo socialista, fórmula que encontrou para sobreviver politicamente depois de ter sido garfado pelo PT, com o qual se reconciliou no apagar das luzes da segunda gestão. Cássio tem consciência de que foi dolorosa a derrota de 2018. Já havia perdido o governo do Estado para o próprio Ricardo em 2014. Tinha a expectativa de ser recompensado, pelo menos, com a reeleição, inclusive porque não foi um parlamentar omisso ou opaco. Pelo contrário, esteve na linha de frente das agitações políticas como a que foi provocada pelo impeachment de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, ganhou visibilidade como vice-presidente do Senado e, dentro do PSDB, cacife para bancar um apoio crítico ao governo do presidente Michel Temer, do MDB.
Os analistas políticos paraibanos foram surpreendidos com a derrota fulminante sofrida pelo senador Cássio Cunha Lima nas urnas este ano. O resultado foi tão desfavorável que Cássio praticamente ficou em última posição no clube de postulantes teoricamente com mais viabilidade de vitória. Acabaram elegendo-se o deputado federal e ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo, e a deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP, que fez, formalmente, dobradinha com Cássio no páreo senatorial. Cássio teve menos votos que o próprio Luiz Couto, do PT, lançado com o aval do governador Ricardo Coutinho ao Senado mas sem os sufrágios decisivos para a consagração. Cássio já fez sua autocrítica respeitando o julgamento do eleitorado e comprometendo-se a defender a Paraíba em outras trincheiras, não necessariamente na política. Agora, coroa sua trajetória com a maturidade do gesto dirigido ao governador João Azevêdo. Cássio aprendeu as lições da boa política e, decididamente, isto é uma exceção na paisagem paraibana.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes