Rubens Nóbrega

O bom jornalista deve ser, antes de tudo, um bom texto. Um texto claro, objetivo, sem firulas que enfeitem desnecessariamente o escrito, sem os rebuscados de linguagem que dificultem a compreensão do leitor, ouvinte ou espectador.

Já o excelente jornalista deve ser, além de um bom texto, um bom caráter. Um caráter que se mede pela correção no exercício profissional, no trato com os colegas e, sobretudo, pelo respeito à verdade dos fatos que noticia ou comenta.

A Paraíba tem bons e excelentes jornalistas. Nessa última categoria, a referência mais imediata, óbvia e fácil de fazer ou lembrar é Nonato Guedes. Tanto que se fizermos uma enquete entre colegas com esse propósito, ele ganha disparado.

Nonato possui todos os predicados que relacionei para definir um excelente jornalista. Vai além, pra ser mais justo ou exato. Porque o texto do cara é muito mais do que bom. E ótimo seria até pouco para enquadrar ou definir o que ele escreve.

Com um detalhe: pra quem teve a felicidade, sorte ou honra de conviver com ele numa redação de jornal, o que ele faz sai de uma tirada só, a uma velocidade de raciocínio e digitação que poucos teclados conseguem acompanhar.

Dá gosto vê-lo trabalhar; muito mais, consumir o resultado do trabalho jornalístico de Nonato Guedes, seja um artigo de análise política, uma simples notícia, uma instigante reportagem ou, como ele nos serve agora, um livro.

Pois não é que o homem voltou a fazer livro! Dessa vez (ele já cometeu outras), a obra atende pelo título de ‘A Fala do Poder’, com lançamento marcado para a próxima terça-feira (29), a partir das seis e meia da noite, na Livraria do Luiz.

Pra quem não mora ou não conhece a nossa Capital, informo que a Livraria do Luiz fica na Galeria Augusto dos Anjos, bem no centro de João Pessoa, com acessos pela Praça 1817 e Rua Duque de Caxias.

Marcondes, o prefaciador

Sobre o livro de Nonato, não dá pra não dizer que é produção de fôlego, como gostam de dizer os prefaciadores, embora entre os que dizem não dê para incluir Marcondes Gadelha, que assina o prefácio de ‘A Fala do Poder’. Erudição e inteligência prodigiosa do ex-senador não lhe permitem lugares comuns.

Aliás, Marcondes escapou de ser personagem do livro porque não se deu bem na primeira e única tentativa de conquistar o cargo de governador, em 1986, quando enfrentou nas urnas um Tarcísio Burity embalado pelo PMDB do Plano Cruzado.

Como se fosse pouco, Marcondes era o candidato de Wilson Braga, um velho e desgastado militante udenista que teve o seu governo (1982-87) devastado por denúncias de corrupção e acusações de que teria sido autor até de crime de mando.

De qualquer modo e sorte, Marcondes Gadelha é e seria um achado como prefaciador, fazendo ou não faz parte da galeria dos governadores pesquisados e retratados por Nonato Guedes. Galeria que pega de João Agripino, empossado em 1966, a Ricardo Coutinho, coroado em 2011.

Da tradição às redes sociais

Sobre todos os governadores perfilados Nonato faz “apreciação jornalística” acerca da trajetória de cada um, “recapitula passagens das campanhas políticas e adiciona informações de bastidores valiosas para a compreensão dos perfis dos que administraram a Paraíba”, informa texto de divulgação do livro que recebi no meio da semana finda.

O mesmo ‘rilise’ antecipa que n’A Fala do Poder o autor também “fixa uma comparação sobre as promessas de campanha e as realizações de governo, mostrando a distância entre o palanque e o exercício do poder”.

Segundo Nonato, “muitas vezes as promessas não foram cumpridas devido a dificuldades de conjuntura, impactadas por seca, falta de recursos federais e, em alguns casos, erro de perspectiva de governantes”.

Como se não bastasse, o velho Nona aborda ‘mudanças de contexto’ e de meios de campanha utilizados pelos governadores paraibanos em diferentes épocas.

“Agripino foi governador numa época em que a política se valia de recursos tradicionais. Ricardo Coutinho foi eleito sob a égide da era digital, com a proliferação das redes sociais e dos movimentos organizados na representação popular”, assinala.

De Cajazeiras a Brasília

O livro de Nonato Guedes sai pela Forma Editorial, do inexcedível publicitário Carlos Roberto de Oliveira. A obra inclui ainda discursos comentados dos homens que governaram a Paraíba nos últimos 46 anos.

No mais é dizer que o lançamento de terça próxima deve ser reeditado em outras cidades da Paraíba e em Brasília. Suspeito que Cajazeiras deve estar no roteiro, porque foi lá onde nasceu esse ícone do melhor jornalismo que a gente pode oferecer.

Em todo canto que ele for lançar vai dar casa cheia e fila de autógrafos de dobrar quarteirão, não tenho a menor dúvida. Porque é grande a legião de admiradores de Nonato Guedes e maior ainda a certeza de que o livro tem a qualidade do autor.

Ou seja, é mais do que bom. É excelente.