Não sei vocês, mas quase sempre tenho sonhos muito bons quando alguém me conta algo que me impressiona positivamente.
Mesmo que o fato tenha a ver com época bem anterior à minha possibilidade de existência, sonho de um jeito como se tivesse vivido tudo aquilo.
Aconteceu do jeito que estou dizendo a vocês na semana que passou, quando encontrei o desembargador Júlio Aurélio Coutinho.
Ele estava triste, disse-me, por ter procurado e não encontrado na Capital uma única avenida, rua, travessa, vila, viela ou beco com o nome de Luiz de Oliveira Lima.
Como tinha uma vaga idéia de quem seria, pedi detalhes ao Doutor Júlio. Aí, o homem se animou e me fez uma exposição entusiasmada da vida e obra do Doutor Luiz.
Depois de ouvir tudo aquilo, fiquei convencido de uma coisa: Luiz de Oliveira Lima foi um dos nossos maiores homens públicos, medindo o homem por sua estatura moral, e seguramente um dos melhores alcaides de toda a história da Aldeia das Neves.
Meia hora de conversa e algumas anotações depois, já comecei a imaginar que à noite sonharia alguma coisa relacionada à história e histórias que o Doutor Júlio me contava enquanto dividíamos uma mesa de cafezinho no Tambiá.
Não deu outra. À noite, mal fechei os olhos e me transportei para novembro de 1951, mês e ano da posse do Doutor Luiz na Prefeitura da Capital, dessa vez para cumprir mandato integral, até novembro de 1955.
Antes, por apenas quatro meses, de novembro de 1945 a fevereiro de 46, ele tomara conta do Paço, sucedendo a Oswaldo Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e passando a faixa para Manoel Ribeiro de Morais.
Pois bem, no meu sonho as coisas aconteceram tal e qual Doutor Júlio me narrou, começando por minha presença na campanha de arborização empreendida na cidade por Doutor Luiz e sua esposa, Dona Cilinha.
Saí com o casal de bairro em bairro, rua por rua, entregando mudas de árvores às pessoas, pedindo a elas que plantassem, regassem, cultivassem, cuidassem, enfim.
“Na calçada ou no quintal, porque nos espaços públicos mais largos e coletivos, onde for possível, deixem que a equipe do prefeito resolve”, garantia a quem me recebia e aceitava a muda.
Encerrada a distribuição, fui com ele visitar os distritos de Cabedelo, Conde, Alhandra, Jacoca e Pitimbu, onde o homem inaugurou a iluminação pública.
Voltamos de lá no começo da noite, em tempo de inspecionar as obras de reforma do Ponto de Cem Réis, que ele deixaria um lugar bem mais aprazível e mais acolhedor do que é atualmente.
No dia seguinte, ele me levou para bater a Epitácio Pessoa de ponta a ponta, pra ver o andamento da plantação de mudas nas laterais e no meio da avenida, da Praça da Independência ao Busto de Tamandaré.
No percurso, entre um tema e outro, o prefeito Luiz de Oliveira Lima mostrou-se feliz com o resultado do concurso que acabara de realizar na educação municipal.
Estava vibrando com a qualidade dos educadores selecionados. Ainda mais contente porque pagaria 2,5 salários mínimos a uma professora de primário. Isso, num tempo em que o mínimo tinha poder de compra igual ou maior que o de agora.
Foi nesse momento de nossa conversa que perguntei ao Doutor Luiz se era verdade que ele, antes de ser prefeito, fora autor do primeiro mandado de segurança da história do Judiciário da Paraíba.
Perguntei porque tinha a ver também com o valor que ele dava à educação. E era verdade: através daquele mandado, o advogado Luiz de Oliveira Lima conseguira reintegrar ao magistério estadual uma professora demitida por perseguição política.
Pra você ver como é, caríssima leitora, caríssimo leitor. Mesmo na era de um homem de moral como aquele, a Paraíba tinha governante da qualidade desses que a gente vê hoje, por aí.
Bem, ao final da inspeção na Epitácio, deslocamo-nos até o Hospital de Pronto Socorro, que funcionava num prédio da Visconde de Pelotas, quase esquina com o Ponto de Cem Réis.
O HPS estava sendo reestruturado pela administração municipal e já ostentava padrão de atendimento que dava orgulho, no melhor dos sentidos, a todos nós.
E a satisfação dos pacientes e de seus médicos, enfermeiros e outros assistentes, todos bem remunerados e respeitados pelo prefeito?
Encerrado o dia de trabalho com a visita ao HPS, combinamos de no dia seguinte darmos uma chegada até o Parque da Bica, que também passava por reformas e intensa arborização onde não havia mata nativa.
A visita à Bica foi logo cedo da manhã, mas de lá só saímos por volta de meio dia porque nessa hora o prefeito Luiz queria pegar o pessoal da Secretaria de Urbanismo e Paisagismo plantando palmeiras imperiais em volta da Lagoa.
No mesmo local, de canoa fomos checar como estava a fonte no meio do lago. A fonte passava por um processo de restauração.
À tarde, falhei com o prefeito. Acertara acompanhá-lo até Cabedelo para conhecer o Posto de Puericultura que o Doutor Luiz acabara de entregar.
Soube mais tarde que o Posto estava um brinco e mais bonita estava ficando a Praça Getúlio Vargas, que o prefeito mandara construir a pedido da população do distrito.
Antes de me acordar, tentei esticar o sonho para retroceder mais um pouco no tempo e assistir ao Doutor Luiz articulando a fundação da Faculdade de Direito.
Queria por tudo no mundo, também, vê-lo em magnífico embate de oratória no Tribunal do Júri.
Na minha vontade, o sonho me permitiria testemunhar o Doutor Luiz duelando com riquíssimo vocabulário e aprofundado conhecimento jurídico.
Seus contendores? Ninguém menos que um Renato Teixeira Bastos, um João Santa Cruz e ou um José Correia de Lima.
Acordei, enfim. E de imediato me senti invadido por um forte sentimento de inveja.
Inveja do Doutor Júlio Aurélio, inveja de não ter sido contemporâneo de um período da vida paraibana em que a grande maioria ou a quase totalidade dos seus homens públicos era formada por pessoas absolutamente decentes, sérias, probas.
Ah, que inveja! Afinal, caríssimas e caríssimos, pra gente encontrar hoje um Luiz de Oliveira Lima por aí… Só em sonho!