A comunicação direta que Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas da corrida presidencial, estabeleceu com eleitores nas redes sociais durante a campanha pode gerar volatilidade nos mercados em seu provável futuro governo.
A opinião é de Gabriel Galípolo, presidente do banco Fator. Ele afirma que o mercado ainda não está preparado para a mudança da antiga realidade em que “os comunicados feitos por governantes ao mercado e à sociedade eram mais formais, para um modelo que é feito do estômago, por uma pessoa que tem acesso direto à população”.
O executivo vê com cautela a euforia do mercado em relação ao candidato.
“A aterrissagem entre essa expectativa que foi criada pelo mercado e aquilo que me parece possível talvez não seja muito suave”, diz.
Quando o deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Bolsonaro, cogita em vídeo a hipótese de fechar o Supremo Tribunal Federal, como o mercado avalia? Há receio de que tal medida possa gerar crise institucional com reflexo na economia?
O que percebemos hoje, pelo que o mercado está demonstrando, é que ele está dando mais atenção àquilo que entende como positivo, que é uma perspectiva de acenos de privatizações e uma economia mais liberal. O mercado hoje está mais voltado para essa expectativa do que para declarações que podem estar tendo repercussão negativa do ponto de vista político.
Isso está ligado à rejeição pela alternativa, o petista Fernando Haddad?
O mercado já discute menos quem vai ganhar a eleição. Já superou esse debate. Agora é muito mais o alinhamento e a precificação adequada entre as expectativas que ele gerou e o que vai ser efetivamente um governo nos próximos quatro anos.
Quais seriam as piores frustrações para o mercado? A hipótese de Paulo Guedes romper com Bolsonaro, uma reforma da Previdência que não agrade, privatizações insuficientes?
A formação de expectativas é complicada. Há pouco tempo, nós discutíamos que o deficit fiscal era insustentável e que se o Brasil continuasse sustentando aqueles deficits o país iria quebrar. Se analisarmos o que aconteceu, esse deficit primário não foi reduzido e, ainda assim, houve momentos de CDS muito mais baixo, um risco de crédito no Brasil muito mais baixo, ainda assim, teve câmbio apreciando, juros e inflação baixando. Mesmo sem a resolução do problema fiscal, houve uma série de números positivos. Ainda é difícil vislumbrar qual será a tolerância do mercado em relação ao novo governo.
Como o país chegou a esse cenário eleitoral?
Nós que estamos aqui no mercado financeiro gostamos de achar que o mais relevante foi a agenda liberal. Mas tem uma agenda de costumes e valores morais que, na minha cabeça, ocuparam protagonismo maior do que a discussão econômica nessa eleição.
No vídeo em que o filho de Bolsonaro reflete sobre o fechamento do STF, ele cita a importância da popularidade. Se o futuro presidente endurecer as leis trabalhistas, pode perder apoio popular. O que mudaria no cenário?
Esse é o risco que o mercado corre. O mercado às vezes é um ser ensimesmado. Pode ser que para o nosso círculo aqui uma promessa de eventual austeridade fiscal e reforma da Previdência seja o que gera uma popularidade dentro do mercado. Mas será que para ele vencer a eleição isso foi o tema principal? Ou será que existe uma agenda que passa mais pelas questões morais e que pode manter a popularidade dele? O melhor exemplo são os Estados Unidos. Acho que não demos a verdadeira dimensão da mudança provocada pelas redes sociais tanto na economia quanto na política.
Fonte: Folhapress
Créditos: Folhapress