A era da incerteza chegou a Campina

Gilvan Freire

Enquanto em João Pessoa as eleições deste ano têm o maior significado estratégico, porque interessam diretamente ao movimento social de resistência ao governo de RC, que é a mais densa rebelião das últimas décadas (ainda superior a enfrentada por Burity em seu derradeiro governo), em Campina Grande o grau de importância estratégica não pode ser considerado menor, ou seja, pelo menos é o segundo maior.

Se na capital, lideranças como Maranhão e Cícero estão dentro da disputa a fim de conferir tamanho estadual à campanha e estabelecer um confronto direto com o governador Ricardo Coutinho (afinal, os dois sãos os líderes que o eleitor anti-ricardista mais procura para combater a atual administração e o chefe do poder), em Campina, onde a ira popular contra RC parece disputar com a da capital, as eleições de agora já buscam dá resposta aos projetos políticos de 2014, quando o governador estará sendo julgado com seu governo e, muito provavelmente, submetido ao impeachment das urnas, se antes não for por causa de fatos mais lamentáveis ainda do que os fatos simplesmente políticos do futuro próximo.

Em João Pessoa, contudo, a situação está menos complicada do que em Campina, porque Cícero e Maranhão (segundo as pesquisas, os dois pré-candidatos mais influentes e confiáveis ao projeto oposicionista popular, baseado na reação dos servidores públicos, organizações sindicais e outros setores penalizados e massacrados pela gestão cruenta de RC), estão muito conscientes do papel que têm para garantir a presença de ambos no segundo turno das eleições, sem descontar o que representa a candidatura de Luciano Cartaxo, apoiado por uma perna da muleta oposicionista petista e combatido pela outra perna governista da mesma muleta. Tivesse uma muleta menos confusa, contraditória e ambígua, a candidatura de Cartaxo poderia apresentar uma identidade mais bem definida e menos arriscada para o eleitor claramente oposicionista que povoa de forma majoritária o movimento de resistência na capital, que parece querer gritar o histórico bordão latino revolucionário: ‘Soi gobierno, soi contra’.

HÁ NUVENS DE FUMAÇA SOBRE A SERRA
Em Campina a situação está ainda confusa, mas nada que não possa clarear até meados de Junho, tempo das convenções obrigatórias para escolha de candidatos. Lá, Veneziano, com sua personalidade obstinada e resoluta, quer dá vitória a seu modelo de gestão, algo de que precisa para falar aos eleitores do Estado em 2014. Sua candidata deve chegar à convenção partidária com 17% a 20% das intenções de voto, o que representa um crescimento assombroso para quem, dias atrás, iniciava com míseros 4%. Com isso ganha mais competitividade.

Cássio Cunha Lima, que é individualmente a maior liderança de Campina e do Estado, trabalha com o nome de Romero Rodrigues, que é um líder emergente mas precisa ser cassista, romulista e ricardista ao mesmo tempo, qualidades que em certo sentido se contrapõem em face do que cada líder pensa em termos de estratégia para o futuro e do que os eleitores campinenses estão pensando sobre os interesses políticos de RC na cidade, onde não plantou sementes próprias e mal cuidou das alheias.

Daniella, que tem charme de sobra e idéias e projetos de menos, faz valer seus encantos justos e vai aos poucos se colocando como uma via alternativa nas disputas reinidas travadas entre os grupos dominantes, dos quais, noutros tempos, também foi dominante. Ao que parece, a meiguice de Dani enche o cenário campinense de flores para amenizar a vasta plantação de cactos jovens que se espalharam e se espinham porque precisaram sobreviver sem falar de flores. E nem plantá-las. Mas essa perfumaria de Dani pode não resolver a rixa existente entre o eleitor de Cássio e de Veneziano, que não foram formados politicamente para cuidar de jardins. São povos dos cariris, mais afeitos a espinhos que às rosas.

De qualquer maneira, é bom prestar atenção aos passos ocultos de Rômulo Gouveia, dos filhos de Cássio e de Guilherme Almeida. Hoje, em Campina, o que está no silêncio pode fazer mais barulho do que o que está zuando. Por causa de mil razões, também ocultas. É só aguardar que passem as nuvens e se formem outras.