Eleições passaram e após os resultados elegerem (ou não) determinados candidatos, fica a especulação: a tecnologia utilizada em pesquisas é confiável?
Antes que se especule a possibilidade de manipulação dos números, há fatores que tem que ser levados em conta. “É uma eleição atípica. Mas a culpa não é dos pesquisadores”, diz José Artigas, cientista político. Ele avalia que não é má fé dos institutos, nem manipulação, mas sim as reações do eleitores ao processo democrático.
Uma das situações observadas é que os institutos que utilizaram métodos convencionais de apuração (pesquisadores nas ruas, pesquisadores em ligações) tiveram uma maior discrepância nos resultados em comparação com os resultados nas urnas.
Ele esclarece que o sistema automatizado de pesquisa, o “robô”, foi usado nas últimas eleições dos Estados Unidos, que elegeram Donald Trump. As pesquisas que apontaram para a vitória de Trump foram aquelas realizadas por meio de pesquisas automatizadas.
Artigas prefere não categorizar essa apuração como pesquisa: “Esse procedimento é uma enquete. Tem uma diferença brutal entre enquete e pesquisa de fato”. A pesquisa feita pelo sistema automatizado liga para números fixos de forma aleatória e uma mensagem gravada pergunta em quem a pessoa do outro lado da linha vai votar e relaciona os números as respostas. Já na pesquisa existe uma estratificação que busca limitar o público entrevistado para que ele tenha o máximo de similaridade com o cenário geral. “Os filtros de estratificação, concentração eleitoral, faixa etária, aproximam com alto grau de precisão a pesquisa do resultado”, explica Artigas.
Mas a pesquisa às vezes não consegue captar outro fator: o constrangimento. Artigas analisa que atualmente há uma grande polarização política no país que terminou causando um grande número de agressões (verbais ou físicas) por partes dos dois lados. Com receio de represálias, alguns entrevistados tendem a não ser muitos sinceros em relação às suas respostas aos entrevistadores. “Nas eleições dos EUA as pessoas tinham vergonha de admitir que iriam votar no Trump, mas quando era na enquete, pelo telefone, eram mais sinceras”, comenta Artigas.
Artigas reitera que as repercussões das atitudes dos candidatos também influenciam nas intenções de voto. Um dos exemplos citados foi em relação ao candidato a reeleição Cássio Cunha Lima, que na véspera da eleição apoiou publicamente o candidato Jair Bolsonaro: “A pesquisa é um registro instantâneo, reflete o momento em que o questionário foi aplicado. No Brasil, muitos eleitores decidiram o voto nos dois dias anteriores da eleição”.
O instituto Real Time Big Data apostou na tecnologia e conseguiu se sair bem. Foi um dos dois institutos que apurou o candidato Lucélio Cartaxo no segundo lugar na disputa para o governo. Assim como os outros institutos, não conseguiu colocar pesquisas a tempo para averiguar a reviravolta que aconteceu nos últimos momentos, em que o senador Cássio não se reelegeu, deixando espaço para Daniella Ribeiro. Mesmo assim conseguiu provar que a tecnologia pode lidar bem com o espírito democrático do paraibano.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba