julgando pela capa

Capas falsas de revistas espalham denúncia inexistente de fraude em urnas

Uma mensagem que circula por aplicativos e redes sociais exibe supostas capas de algumas das revistas de maior circulação do país com a mesma denúncia bombástica: foi descoberta uma fraude nas urnas a favor do PT.

Arte/UOL

Uma mensagem que circula por aplicativos e redes sociais exibe supostas capas de algumas das revistas de maior circulação do país com a mesma denúncia bombástica: foi descoberta uma fraude nas urnas a favor do PT.

“Bomba! Gerardo de Icaza, diretor da OEA [Organização dos Estados Americanos], admitiu negociação para fraudar urna eletrônica e colaborar com o PT”, diz a suposta capa da Veja, da Editora Abril. Na chamada, o texto informa que Fernando Haddad, candidato da legenda à Presidência, “diz ter sido enganado”.

Outra revista da Abril teria aparecido com o mesmo furo. “O PT é capaz de tudo” é a suposta chamada da Exame, com aspas também atribuídas ao diretor da OEA.

A denúncia também aparece em uma suposta capa da revista Época, da Editora Globo, concorrente da Veja. “E agora, PT?”, diz a chamada. “Gerardo de Icaza abre a boca e assume fraude nas urnas em favor do PT.”

FALSO: As capas não são verdadeiras

Nenhuma das três capas que circula pelos aplicativos de mensagem é verdadeira. As montagens usam datas de publicação erradas, além de projetos editoriais antigos e informações trocadas.

O erro começa pelas datas. Todas as supostas edições têm a data de publicação do dia 25 de setembro, uma terça-feira. No entanto, nenhuma das três revistas é publicada neste dia. A Época sai às sextas, e Veja e Exame — que é quinzenal — são publicadas com datas de quartas-feiras.

Os números também não batem. De acordo com a mensagem, a edição da Veja que exibe a denúncia é a número 2.600. Esta edição foi publicada no dia 19 de setembro e tinha o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, como foco. A atual, em circulação, é a número 2.602.

O mesmo acontece com a Época, da Editora Globo. A suposta edição com Icaza seria a número 937. Esta edição, no entanto, saiu no dia 30 de março de 2016. Além disso, ainda houve um erro na montagem: o autor usou o logotipo do projeto editorial antigo da revista, alterado em março deste ano.

Por fim, as edições em circulação das três revistas tratam de temas distintos e nenhum deles fala em fraude nas urnas: a Veja aborda um processo contra Bolsonaro, Época publica uma matéria sobre os marqueteiros das campanhas e a Exame, uma reflexão sobre os “riscos dos discursos extremados para a democracia”.

A OEA também negou declarações atribuídas a seu diretor. A organização postou em suas contas oficiais no Twitter, tanto no Brasil, em português, como no perfil em espanhol, uma mensagem em que desmente a informação falsa. Gerardo Icaza retuitou as duas negativas em sua conta pessoal.

Icaza disse exatamente o contrário

O diretor da OEA não só negou as capas das revistas como concedeu uma entrevista à Folha de S.Paulo em que fala sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, exatamente o oposto do que prega a corrente.

“A OEA não trabalha com especulações. Trabalha com fatos”, afirmou o especialista, em entrevista publicada na última terça. “Conseguimos usar e ver a urna em todo seu funcionamento, e diria que não temos, neste momento, preocupações sobre a segurança da urna.”

De acordo com Icaza, nunca houve fraude comprovada no sistema adotado desde 2002. “A urna eletrônica é um sistema rápido e seguro, e que permite que a vontade popular seja expressada através da votação”, concluiu o diretor.

Fonte: UOL
Créditos: UOL