Polêmicos por terem minutos de vida útil e séculos de tempo de decomposição, os canudos plásticos começaram a ser restringidos no Estado. Rio Grande e Santa Maria são os primeiros municípios a aprovarem lei que proíbe o uso em restaurantes, lancherias, bares e similares, com previsão de multa. As propostas foram sancionadas na última semana, estipulando um período de transição — no município da Região Central, serão seis meses para colocar em prática, e, no da Região Sul, quatro. Discussões semelhantes também estão ocorrendo nas Câmaras de Porto Alegre, Santa Cruz do Sul e Pelotas.
Autora do projeto de lei em Rio Grande, a vereadora Denise Rodrigues Marques (PT) relata que se inspirou na proposta que tramita na Capital e também na do Rio de Janeiro, primeira metrópole brasileira a adotar uma medida prática, com fiscalização iniciada em julho. Ela destaca que o texto foi aprovado por unanimidade pelos 17 vereadores presentes na sessão de 29 de agosto em Rio Grande, cidade gaúcha com maior praia em extensão — Cassino chega a receber cerca de 200 mil veranistas.
— Esse material pequeno acaba indo para o intestino do animal marinho — ressalta Denise, acrescentando que o canudinho não deve ser o fim da discussão: — Precisamos desenvolver uma cultura de sustentabilidade.
Em apenas meia hora de mutirão, 270 canudinhos foram recolhidos na praia do Cassino no último sábado (22). A ação realizada por cerca de 30 pessoas marcou a passagem do Dia Mundial da Limpeza (15) e dá uma amostra do montante de lixo que os canudos podem gerar: eles foram os terceiros materiais mais encontrados no mutirão, atrás apenas das bitucas de cigarro e de embalagens plásticas.
Maíra Proietti, professora do Instituto de Oceanografia e coordenadora do projeto sobre lixo marinho da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), destaca que existe um movimento global contra o canudinho. Ela lembra que vídeos mostrando o quão prejudicial podem ser materiais plásticos a animais marinhos acabaram viralizando e sensibilizando internautas:
— Um animal pode ingerir o canudo inteiro ou um pedaço maior, o que pode impactar o trato gastrointestinal e a área bucal. Ou então vai comendo o plástico achando que está se alimentando e não está se alimentando, e pode morrer de desnutrição. Sem falar que o plástico vai se quebrando e virando partes cada vez menores. Quanto menor for esse plástico, mais vai afetar os níveis mais baixos da cadeia alimentar.
Maíra condena o canudo plástico como um objeto prejudicial à vida marinha e desnecessário à maior parte das pessoas — acredita que muitos acabam usando somente por costume, e não porque realmente precisam. Ela chama a atenção para o surgimento de alguns canudos que são vendidos como biodegradáveis, mas na verdade só se quebram e se transformam em microplástico mais rápido:
— Alguns são (biodegradáveis), alguns não. Então, evite ao máximo.
Sem esperar alguma lei, há estabelecimentos anunciando guerra ao canudinho. Os restaurantes Outback Steakhouse e Abbraccio Cucina Italiana, do grupo Bloomin’ Brands, informaram que eliminaram a oferta proativa do item em suas operações. Desde a semana passada, as unidades do grupo não mais entregam canudos junto com suas bebidas _ a versão biodegradável será disponibilizada apenas aos clientes que preferirem utilizá-la. Outras grandes marcas também divulgaram esforços nesse sentido recentemente _ o McDonald’s pretende parar de entregar canudos de plástico aos clientes de forma espontânea, enquanto a rede Starbucks quer deixar de usar canudos de plástico até 2020 em todas as suas unidades.
A ponderação de quem precisa de canudinhos
Um contraponto à caça aos canudos de plástico também veio à tona na internet neste ano quando uma blogueira de Campinas (SP), Marina Batista Francisco _ que tem uma deficiência física que a impede, entre outros, de levantar o copo para ingerir os alimentos _, destacou a importância do mesmo para pessoas em situação como a sua. Ela comentou no Twitter: “As pessoas que comemoram o fim do canudo plástico, que é dobrável e não machuca, nunca tentaram dar nada pra um PcD como eu beber”.
Fonoaudióloga da AACD de Porto Alegre, Ainara Guerreiro Cardoso atesta que o canudo de plástico é muito usado por tetraplégicos ou crianças com paralisia cerebral, porque não é tão duro a ponto de machucar o paciente, nem tão macio a ponto de rasgar ou grudar.
— Acho que se deve pensar em alternativas ecológicas biodegradáveis que possam ser usadas por todas as pessoas. Que possam não descriminar, mas incluir pessoas com deficiência na luta pelo meio ambiente — opina.
Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da associação que representa a indústria dos transformados plásticos (Abiplast), disse que os canudinhos e outros descartáveis representam uma parcela mínima do consumo total do material. “Esse barulho todo de (poluição no) mar é canudinho e copo, que não dá 2%. Às vezes, um cara pega o negócio de canudinho, tem uma baleia lá (morta), põe os canudinhos na boca dela e fala que ela… o material é reciclável, o canudinho é a coisa mais fácil de reciclar”, afirmou ao jornal.
Outras cidades
Porto Alegre: o projeto que proíbe a distribuição e a venda de canudos flexíveis plásticos descartáveis em restaurantes e similares aguarda parecer da Procuradoria para então passar pelas comissões — ainda não tem data para votação.
Pelotas: foi apresentado um projeto que visa substituição de todos os canudos disponíveis ao consumidor por de materiais biodegradáveis. GaúchaZH não conseguiu confirmar o estágio de tramitação.
Santa Cruz do Sul: o projeto que proíbe utilização de canudos de plástico em estabelecimentos, exceto os biodegradáveis, ingressou na pauta da Câmara de Vereadores no dia 10 e pode estar apto para votação já a partir da próxima segunda-feira (1°).
Fonte: Zero Hora
Créditos: JÉSSICA REBECA WEBER