Além de Cabo Daciolo e General Mourão, outros 533 candidatos optaram por incluir suas patentes ou graduações militares no nome de urna para as eleições 2018, sejam das Forças Armadas, das Polícias ou de Bombeiros Militares. O número é mais de 12 vezes maior do que o registrado em 1994, quando 43 postulantes apostaram na militarização de nomes para atrair votos. Em relação a 2014, o aumento total é de 39%.
A esmagadora maioria é de deputados estaduais, com 313 postulantes Brasil afora. Levantados pelo Estado com base em informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os números de 2018 também chamam atenção para outro fator: a influência de Jair Bolsonaro. O atual partido do presidenciável, o PSL, é de longe o que tem mais candidatos com graduações e patentes militares nas urnas: 135, contra apenas 37 do segundo colocado, o Patriota, de Cabo Daciolo.
Bolsonaro, porém, não é um dos que optam por colocar o cargo no nome político, apesar de as ideias militares serem um mote importante da campanha. “É a onda Bolsonaro, nosso líder maior. Foi o que mais chamou atenção para atrair candidatos militares”, afirmou o deputado federal Major Olímpio (PSL-SP), um dos seis militares que concorrem ao Senado.
Para o cientista político Eduardo Grin, da FGV-SP, o fenômeno Bolsonaro não é só causa, mas também consequência de outra onda: a conservadora. “Fortalece candidatos associados a essas agendas. E a sociedade acaba entendendo a segurança não como tema de prevenção, mas de punição. É uma construção no imaginário do eleitor.”
Candidato pela primeira vez em 2004, quando ainda era capitão, Olímpio vê a segurança como tema central de campanha. E quem mais entende do assunto, diz, são os profissionais da área. Em relação às diferenças de se declarar militar hoje e há 14 anos, o deputado acredita que a maior barreira eram as próprias corporações militares. “Parecia que estava cometendo uma infração grave, quase um crime, dizer que ia para a política.”
O cientista político Eduardo Grin apontou que há uma tendência grande de associar autoridade, disciplina e ordem como algo contrário à corrupção, tema presente na atual agenda política brasileira. Com isso, cria-se uma ideia de que, se a política não resolve, alguém com “mão firme” pode resolver.
É também nessa linha que Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), critica a “falsa promessa de que é preciso um chefe de disciplina para pôr ordem na casa”. “Confunde-se capacidade de governo e de gestão política da máquina pública com comando militar.”
Dois partidos de esquerda são os que têm menos militares candidatos em 2018: PSOL e PCB, com um postulante cada. Candidato a deputado federal pelo PCB de Minas, Pedro Henrique Franco, o Cabo Franco, de 30 anos, disse que a reação à sua candidatura foi de resistência por uma boa parcela dos policiais. “Principalmente os que se filiam ao Bolsonaro”, afirmou. “Mas existem policiais progressistas.”
Fonte: Terra
Créditos: Terra