A corrupção tomou conta. É um esporte granfino.

Gilvan Freire

Quando apareceram as primeiras informações mais concretas sobre o Jampa Digital, um programa do governo municipal que mistura dinheiro sólido com produto gasoso (um sinal invisível veiculado pela Internet), já existiam na pauta das especulações outras suspeitas graves sobre desvio de recursos públicos na administração de João Pessoa e no governo do Estado. Coincidentemente, as duas gestões são representadas por um único governante: RC, o homem que desafia o princípio da Física de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Na política, é claro que tudo pode. Até outra lei insuperável da Física, a da Gravidade, pode ser modificada pela força política, pois se alguém jogar para cima de si mesmo um pacote de dinheiro privado, ele deverá retornar às mãos de quem o arremessou, provavelmente seu dono. Se for dinheiro público, contudo, uma parte ou o todo do pacote sumirá, só porque o dono do dinheiro – o povo – nunca estará ali esperando para vê-lo de volta. É um mistério da ciência.

Por conta desse vácuo na Ciência Física, o melhor esporte dos administradores desonestos é a prática do arremesso de notas – não as notas musicais, que são coisas de artistas e pessoas românticas -, mas notas de dinheiro público em espécie, empacotadas até em sacolas de supermercados, que, jogadas aos ares, desconhecem seus legítimos donos na volta. De fato, os legítimos donos, de tão distraídos, jamais ficam no lugar da espera. É ai onde a lei os trai: se o dinheiro é arremessado para cima pelo próprio ladrão, seguramente e obrigatoriamente cairá no lugar onde espera o ladrão. E não no lugar onde está o dono.

Há casos de estratagema engenhoso que confunde até as pessoas inteligentes e bem intencionadas, tudo em respeito à Lei da Gravidade. Dizem alguns gênios da corrupção que o arremesso de notas mais instigante do esporte é fazer consigo mesmo um pacto de divisão honesta e justa, pelo qual antes de arremessar, o atleta se compromete jurando: a parte que descer ao chão será minha e a que ficar lá em cima será do povo. Então a velha lei da atração magnética dos corpos físicos resolve a equação e faz justiça aos gênios criativos. E em cima nada ficou.

Mas, o que devemos fazer para impedir a prática desse esporte vil que faz sumir como mágica o dinheiro de um povo que paga dividas sociais perversas e centenárias e não tem direito a receber de volta o patrimônio financeiro economizado de seu suor e sofrimento, que quando jogado pra cima nunca retorna a seus donos?

Não há solução, a não ser prender esses atletas criminosos que transformam notas em esporte de arremessos e as espera no lugar dos verdadeiros donos. Na Paraíba, hoje, não faltam atletas famosos e treinadores ilustres. O que falta mesmo são instituições limpas e autoridades descomprometidas com a criminalidade dentro das organizações públicas. Os larápios estão batendo uns nos outros e até já brigam pela divisão dos furtos. Não há uma só semana em que não seja descoberta uma pista de arremesso onde disputam tranquilamente os desportistas do crime mais cínicos e disfarçados. E nós toleramos, como se as notas não fossem nossas, nem se os criminosos não tivessem apenas rindo nas nossas caras de imbecis conscientes. Este é um segundo esporte. É pouco?