Reitor eleito, reitor nomeado

Rubens Nóbrega

Disseram-me que ele seria capaz, mas não quero acreditar que Ricardo Coutinho afronte a vontade majoritária das urnas e se recuse a nomear o reitor que for eleito hoje pela comunidade universitária da UEPB se o eleito não for um dos supostos candidatos de Sua Majestade ao cargo.

Até mesmo para Ricardo Coutinho deve haver um limite de negação da própria história. Daí por que não consigo imaginá-lo esquecido do tempo em que certamente fazia coro com a maioria da UFPB para gritar na cara e nos ouvidos do governo Collor que “reitor eleito é reitor nomeado”.

Refiro-me a 1992, ano em que Neroaldo Pontes ganhou e por muito pouco não levou na Federal, onde foi eleito reitor, mas teve sua nomeação sustada e torpedeada no Ministério da Educação, onde o tinham comunista, no mínimo petista e, claro, opositor da República das Alagoas.

Naquele ano, jovem técnico do Hospital Universitário, Ricardo Coutinho muito provavelmente estava se despedindo do movimento estudantil para entrar de cabeça no sindical (dos farmacêuticos), que lhe abriu as portas para sucessivos mandatos de vereador e deputado estadual.

Então militante petista, Ricardo Coutinho deve ter sido um dos mais ardorosos defensores da máxima segundo a qual ‘reitor eleito é reitor nomeado’, a mesma que, propagam agora na UEPB, ele deve apagar por completo da memória caso não lhe agrade o eleito de hoje na Estadual.

Se procedente, é o caso de perguntar: já não bastam os ferimentos de morte que causou à autonomia da UEPB, Majestade? Já não retaliou o suficiente, ao ponto de vetar até mesmo a publicação de portarias de nomeação de concursados da Universidade no Diário Oficial do Estado?

Apesar de tudo, sei que lá dentro do nosso atual governador um pedacinho do velho Ricardo Coutinho de guerra, que se postava ao lado e à frente das boas causas coletivas e fazia o bom combate, como gosta de dizer, sobretudo quando ameaçavam a vontade da maioria.

Por tudo isso, não quero acreditar que ele se determine a dar esse tiro de misericórdia numa história tão bonita que professores, alunos e funcionários da UEPB vêm construindo desde a estadualização no Burity II, até chegar à beleza que foi a sagração da autonomia no Cássio I.

Da mesma forma…

Também não quero acreditar que Ricardo Coutinho esteja patrocinando candidatura de oposição ao reitorado de Rômulo Polari na UFPB, que também vai às urnas nesta quarta-feira com toda possibilidade de eleger uma reitora, vez que as chances de eleição concentram-se em duas candidatas.

Elas são as professoras Lúcia Guerra, candidata de Polari, e Margareth Diniz, que não merece a pecha de candidata ricardista. Deve ser intriga da situação para queimar o filme da Doutora Margareth, que deve saber o quanto lhe negativa a imagem essa vinculação à figura ou vontades do governador.

Tanto quanto Lúcia Guerra, Margareth Diniz tem luz própria e títulos acadêmicos que credenciam ao exercício do cargo mais importante da Universidade. Nenhuma delas precisa – ou, pelo menos, não deveria – recorrer a alguma ‘máquina’ interna ou externa para conquistar votos.

Lúcia Guerra, atual pró-reitora de Extensão, professora doutora da área de Humanas, representa continuidade e aprofundamento de um projeto exitoso, que desde Neroaldo vem instrumentalizando a UFPB para uma inserção transformadora, positivamente transformadora, da realidade da Paraíba e do Nordeste.

Margareth, atual diretora do Centro de Ciências da Saúde, também doutora em sua área, encarna proposta de mudança que aponta para a necessidade de qualificar ainda mais o ensino, a produção científica, as ações extensionistas, os professores, os funcionários e a força de trabalho que a UFPB forma a cada semestre letivo.

Não tem razão de ser

Por todo o exposto, não concebo alguém querendo fazer da UFPB um apêndice de governo ou escalar um(a) reitor(a) no papel de secretário(a) de Estado. Nem Ricardo Coutinho. Sobretudo ele, originalmente servidor da Instituição e ciente de que qualquer tentativa naquela direção será rechaçada no ato e eternamente deplorada pela quase totalidade da comunidade universitária.

Não concebo, não acredito, mas não descarto. Afinal, Sua Majestade já mostrou o quanto é capaz de nos surpreender. Se ele não teve pejo em descumprir compromissos explícitos de campanha, imaginem, então, os implícitos, tipo respeitar a UFPB ou a decisão da maioria da UEPB numa eleição para reitor. De qualquer modo…

Está certo que para Sua Majestade chegou “a hora de ir mais longe”. Só não precisa ir tão longe assim, ao ponto de fazer pior que um Fernando Collor ou ser tão incoerente e contraditório quanto um Fernando Cardoso, aquele do ‘esqueçam o que eu escrevi’. Não é possível, mas não é possível mesmo que Ricardo Coutinho, além de tudo cometa em breve mais esse ‘esqueçam o que eu disse e fiz’.