As propagandas eleitorais que foram ao ar na TV com o intérprete de Libras Cássio Veiga, acusado pela Associação de Surdos de Vitória de inventar sinais, foram suspensas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), nesta sexta-feira (7), até que os partidos apresentem novas peças.
A decisão é da juíza auxiliar do TRE-ES Maria do Céu Pitanga de Andrade.
O problema surgiu após reclamações de telespectadores de que a interpretação de Libras de feita por Cássio nas propagandas eleitorais não batia com o que candidatos falavam.
Cássio foi contratado por pelo menos quatro partidos para traduzir o que os candidatos diziam para as pessoas surdas.
Associação dos Surdos
Segundo a associação, ele usou sinais desconexos, sem contexto, desrespeitando a estrutura gramatical da língua de sinais. Alguns sinais são até mesmo desconhecidos pelos surdos.
O secretário da Associação dos Surdos de Vitória e tradutor e intérprete de Libras, Josué Rego, entende que a decisão do TRE é um marco e uma importante vitória para a comunidade surda e para intérpretes de Libras.
“Vimos toda a comunidade sendo desvalorizada e ridicularizada por uma pessoa que não estava fazendo um trabalho adequado. Esse é o reconhecimento do direito à comunicação dos surdos, que tem esse como importante momento para exercer o voto. Para isso, é necessário que eles entendam a proposta dos candidatos”.
A Advogada da Associação, Vanessa Brasil, explica que essa é uma decisão liminar e já foi encaminhada aos partidos. As propagandas devem ser retiradas do ar até sábado (8), às 12 horas.
Partidos
De acordo com o TRE, os partidos notificados foram o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
A reportagem do G1 tentou contato com os partidos por e-mail e ligação telefônica, mas, até a publicação da matéria, não obtivemos resposta.
‘Problema de sincronia’
No dia da denúncia, Cássio foi ouvido pelo G1 e reconheceu que houve um problema de sincronia, mas atribuiu a um erro de edição. “O meu ritmo de Libras é diferente. Fiz uma opção de fazer uma interpretação mais prática. Às vezes, o surdo não entende uma metáfora (por exemplo) e tento fazer uma linguagem mais didática”, comentou.
Sobre a alegação de erro de edição, o secretário da associação, Josué Rego, reforçou o problema com o intérprete.
“Existe uma edição onde a tradução ocorre de forma mais rápida, mas, em sua maioria, ele faz completamente errado. Faz muitas omissões e adições que não condizem com a fala. Até quem não entende Libras, percebe que ele é muito desconexo”, diz.
A produtora
Na quarta-feira (5), um dos responsáveis pela equipe contratada pelas coligações para fazer a gravação dos programas eleitorais, João Victor Bona, disse que contratou Cássio porque ele apresentou certificados.
“Foi uma indicação, vi alguns outros trabalhos dele, e ele tinha certificação. A gente confiou, ele mostrou certificado. Quando começaram essas reclamações, entrei em contato com outro intérprete, e ele disse que o trabalho estava mal feito, que algumas coisas não batiam”, explicou.
De acordo com João, a primeira atitude da equipe foi demitir Cássio e providenciar a regravação de todas as interpretações feitas por ele.
Libras
A tradução nos programas eleitorais é uma obrigação prevista na lei. A Língua Brasileira de Sinais foi instituída como segundo idioma oficial do Brasil em 2002. Ela garante que instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde atendam e tratem pessoas com surdez.
Fonte: G1
Créditos: Rodrigo Rezende e Luiza Marcondes