BELO HORIZONTE e BRASÍLIA — Documentos obtidos pelo GLOBO revelam que pelo menos 14 candidatos do PT e do PR tiveram conteúdos de campanha disseminados a partir de aplicativo desenvolvido pela agência Follow, do deputado e candidato ao Senado por Minas Gerais, MiguelCorrêa (PT). A empresa criou duas ferramentas — Follow e Brasil Feliz de Novo — que possibilitam a usuários cadastrados no aplicativo compartilhar, em troca de dinheiro, as notícias elogiosas de candidatos produzidas pela agência.
Os registros internos da agência mostram que esse sistema irregular de campanha foi utilizado para propagar materiais de 14 candidatos a diferentes cargos nestas eleições, incluindo o nome do PT à Presidência, o ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril. De postulantes ao Senado, como o petista Lindbergh Farias (RJ), a candidatos aos governos estaduais, como os petistas Fernando Pimentel, em Minas; Wellington Dias, no Piauí; Luiz Marinho, em São Paulo; Márcia Tiburi, no Rio de Janeiro; e Décio Lima, em Santa Catarina. Também foram impulsionados candidatos a vagas na Câmara, como Tiririca (PR-SP), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Kátia Sastre (PR-SP), Andréia Gonçalves (PR-SP) e Luciana Costa (PR-SP). A maioria dos citados nega ter pago pela publicidade positiva. Tiririca não respondeu. Luciana e Andréia não foram localizadas.
Dezenas de máscaras com uma reprodução do rosto do ex-presidente Lula em convenção nacional do PT – Marcos Alves / Agência O Globo
O artigo 24 da resolução publicada pelo TSE sobre a campanha de 2018 diz: “É vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos políticos, coligações e candidatos e seus representantes”.
A partir dos documentos da agência que citam os nomes dos candidatos, O GLOBO localizou no Twitter notícias produzidas e propagadas a partir do aplicativo.
O esquema de pagamento a influenciadores digitais para fazer elogios ao PT veio à tona no domingo. Os donos das empresas que assumiram trabalhar com os chamados “influencers” e com “monitoramento de redes” também são ligados ao deputado Miguel Corrêa. Os aplicativos funcionam da seguinte forma: há uma cartela de notícias em que o “ativista digital” pode capturar o endereço e compartilhar em suas redes. Quanto mais notícias os recrutados compartilham, mais pontos eles ganham — e, por tabela, mais dinheiro. O aplicativo também sugere o cumprimento de “missões”, como postar comentários pessoais favoráveis aos candidatos.
O conjunto de empresas ligadas a Miguel Corrêa fica em uma das áreas mais nobres de Belo Horizonte. Com uma equipe de recém-formados da área de Comunicação e jornalistas freelancer, a estrutura começou a funcionar em meados deste ano e, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, as contratações se intensificaram no período pré-eleitoral. São 10 jornalistas produzindo conteúdo para 14 candidatos.
O grupo era formado por quatro equipes, uma de monitoramento, uma de produção de conteúdo, uma de captação de ativistas e uma para contatar influenciadores digitais dispostos a falar bem dos candidatos em troca de dinheiro. Em relação aos candidatos do PR, porém, essa última etapa não chegou a ocorrer. Por meio de nota, o partido admite ter contratado uma das empresas de Miguel, a Fórmula, mas nega que o objeto do contrato seja a eleição.
O aplicativo permite driblar os mecanismos de bloqueio das redes sociais, pois não se trata de robôs ou perfis falsos, mas de pessoas que compartilham e tentam viralizar conteúdo de apoio a determinados candidatos.
Em um vídeo de 37 minutos que circula nas redes sociais, funcionários da Follow explicam a usuários dos aplicativos como ganhar dinheiro ao compartilhar notícias favoráveis a candidatos petistas.
— Vamos ter provavelmente três níveis de ativistas: o que vai receber R$ 125 por semana, que no total dá R$ 500 por mês. Nós vamos ter o ativista que recebe R$ 175 por semana, que é R$ 50 a mais por semana. E nós vamos ter o ativista de R$ 225 por semana, quer dizer, ele vai receber no total R$ 1 mil por mês se permanecer nesse top 10, vamos chamar assim — diz Breno Nolasco, que foi assessor de Miguel Corrêa.
Uma funcionária da Follow, sentada ao lado de Nolasco, enfatiza a oportunidade de faturar com o negócio. Quando perguntada sobre a forma de pagamento, ela responde:
— Todo mundo vai ser pago.
No vídeo, Nolasco fala sobre as campanhas de Lidbergh Farias e Márcia Tiburi:
— Da Márcia e do Lindbergh, a partir de amanhã, vão ter de duas ou três notícias todos os dias. Tá, galera?
Fonte: O Globo
Créditos: Investigações