O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) acabara de deixar o avião e já enfrentava a habitual sequência de pedidos de fotos, ainda na pista de pouso do aeroporto de Presidente Prudente (SP), no início da tarde desta quarta-feira (22).
Mas antes de encontrar a multidão que o aguardava para o primeiro ato público desde o início oficial da campanha, o candidato ao Palácio do Planalto se cercou de seguranças e buscou privacidade em uma sala do aeroporto para adicionar um item ao seu vestuário.
Fora do alcance dos apoiadores, vestiu um colete à prova de balas sob o agasalho. A reportagem do UOL presenciou o momento em que ele, correndo, desviou do caminho para adotar a proteção.
Assessores e seguranças logo fecharam a porta para impedir que ele aparecesse com o item em imagens gravadas por celulares ou em transmissões ao vivo pela internet realizadas por apoiadores.
Ao ser questionado pela reportagem, um dos responsáveis pela segurança do deputado federal desconversou e disse que ele entrou na sala apenas para falar ao telefone. O volume sobressalente por baixo do casaco bege, fechado até o pescoço para esconder a peça, era visível na saída do candidato.
Há quase um mês, Bolsonaro é acompanhado diariamente por uma equipe da Polícia Federal. Por lei, os presidenciáveis têm direito a escolta durante o período eleitoral.
Ataques a PT e PSDB e promessas sobre segurança
Já munido do colete, ele se misturou às centenas de pessoas que lotaram o aeroporto do município paulista. Foi carregado nos ombros de um apoiador até o carro de som, de onde fez um discurso de pouco mais de quatro minutos. Do alto do trio elétrico, Bolsonaro e seus aliados acenavam com as mãos mostrando o polegar e o indicador como se disparassem armas.
Depois de dizer que o Brasil não pode dar sequer um passo a mais em direção à Venezuela, o candidato partiu para o ataque contra dois partidos adversários nessas eleições.
“E para barrar isso, nós temos que varrer do mapa o PT e o PSDB. Chega dessa dupla de irmãos corruptos que querem mergulhar o nosso país no caos. Os últimos 20 anos foram deles, e agora vêm com essa conversinha de buscar paz, buscar tranquilidade…”, afirmou.
Em um recado endereçado às siglas, Bolsonaro declarou “que muita coisa no Brasil tem que ser tratada com extremismo, sim, entre elas a questão da violência em nosso país”.
O presidenciável fez então uma série de promessas, entre elas a de valorizar policiais civis e militares e “conseguir uma retaguarda jurídica não só para eles, mas para nós, na busca pela legítima defesa”. A plateia aplaudiu efusivamente.
Vamos dar ao cidadão de bem, com alguns poucos requisitos, o direito à posse de arma de fogo. A arma de fogo, mais que defender a vida de um cidadão, defende a liberdade de um povo
Jair Bolsonaro, candidato a presidente da República
Forte proteção policial
Medidas de segurança estão entre as prioridades dos eventos de Bolsonaro desde o período de pré-campanha. Durante uma palestra em Salvador, em maio, os participantes tiveram que passar por detectores de metal para assistir ao presidenciável.
Em Presidente Prudente, Bolsonaro saiu em carreata até o centro da cidade. O esquema de policiamento no trajeto era ostensivo. Policiais militares exibiam armas de cano longo na beira da estrada pela qual passou a comitiva do candidato. Segundo um PM ouvido pela reportagem, havia 20 agentes da Força Tática da corporação só nas redondezas do aeroporto.
Depois de chegar à Praça 9 de Julho, na região central do município, Bolsonaro fez uma caminhada pelo “calçadão” da cidade, área que reúne diversos estabelecimentos comerciais. Cercado por um cordão de isolamento humano, era acompanhado por uma aglomeração de fãs. Na dianteira, um policial militar não tirava a mão da arma presa à cintura.
Sem almoçar, ele parou em uma lanchonete conhecida da cidade –que já constava na agenda prévia do dia—e pediu um quibe. O barulho era tanto que recebeu uma esfirra. Em tom de brincadeira, ele reclamaria do erro mais tarde.
Do lado de fora, o comerciante Francisco José Moreira estava impressionado. Aos 86 anos, contou, “nunca tinha visto uma manifestação política assim”. Natural de Presidente Prudente, ele vende antiguidades como moedas e células de outras épocas.
Defesa ao direito da posse de armas
Em nova fala ao público, também do carro de som, Bolsonaro voltou a falar sobre o direito à posse de armas ao “homem de bem” e citou a morte do terceiro militar em dois dias no Rio de Janeiro. O candidato afirmou ainda que quem matar “o canalha e o vagabundo” vai ser condecorado e não processado.
Ao lado do pai, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tenta a reeleição, discursou aos gritos e empolgou o público ao dizer que não entende por que ele –que é policial federal—pode ter uma arma e os outros não. “Conseguir manusear uma arma é menos complexo do que dirigir um carro”, comentou.
A ida de Bolsonaro ao interior de São Paulo marca uma ofensiva pelos votos em uma região historicamente ligada ao PSDB do ex-governador e também presidenciável Geraldo Alckmin. Até sábado, quando participa da Festa do Peão de Barretos, o candidato do PSL deve passar por Glicério, sua cidade natal, Araçatuba e São José do Rio Preto. Destes municípios, apenas o último não é governado por um tucano.
Nos primeiros dias de campanha, Bolsonaro participou de eventos da Polícia Militar e das Forças Armadas na capital paulista e em Resende (RJ), do debate da RedeTV! e foi aos funerais de militares mortos no Rio de Janeiro.
Fonte: UOL
Créditos: UOL