O cargo de deputado distrital é o mais concorrido das eleições de 2018. Com 960 postulantes para 24 cadeiras, a concorrência chega a 40 pessoas por vaga. Os dados são das estatísticas de pedido de registro de candidatura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, o Distrito Federal também se destaca como uma das unidades da Federação com menor relação entre eleitores e candidatos: cada postulante representa 1,7 mil votantes.
A capital federal também é a sexta unidade federativa com maior número de candidatos, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. E tem mais postulantes do que unidades da federação com população muito maior, como Goiás, Santa Catarina, Maranhão e Espírito Santo. Ao todo, 1,2 mil pessoas pediram registro na Corte Eleitoral. O órgão tem até 17 de setembro para avaliar todas as solicitações.
Apesar de ser o cargo mais concorrido de 2018, o número de candidatos a distrital diminuiu em relação a 2014. Há quatro anos, o registro mostrava mil postulantes — 42,7 candidatos por vaga — também a maior concorrência da época. Especialistas ouvidos pelo Correio divergiram em análises para explicar o porquê do alto número da concorrência na capital federal.
Para o cientista político Wladimir Gramacho, há duas hipóteses. A primeira é de que a fragilidade do governo distrital pode ter estimulado um número maior de candidaturas. Por outro lado, também existe a questão dos benefícios na Casa: o salário que passa dos R$ 25 mil mensais e os benefícios mensais incluem um polpudo auxílio-alimentação de R$ 1.072, 75 dias de férias por ano, mais de R$ 180 mil de verba de gabinete e mais de R$ 25 mil disponíveis para indenizar todo tipo de gasto.
“Sempre vemos candidatos com pouquíssimos votos no fim das eleições. É um excelente assunto para retomar no fim do processo: ver quem trabalhou na campanha e quem nem se moveu. O que o eleitor no DF não pode reclamar é de marasmo”, observa. Para ele, a possibilidade de licença do serviço público pode até ser uma tentativa de explicação. “Mas não cabe lançar suspeita sobre os candidatos”, pondera.
A Lei nº 8.112/90, do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, garante que servidores públicos que entrarem na política podem tirar uma licença do trabalho para se dedicar à candidatura. Nos dados do TSE, os números revelam que servidores públicos aposentados, estaduais e federais somam 205 postulantes — o que corresponde a 16,7% do total de candidatos do DF. É a ocupação mais comum entre os postulantes, seguida de empresários, com 124 (10,1%) e advogados, com 88 (7,1%).
Baixa representatividade
De acordo com Paulo Calmon, professor e cientista político da Universidade de Brasília (UnB), também há duas possibilidades para a explicação. Em primeiro lugar, existe uma baixa representatividade na Câmara Legislativa. Ou seja, são poucas cadeiras, se comparado ao número de outros estados, por exemplo, em São Paulo. No estado paulista, a Assembleia Legislativa é composta por 94 deputados estaduais. “Outras câmaras são mais equipadas, como Rio de Janeiro e São Paulo. Eles têm 70 a 80 políticos”, avaliou. “Aqui, nós temos a sobreposição do trabalho que, em outros estados, é dividido em dois: a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Vereadores. Ou seja, ficamos com o trabalho desses dois em um só lugar, e isso desperta uma demanda”, disse.
A outra hipótese é que, por ser a capital do país, há um grande envolvimento da população na política e nos órgãos públicos. O cientista político José Matias-Pereira concorda com a tese. “Temos uma eleição atípica. As pessoas estão desencantadas com a política. Aí surgem candidaturas para tentar mudar. E temos 35 partidos que também querem se consolidar”, completou o especialista.
Unidade Eleitores Candidatos Eleitor por candidato
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AC 547.680 570 961
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AM 2.428.100 829 2.929
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RJ 12.406.391 3.565 3.480
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Fonte: ParlamentoPB
Créditos: ParlamentoPB