Cinismo nada virtual

Paulo Santos

Cinismo demais conspira contra o cínico. É isso que se deduz após ouvirmos algumas entrevistas de integrantes da equipe do prefeito de Luciano Agra nesta sexta-feira (10) após a operação desferida pela Polícia Federal em João Pessoa, Salvador (BA) e Recife (PE).

Graduados assessores municipais, sem qualquer cerimônia, agrediram os ouvidos dos contribuintes com declarações estapafúrdias. Os advogados, então, se esmeraram em explicações ridículas, quase insinuando que a PF foi ao Paço Municipal “a convite”.

O deboche esquizofrênico das autoridades municipais chegou ao ponto de “informar” ao distinto público que a Polícia Federal havia ido apenas “buscar” documentos. Desde quando delegados, agentes, viaturas e armas são mobilizados para uma “visita de cortesia” aos investigados.

Todo esse escárnio, porém, tem uma explicação. Em primeiro lugar faltou coragem, a quem expediu os mandados de busca, que expedisse também mandados de prisão. Na semana passada, por menos que isso, foi feito o maior estardalhaço na operação da Polícia Federal no Sertão.

O próprio prefeito Luciano Agra chegou a dizer que a ida da PF ao Paço Municipal era “rotina”. Como assim? Então os “mal feitos” – como diz a nossa Presidenta – são rotineiros.
Não é de estranhar que, diante da gravidade da situação, a vaidade e o deslumbramento tomem conta de alguns eventiais detentores de cargos no município. Essa administração deve achar pouco ter colaborado para colocar João Pessoa sob os olhos do Brasil como um lugar de corruptos.

O desembarque da Polícia Federal em Água Fria à cata de documentos é algo gravíssimo. Pode ser que ainda não haja comprometimento de algum funcionário municipal no eventual esquema de propinas que o empregado da Ideia Digital disse informalmente no Fantástico, mas é vergonhoso ver a instituição sair das páginas de economia, de administração e de política para entrar nas páginas policiais.
Será que causa algum orgulho aos atuais inquilinos da Prefeitura ver aqueles delegados e agentes desfilando entre contribuintes que ali estão pagando impostos quem mantém a administração municipal e garantem os salários dos que, hoje, estão sob suspeita? Só muita insensibilidade poderia explicar o cinismo e o deboche de algumas autoridades.

SECA
O ex-deputado estadual Paulo Soares adverte: o quadro da seca é tão grave, no Sertão paraibano, que podem ocorrer mortes na região devido à falta de água. Paulo, quase o decano da pediatria paraibana, revela que os rios estão secando porque as comportas dos açudes não podem ser abertas.

DESPISTANDO
O pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo PPS, jornalista Nonato Bandeira, fez sua estreia nesta sexta-feira (11) num debate patrocinado pelo programa Polêmica Paraíba com os demais pré-candidatos no bairro Treze de Maio. Até aí, tudo bem. Não se compreende, porém, que Bandeira tenha se referido duas ou três vezes “à gestão do prefeito Luciano Agra”. Não se sabe se por esquecimento, medo de perder votos ou raiva do atual Governador, Bandeira em nenhum momento se referiu aos seis anos de administração de Ricardo Coutinho, quando foi secretário de Comunicação perseguindo colegas e veículos de comunicação (fórmula que levou para o Estado). Falta de memória não é doença que atinja todos os jornalistas.

FOI
Um destacado dirigente da telefônica Oi esteve no Palácio da Redenção há poucos dias falando de investimentos. Deveria, naquele momento, ter recebido voz de prisão. E só ser solto quando a empresa dele voltasse a prestar bons serviços à população paraibana. A Oi tem sido a maior causadora de stress por essas bandas.

NO FIM
Louve-se a obstinação de alguns promotores em obrigar prefeitos a melhorar as condições de escolas no interior. O problema é que os prazos dados pela Justiça para que os serviços sejam realizados – geralmente 180 dias – terminam quase na mesma época das atuais administrações.

“ROTINA”
É provável que, em meio às investigações do escândalo da merenda escolar de João Pessoa também denunciado pelo Fantástico, a Polícia Federal deverá “visitar” novamente a Prefeitura da Capital paraibana. Aí sim, o prefeito Luciano Agra poderá dizer, em alto e bom, “é rotina”. A quem interessar possa: o Ministério Público Federal na Paraíba já recebeu cópias da investigação feita pelo Ministério Público Federal de São Paulo sobre as licitações envolvendo a empresa SP Alimentação.

PERGUNTAR NÃO OFENDE
A convenção do PPS de João Pessoa será no mesmo dia da convenção do PSB da Capital? Cartas para… Deixa pra lá.