O “nome sujo” de 63,4 milhões de brasileiros foi um dos temas do primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República que mais repercutiram após o encontro, na noite de quinta-feira. A proposta de Ciro Gomes (PDT) de zerar o número de brasileiros endividados caso vença a eleição foi motivo de ironia de Jair Bolsonaro (PSL): “Que Deus te ajude Ciro, porque não tenho como pagar essa conta da forma simplista que você está propondo”. O candidato do PDT voltou a defender a medida em evento de campanha ontem. A eficácia da proposta de refinanciamento de dívidas para tirar o nome dos inadimplentes do SPC divide especialistas em finanças ouvidos pela reportagem do Estado de Minas, mas eles concordam que, sem outras ações na economia, ela não mudaria o quadro de altos índices de endividados no Brasil.
Durante o evento “Diálogos Educação Já”, em São Paulo, promovido pelo movimento Todos pela Educação, Ciro defendeu a proposta de que o governo federal deve atuar para limpar o nome dos brasileiros no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). O candidato ressaltou que, se eleito, o processo será implantado por meio de negociações, uma “mediação poderosa”, com os bancos públicos: Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Segundo Ciro Gomes, a média das dívidas gira em torno de R$ 1,4 mil por cidadão e ele pretende negociar novos prazos e novas taxas de juros para os devedores. “Vamos ajudar a descontar todos os desaforos das dívidas dos brasileiros”, afirmou. O pedetista disse ainda que estuda estender a medida aos bancos privados, “se tiver espaço par afrouxar um pouco o compulsório”.
O número recorde de brasileiros com contas no vermelho foi registrado em julho. Os 63,4 milhões com contas em atraso representam 41% da população adulta. De acordo com levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em parceria com o SPC Brasil, a maioria dos inadimplentes tem entre 30 e 49 anos, faixa etária que representa para muitos o momento de construção da vida pessoal e profissional. O balanço levou em consideração desde dívidas bancárias, como faturas atrasadas de cartão de crédito e empréstimos bancários não pagos, a crediários abertos no comércio e dívidas com empresas que prestam serviços de telefonia, TV por assinatura e internet.
“PROBLEMAS PARA O FUTURO” Para o professor de contabilidade e finanças do Ibmec, Bruno Flávio Machado de Araújo, a medida não resolverá os problemas da grande parte da população endividada. “Obrigar os bancos públicos a adotar certas medidas é assustador. Banco nenhum pode ser obrigado a reduzir ou aumentar os créditos. O Banco do Brasil, por exemplo, é um banco de capital aberto e tem vários sócios que defendem seguir certas práticas. Será que eles vão aceitar uma imposição do governo?”, questiona Bruno Flávio.
O professor do Ibmec ressalta que no caso da Caixa Econômica o presidente pode propor o aumento das parcelas das dívidas ou a liberação de mais créditos, mas a medida não resolveria o problema do país. “Com a implantação da medida pela Caixa, seriam liberados mais créditos para que as pessoas se endividassem ainda mais, ou seja, empurraria o problema para o futuro. No início, pode até dar a impressão de melhoria e aumentar o consumo, mas alguém terá que pagar a conta. O grande desafio para atender aos milhões que estão com nome sujo é criar empregos e aumentar a renda. Não tem como fugir disso”, afirma Bruno.
A especialista do DSOP Educação Financeira, Cintia Senna, avalia que a proposta pode ajudar a situação de muitas pessoas com a faca no pescoço, mas que outras medidas do poder público são necessárias para resolver o problema do endividamento da população. O incentivo do poder público ao ensino de educação financeira desde o ensino básico das crianças é uma das ações apontadas pela educadora financeira como fundamental para mudar o cenário de um país devedor.
“Ficar nessa situação de inadimplente, na lista de restrições do crédito, apesar de complicada, pode não ser tão ruim para a pessoa caso ela consiga entender os motivos que a levaram ao endividamento e passe a mudar seus comportamentos financeiro”, diz Senna. Ela alerta que, muitas pessoas que aceitam acordos de aumentar os prazos para pagamento das dívidas e maiores parcelamentos acabam voltando para a mesma situação.
Fonte: em.com.br
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