Ponto final na encenação da candidatura de Agra

Nonato Guedes

Para alívio dos espectadores, a novela sobre a candidatura do prefeito de João Pessoa, Luciano Agra (PSB), está chegando ao fim. O script, para ele, não reservou propriamente um final feliz, tal como acontece nas melhores produções artísticas das emissoras de televisão. Agra já diz, de forma categórica, que está fora da disputa eleitoral, depois de ter protagonizado uma série de idas e vindas que desnortearam a opinião pública e alimentaram especulações a granel. Por exemplo: a de que Agra blefou o tempo todo, porque, na verdade, nunca seria candidato. Ou a de que ele montou uma encenação para comover a cúpula liderada pelo governador Ricardo Coutinho a se sensibilizar com o desejo secreto de pleitear a permanência no cargo. O problema todo foi aquela proclamação aos pessoenses, no início do ano, na qual ele se despede da atividade política por não ter se adaptado ao que chamou de jogo bruto das campanhas eleitorais.

Na sequência, os fatos se deram de forma ciclotímica. Partidários do alcaide ensaiaram um movimento queremista intitulado “Volta, Agra”, com direito a faixas e cartazes em eventos públicos dos quais o prefeito participou. Transferiu-se para o povo a iniciativa da pressão ‘voluntária’ para que ele não desistisse do seu sonho acalentado entre quatro paredes. O vai e vem dos passos do prefeito acabou prejudicando o deslanche da candidatura de Estelizabel Bezerra e incentivando a desagregação nas hostes ricardistas. Ainda agora, o vereador Ubiratan Pereira se expõe ao afirmar que Estela não agrega nem motiva a militância girassol. O edil não avança ao ponto de bradar que Luciano seja devolvido ao páreo (se é que alguma vez ele chegou a ser cogitado), mas externa solidariedade ao prefeito diante de ataques que tem sofrido por conta da sua ação administrativa.

Numa entrevista, Agra repetiu, pela enésima vez, que vai cuidar de administrar a cidade nos meses de mandato que lhe restam. Fala da sua disposição de toureiro para trabalhar em favor da população, graças ao método espartano que incorporou à sua rotina. Acorda cedo, faz exercícios físicos, não bebe, não fuma. Em resumo: é um homem vacinado contra vícios e impregnado apenas do espírito público, da vontade de realizar pela capital que lhe ungiu Cidadão. É o que se extrai, ao cabo de uma leitura minuciosa das entrelinhas do pronunciamento de Agra, em que não falta uma pitada de cabonitismo, quando ele fala da grande receptividade que as ações administrativas estariam despertando na sociedade, recuperando, por assim dizer, a autoestima do pessoense.

Não vai colocar a máquina oficial na campanha. Isto é o correto, além de se tratar de uma imposição da legislação, que sujeita gestores públicos a penas caso desrespeitem esse princípio. Até aí, não houve nenhuma novidade. O prefeito demonstra seu lado legalista e precavido. Não lhe convém, a esta altura dos acontecimentos, atrair para si problemas com a Justiça, além das pendências de cunho administrativo que têm frequentado páginas de jornais e espaços em portais noticiosos. Até prova em contrário, Agra rendeu-se às evidências no sentido de se engajar à campanha de Estelizabel, pelo menos externando de público seu apoio a ela e, se a agenda permitir, prestigiando atos públicos. A recomendação expressa da executiva nacional não deixa margem a dúvidas: a grande batalha a ser empreendida é em favor da construção da unidade nas hostes socialistas. Como filiado, o prefeito deve rezar por essa cartilha. E, contrito, poderá ser visto em palanques, acenando para a multidão, sentindo-se como se estivesse sendo plebiscitado. Nas ruas. Nas urnas, não.