As condições físicas e higiênico-sanitárias de mais de 60 abatedouros da Paraíba proporcionam riscos à qualidade da carne e à saúde dos funcionários dos abatedouros e da população que consome os produtos provenientes desses estabelecimentos, segundo aponta uma pesquisa realizada campus Patos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
De acordo com Thais Feitosa, que é professora do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) de Sousa e co-orientadora do projeto de pesquisa, o estudo teve como objetivo avaliar as condições físicas e higiênico-sanitárias dos principais abatedouros da Paraíba. Ao todo, 66 estabelecimentos foram visitados em 65 municípios, sendo as principais e mais populosas cidades de cada região do estado.
Em 65,2% foi observado a ausência do médico veterinário durante os procedimentos de abate. A maioria dos estabelecimentos, localizados em Zona Urbana, estavam com os pisos e revestimento das paredes em péssimo estado de conservação. Além disso, em nenhum abatedouro foi observada a utilização de todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) recomendados para os manipuladores de alimentos.
Ainda segundo a pesquisa, 68,1% dos abatedouros visitados estavam em péssimas condições de higiene e as práticas de abate humanitário não ocorriam em 86,4% dos estabelecimentos em que há abatimento dos bovinos.
Material e métodos utilizados para a pesquisa
Para a escolha dos abatedouros a serem visitados, foram selecionadas as três cidades mais populosas de cada microrregião da Paraíba. Quando alguma dessas cidades não apresentava abatedouro em funcionamento, visitava-se a quarta cidade mais populosa e assim consecutivamente.
Segundo os pesquisadores, as visitas foram realizadas sem aviso prévio, durante as operações de matança, entre os meses de agosto e dezembro de 2014. Eram aptos a serem visitados apenas aqueles abatedouros que possuíssem no mínimo um responsável técnico. Foram aplicados aos responsáveis um questionário para a classificação física, higiênica e sanitária dos locais. Todos os itens foram igualmente avaliados em todos os estabelecimentos.
Análise estatística
Os dados obtidos foram tabelados e analisados por meio da estatística descritiva, considerando os critérios de conformidade ou não com a legislação. Dentre os abatedouros visitados, 58 (87,8%) pertenciam ao poder público e oito (12,2%) ao privado e 98,4% não apresentavam Serviço de Inspeção Municipal.
A comercialização de produtos entre municípios circunvizinhos foi observada em 17 (27,5%) abatedouros, caracterizando-se em uma prática ilegal, pois, segundo a pesquisa, a comercialização intermunicipal é autorizada apenas para abatedouros que apresentem, no mínimo o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) ou que tenham aderido ao Sistema Brasileiro de Inspeção (SISBI) que concede uma permissão para comercialização intermunicipal e interestadual.
Ainda segundo a pesquisa, a apresentação do Guia de Trânsito Animal (GTA) não é exigida em 56,1% dos abatedouros visitados na Paraíba. Isso interfere no acesso de informações que não deveriam ser negligenciadas, como a origem dos animais, vacinações e outras condições sanitárias.
Em 34,9% dos abatedouros visitados havia a presença de crianças trabalhando e a maioria delas relataram que deixaram de frequentar a escola. De acordo com a Legislação Federal, esta forma de trabalho está na lista das piores formas de trabalho infantil.
Todos os abatedouros possuíam currais de matança, porém, os pisos impermeabilizados, que são importantes para facilitar a limpeza e desinfecção do ambiente, existiam em apenas 50%. Além disso, não apresentavam nenhuma segurança para os funcionários na hora da matança, sendo comum acidentes de trabalho por falta de estrutura adequada nos locais de atordoamento.
Os resultados da pesquisa fazem parte de um estudo realizado por Dayana Firmino de Morais, aluna do Mestrado em Ciência Animal da UFCG de Patos, no Sertão da Paraíba, que começou em 2014 e terminou em 2015, mas só este ano foi publicado na Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, que possui acesso livre. O projeto de pesquisa teve como orientadora a professora Ana Célia Rodrigues Athayde (UFCG) e contou com o apoio do professor Vinícius Longo Ribeiro Vilela (IFPB).
Fonte: G1
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